"Ainda que o futuro possa lhe reservar algum tipo de constrangimento, o governo só tem a comemorar com a escandalização do uso de escutas telefônicas", escreve Melchiades Filho, jornalista, no jornal Folha de S. Paulo, 05-09-2008.
Eis o comentário.
Confira o que de concreto ocorreu desde o começo das denúncias de desrespeito às liberdades individuais e das reações indignadas:
1) Foi escanteado o delegado que pretendeu investigar os negócios de Daniel Dantas, as relações íntimas do empresário com o Planalto e o acordo de indenização que permitiu ao governo levar adiante a idéia de criar a supertele nacional.
2) A Polícia Federal repaginou a Operação Satiagraha. Fechou foco nos indícios de fraude financeira do Banco Opportunity e esqueceu outras ambições do inquérito original, como tráfico de influência e a fusão da Brasil Telecom com a Oi.
3) Dantas e seus principais assessores saíram da prisão. Não têm mais motivos para abrir a boca.
4) Lula conseguiu nomear o quinto conselheiro da Anatel para dar o voto de minerva em favor da BrOi.
5) Foi afastado o diretor que construiu a "PF republicana", aplaudida por não discriminar investigados -o que possibilitou que o irmão do presidente caísse num grampo pedindo "dois pau pra eu".
6) A pretexto de impedir exageros de arapongagem, a PF recebeu ordens para tratorar a corporação e centralizar a inteligência. A apuração do dossiê produzido na Casa Civil contra FHC foi abandonada.
7) Um ex-funcionário de Dantas assumiu o comando da Abin.
Resumo: o Planalto não só preservou a negociação (e os negociadores) da BrOi como diminuiu a possibilidade de voltar a ser incomodado por escutas telefônicas.
Judiciário, Legislativo e sociedade civil exigiram o direito à privacidade. Com a degola de Lacerda e Protógenes, Lula garantiu o dele.
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