Pesquisadores franceses e alemães estão extraindo de forma experimental, nas florestas de Kutzenhausen, na Alsácia, uma nova fonte de energia limpa e renovável capaz de gerar eletricidade. A energia geotérmica de rochas profundas consiste na extração de calor de reservas de água, aquecidas a 200°C no subsolo - a 5 mil metros de profundidade -, para movimentar turbinas que produzirão energia elétrica.
A reportagem é de Andrei Netto e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 01-09-2008.
O método é semelhante ao usado pela geotérmica vulcânica, mas mais abrangente, já que possibilitaria a geração de energia elétrica abundante, em tese, em qualquer lugar do planeta. A primeira central está instalada na região de Soultz-sous-Forêt, a 50 quilômetros de Estrasburgo, na fronteira entre a França e a Alemanha, e produz desde junho 1,5 megawatt de energia, um quarto de sua capacidade instalada.
Os 80 milhões investidos na fase experimental são financiados pela União Européia e pelos governos dos dois países. A estratégia da UE, com apoio da Agência Internacional de Energia, ganhou importância após o acordo de Kyoto, em 1997, com a meta de 20% de energia de fontes renováveis até 2020. A pesquisa de campo fica a cargo de engenheiros e geólogos da gigante de energia EDF e do Escritório de Pesquisas Geológicas e Mineiras (BRGM), ambos franceses, além de outros 13 laboratórios de pesquisa da Europa.
O trabalho dos engenheiros é criar gêiseres - fonte termal que lança ao ar, em erupções regulares, jatos de água em alta temperatura - artificiais, por meio de injeções de água em falhas geológicas de rochas aquecidas. Na Alsácia, essas perfurações - três no total, duas para injeção (cada uma com capacidade para 50 litros de água por segundo) e uma para erupção (com capacidade de 100 litros por segundo) - chegam a 5 mil metros de profundidade. Com isso, a água aquecida chega à superfície a 163°C, suficiente para alimentar as duas turbinas, cada uma com 25 megawatts.
FONTE LIMPA E RENOVÁVEL
O método garante produção de eletricidade de uma fonte limpa e renovável, já que as camadas rochosas do subsolo são reaquecidas pelos fluxos térmicos da Terra. E as perspectivas são estimulantes, por duas razões: a tecnologia permite, ao mesmo tempo, escavar em profundidades cada vez maiores - cálculos indicam que a 40 quilômetros de profundidade será possível aquecer água a 1.000°C - e, com turbinas mais eficientes, extrair mais energia de baixas temperaturas. Há 18 anos, quando as primeiras pesquisas foram realizadas, era preciso aquecer água a 200°C para gerar energia, enquanto hoje o nível mínimo é de 130°C.
“Com a procura de investidores, verificada desde a inauguração da central, imagino que o sucesso comercial da energia geotérmica de rochas profundas já possa ser alcançado em 20 anos”, disse ao Estado o geólogo Albert Gender, coordenador científico do projeto. “Em curto e médio prazos, não teremos geração nos preços da energia nuclear, por exemplo. Mas em longo prazo será possível.”
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