Considero balela essa história dos 1500 professores que tiraram nota zero nas provas da Secretaria da Educação para selecionar substitutos.
Estatisticamente é impossível por várias razões óbvias:
1.Não sei a quantidade de questões, algum de vocês poderia mandar o link da prova. O que digo é estatisticamente impossível 1500 professores não saberem a resposta certa de sequer uma questão. É impossível, a não ser que as questões não tivessem um ponto de contato sequer com o currículo dos professores.
2.Mesmo não sabendo, seria muito difícil que, no chutômetro, 1500 professores tivessem errado todas as questões.
Então é bastante provável que a Secretaria da Educação, Maria Helena, esteja faltando com a verdade ao insistir nesses dados – e os jornais repetirem.
Agora os que são contra o exame têm apresentado argumentos no mínimo inconsistentes. Outro dia li um artigo da presidente da APEOSP falando em boicote dos professores (o que explicaria a tal epidemia de notas zeros) e em prova mal feita. Aí dá discussão da boa.
Mas na Folha de hoje, o artigo da professora Ângela Soligo, contra os sistemas de avaliação expõe argumentos que apenas servem para depreciar a luta dos professores.
Diz dela, entre outras coisas:Esses processos avaliativos baseiam-se em instrumentos padronizados, inspirados na ideia de meritocracia: padronização na desigualdade -provas iguais para realidades e condições de aprendizagem e de existência desiguais.
Por tudo o que conheço das formas de utilização das avaliações, procura-se comparar escolas de realidades homogêneas. E, especialmente, comparar a escola consigo mesmo, premiando as que experimentaram avanços, ainda que sobre um base baixa.
(…) Mas a experiência mostra que os professores mais bem avaliados escolhem as escolas com as melhores condições de trabalho, o que só contribui para ampliar o abismo educacional e social que marca o nosso Estado.
Ora, existem os professores mais bem avaliados, os menos bem avaliados e os sem condição de dar aula. Se houver seleção adequada, todos ganham, mesmo que as escolas com melhores condições de trabalho sejam mais beneficiadas.
Não defendo aqui que não se avalie, mas me contraponho a esse processo avaliativo. É possível pensar em outros mecanismos de avaliação: pelos pares, pelos alunos, pelos produtos do processo de ensino-aprendizagem, que representam perspectiva mais democrática e realista, pois levam em conta os sujeitos do processo e as condições de produção.
Processos de avaliação precisam ser objetivos, técnicos. Não existe democracia em processo de avaliação. A democracia, nas escolas, deve se manifestar na atuação das associações de pais e alunos batalhando por melhor ensino, ou junto com os professores contra o Estado, ou pressionando os professores.
Mas há outros pontos a considerar.
O primeiro deles é o princípio meritocrático, que “enche a boca” de políticos, estudiosos, curiosos etc. A questão do mérito não pode ser desvinculada das condições de produção do sujeito e suas competências. Não se pode de fato falar de mérito em condições tão desiguais de existência, seja de alunos, seja de professores.
Mas, claro. Sem medir, como vai se chegar ao diagnóstico adequado. É evidente que os sistemas de avaliação devem vir acompanhados de uma retaguarda para o professor. Não entendi o que a professora quis dizer sobre as condições do mérito não serem desvinculadas das competências do professor. Presumo que um sistema de avaliação de um professor avalia a sua capacidade de dar aula e ensinar. Ou não?
Na desigualdade profunda que nos marca, no máximo podemos falar em mérito relativo, o que torna os instrumentos de avaliação -as provas- um fraco indicador de qualidade.
É sofisma. Se se comparam escolas de uma mesma região entre si, ou se a avaliação é sobre o avanço relativo de cada escola, o argumento não procede.
(…) Ora, os discursos oficiais, que colocam na competência do professor e nos cursos de capacitação toda a responsabilidade pela melhoria da educação, vêem reforçada nesses dados sua tese de que, para que a educação “ande nos trilhos”, basta o esforço do professor e a liderança do gestor.
Não é isso o que ocorre. Quando os indicadores são ruins, o Secretário é o primeiro a ser crucificado, e com justiça. Vice caso Chalita.
Mas será isso mesmo? Será que podemos esperar que a educação melhore se promovermos cada vez mais processos avaliativos e classificatórios que somente apontam culpados, mas não levam a efetivas mudanças nas condições educacionais?
Para poder melhor tem que medir a avaliar. Senão, jamais se saberá se melhorou ou não.
Podemos esperar um professor altamente qualificado com os baixos salários praticados no Estado, a carga horária desumana, as salas de aula superlotadas, as escolas sucateadas, as bibliotecas empobrecidas ou trancadas, os processos de exclusão da cultura do aluno e de sua família?
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