Existem no Brasil 45 moedas sociais em circulação, segundo o Ministério do Trabalho. Além de aumentar o poder de compra das comunidades, essas moedas são instrumentos de combate à crise.
A reportagem é de Hugo Cilo e Luciana de Oliveira e publicada pelo Isto é Dinheiro, edição 22-07-2009.
Os 20 mil moradores do Jardim Apuanã, periferia da zona norte de São Paulo, não convivem com transporte público de qualidade, infraestrutura adequada ou segurança. A renda familiar é de três salários mínimos, menos da metade da média mensal das famílias paulistanas. É um bairro carente e enfrenta todos os problemas típicos de outros lugares no País com esse perfil socioeconômico. Mas existe ali uma peculiaridade, que deverá fazer toda a diferença para a economia daquela região. Meses atrás, a comunidade inaugurou um banco próprio e, desde a semana passada, também há uma moeda local, que circula em paralelo ao real. Ambos levam o nome do bairro.
À primeira vista, a ideia despertou dúvidas. Afinal, o que muda com uma nova moeda em circulação? Na ponta do lápis, a resposta está no aumento do poder de compra. Um apuanã vale, em tese, um real. Mas, na prática, poderá valer mais que o real. Isso porque um acordo dos comerciantes locais com o Banco Apuanã – instituição que pertence à comunidade, mas é mantida com recursos do Instituto Palmas e do governo federal – permitirá descontos de 5% a 20% para quem utilizar a moeda local. “Ninguém mais passa sufoco. Quando o salário acabar, basta procurar o banco para solicitar empréstimo de até 200 apuanãs. Dá para comer, comprar o gás, pagar as contas”, detalhou Maria Hilda dos Santos Pires, gerente do banco e moradora do maior conjunto habitacional do bairro. “Assim, ninguém deixa de comprar, o comércio não deixa de vender”, completou ela, ao destacar que não há avaliação rigorosa de crédito. Estes empréstimos valem por 90 dias, não embutem juros e, em caso de atraso, a dívida pode ser renegociada sem custos extras.
O modelo de economia social lançado no Jardim Apuanã começa a ganhar popularidade em diversas áreas carentes de todo o País. Só na capital paulista, além do apuanã, existem outras três moedas sociais: vista linda (Jardim Donária, na zona oeste), autogestão (Jardim São Luiz, na zona sul) e Paulo Freire (Inácio Monteiro, na zona leste).
Em várias regiões do País, o conceito de moeda social já está bem difundido. O Banco Palmas, que fica no Ceará, é o precursor dos bancos comunitários no Brasil e completou uma década no ano passado. Junto com o real, por lá circulam as moedas “sabia” e “serra”. No Espírito Santo, há “terras” e “bens”. Segundo a Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, existem hoje 45 moedas paralelas em circulação no Brasil. A proposta não é substituir o real. Antes de colocar em circulação uma nova moeda, um banco comunitário precisa ter lastro em moeda oficial, no caso o real.
Ou seja, para cada moeda paralela na praça, é necessário ter o valor correspondente em reais. “As moedas sociais, trocadas em bancos comunitários, são formas de auto-ajuda de pessoas necessitadas, sem depender de programas de assistência social. Isso é muito significativo”, disse o secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, Paul Singer.
Enquanto o governo se esforça para estimular o reaquecimento econômico com o aumento da oferta de crédito, as iniciativas de criação de moedas sociais têm se mostrado um instrumento eficaz e criativo para promover o desenvolvimento econômico e o consumo de comunidades. E, de quebra, ajudar no combate à crise.
Existem no Brasil 45 moedas sociais em circulação, segundo o Ministério do Trabalho. Além de aumentar o poder de compra das comunidades, essas moedas – de nomes curisosos – são instrumentos de combate à crise.
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