A balança comercial continua uma incógnita este ano. Manter um bom superávit é essencial para equilibrar as contas externas, já que o Brasil é deficitário nas demais contas que compõem o balanço de pagamentos.
No momento, há dois problemas maiores emperrando o aumento do saldo. O primeiro, a queda nos preços das principais commodities e o refluxo do comércio mundial. O segundo, as dificuldades para se obter financiamento.
Esse quadro fez com que janeiro registrasse o primeiro déficit comercial em muitos anos. Em fevereiro a situação melhorou um pouco. A explicação do IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), para uma aposta na volta dos superávits não é de todo convincente.
Constata ele que nos dez primeiros dias úteis de fevereiro o saldo comercial foi positivo em US$ 690,6 milhões ou US$ 69,6 milhões por dia útil. Em janeiro o déficit total foi de US$ 518 milhões.
A leitura do IEDI é que a crise afeta mais rapidamente as exportações brasileiras (muito baseadas em commodities, cujas cotações tendem a cair mais rapidamente) e menos as importações, compostas, em sua maioria, de produtos manufaturados. Segundo o IEDI, os preços desses produtos demoram mais a cair, porque baseados em contratos de prazo mais longo. Assim, só no vencimento do contrato, os preços poderão cair.
É possível que haja contratos de fornecimento para bens e equipamentos, assim como para fornecimento de peças. Mas não consta que bens de consumo durável sejam objeto de contratos de fornecimento. Mais provável é que a crise mundial tenha provocado uma desova de estoques nos grandes exportadores, que passaram a inundar as demais economias com preços abaixo do custo.
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Mesmo que haja alguma recuperação do saldo comercial, muitas consultorias sólidas estão apostando em um saldo inferior a US$ 10 bilhões - contra US$ 14 bilhões de saldo da pesquisa Focus, do Banco Central.
A projeção da consultoria LCA é de um saldo de US$ 8,3 bilhões para este ano. “É uma estimativa mais pessimista que a do mercado, por conta de demanda menor e preços em queda, não só do petróleo, mas de outros produtos industriais”, disse o economista Francisco de Faria a André Inohara.
O saldo da balança comercial deve cair para US$ 9,5 bilhões em 2009, estima, por sua vez, a economista da Rosemberg Consultores, Fernanda Feil. “A soja sofreu com a queda do preço e agora tem se recuperado, mas mesmo assim deve ficar em patamar mais baixo que o do ano passado”, exemplifica. É importante notar que, desde dezembro, praticamente todas as commodities brasileiras vêm registrando melhora nas cotações.
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O segundo ponto a emperrar as exportações é a escassez de linhas de financiamento, como os ACC (adiantamento de contratos de câmbio). As linhas externas, oferecidas por bancos internacionais, praticamente secaram, em função da falta de liquidez dessas instituições. “Apesar da atuação do BC para prover crédito aos exportadores, é obvio que ele não consegue fazer o papel do mercado privado”, disse Fernanda Feil, da Rosemberg, sobre as medidas adotadas pelo governo para injetar liquidez no sistema.
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