Por paulo
Pesquisa industrial
17/7/2009
Por Thiago Romero, de Manaus
Agência FAPESP – O Brasil tem duas opções quando o assunto é fazer com que o conhecimento acadêmico dê origem a produtos e processos que gerem riqueza ao país e benefícios à sociedade: gastar bilhões em estudos científicos sem grandes resultados concretos ou criar e executar programas em que a pesquisa seja o instrumento do desenvolvimento e a ferramenta da competitividade empresarial.
A afirmação, de Fernando Galembeck, professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi feita durante a 61ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Manaus, na mesa-redonda “A pesquisa científica e a indústria”.
“Temos hoje, no Brasil, oportunidades enormes para inovar e transferir conhecimento da academia para o setor produtivo, a começar pelo papel de liderança que o país tem atualmente na transição global para a era do pós-petróleo, que será em grande parte substituído pela biomassa”, disse.
Galembeck destacou que os produtos e processos industriais de maior rentabilidade atualmente no mercado são, geralmente, os mais novos. E os produtos mais novos são, na maioria das vezes, justamente aqueles com mais aporte recente de conhecimento.
“Podemos dizer que o interesse dos empresários e dos pesquisadores por aquilo que é novo é convergente. E é aí que entra o papel do Estado em fazer com que as ideias prosperem quando elas forem novas e positivas para o público e que sejam suprimidas quando forem negativas para a sociedade”, afirmou.
Para demonstrar que o Brasil tem grande capacidade de transformar conhecimento em riqueza, citou o exemplo do setor dos biocombustíveis e o da indústria química nacional, esta última com faturamento de US$ 140 bilhões em 2008.
“O Brasil vive um momento sem precedentes [na área energética]. Com as recentes descobertas no pré-sal está caminhando para se tornar um dos maiores produtores de petróleo do mundo e também é um dos principais produtores das alternativas ao combustível fóssil. O Brasil é um atacante que chuta com a direita e com a esquerda”, brincou.
No caso específico do etanol no Sudeste do país e suas mais de quatro décadas de pesquisa, uma boa referência para atestar essa liderança impulsionada pelo conhecimento é o fato de que, em 1970, todo o açúcar e álcool produzido no Estado de São Paulo eram provenientes de uma única variedade de cana-de-açúcar, conhecida como NA e originária do norte da Argentina.
“Mais recentemente, na última safra, foram plantadas canas de, pelo menos, 250 variedades distintas no Estado, que hoje tem um estoque de mais de 500 variedades. E o estoque de variedades de eucalipto do Brasil – também com mais de 500 tipos – é maior que o da Austrália”, apontou.
Proteção intelectual
O setor químico no Brasil, segundo Galembeck, produz e exporta tecnologias, gera patentes, opera em redes e emprega doutores, a exemplo de grandes empresas privadas de sucesso que têm na pesquisa científica o ponto de partida de seus negócios, como Braskem, Orbys, Oxiteno, Aché e Bunge.
“Na Oxiteno, por exemplo, 54% da produção atual provém de projetos recentes de pesquisa e desenvolvimento. Ou seja, se não tivesse pesquisa, não existiria faturamento”, destacou.
O professor da Unicamp chamou a atenção ainda para a falta de interesse dos estudantes universitários brasileiros, de modo geral, com relação à aquisição de informações relacionadas aos direitos de propriedade intelectual.
“Do Oiapoque ao Chuí, com paradas no Rio de Janeiro e em São Paulo, os estudantes, que vão se tornar pesquisadores inovadores e interagir com a indústria, leem dezenas de livros, fazem cursos e escrevem artigos científicos, mas não leem patentes, matéria que só aparece nos currículos das faculdades de direito”, apontou.
E nessa linha de raciocínio, segundo Galembeck, os cientistas brasileiros também têm duas opções: descobrir algo, escrever um artigo e ser reconhecido pela comunidade científica e pela imprensa ou, então, inventar algo e transformá-lo em um negócio.
“Será que antes de publicar em revista científica os pesquisadores não deveriam pensar em depositar uma patente e proteger sua invenção?”, indagou.
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