O desemprego americano está produzindo um efeito muito além das fronteiras dos próprios EUA e contribuirá, neste ano, para uma queda maior do que a esperada na quantidade de dinheiro que os trabalhadores migrantes mandam para casa, disse ontem o Banco Mundial.
A reportagem é de Tom Braithwaite e publicada no jornal Financial Times e reproduzida pelo jornal Valor, 14-07-2009.
A instituição financeira internacional disse que os fluxos mundiais de remessas de dinheiro para os países em desenvolvimento deverá cair de 7 % a 10 %, neste ano, mais do que uma estimativa anterior que previa declínio de 5% a 8%. Os fluxos de remessas, no ano passado, cresceram 15%, de US$ 285 bilhões em 2007 para US$ 328 bilhões, superando as estimativas.
Câmbios instáveis e uma intensificação nas políticas de comércio protecionistas poderão estrangular as remessas de dinheiro mais do que esperado, advertiu o Banco Mundial, sendo que o Reino Unido e a Rússia são os países em que é mais forte "o ânimo anti-imigração".
Mas são o desaquecimento econômico mundial e a taxa de desemprego de 9,5% nos EUA (a mais economia do mundo) estão produzindo o impacto mais significativo, fazendo com que os imigrantes que trabalham no país mandem menos dinheiro para suas famílias em toda a América Latina e o Caribe.
No México, as remessas de dinheiro neste ano caíram cerca de 11%, uma queda ao menos em parte atribuída ao desaquecimento no setor de construção civil americano -, tradicionalmente uma considerável fonte de emprego para migrantes mexicanos.
Dilip Ratha, economista sênior do Banco Mundial, disse que os números são "resilientes", apesar do declínio, e mesmo assim deverão suplantar o desempenho dos fluxos de capital privado para os países em desenvolvimento. Mas para ele, a queda "poderá criar substanciais dificuldades para as populações e governos [dos países beneficiários], especialmente aqueles sujeitos a déficits de financiamento externo".
O cenário mundial não é uniforme, tendo as remessas para a China e Filipinas crescido fortemente no ano passado, e as previsões são de que permanecerão em território positivo neste ano, apesar da depressão nas economias desenvolvidas em todo o mundo.
O Banco Mundial, porém, admitiu ser possível estar havendo algumas instâncias de "remessas inversas", casos em que migrantes desempregados que vivem em países desenvolvidos recebem apoio financeiro de suas famílias residentes nos países de origem. Mas o Banco acrescentou que o número desses casos é "muito provavelmente minúsculo e parece em declínio".
A Índia é o maior destinatário de remessas de dinheiro, totalizando estimados US$ 52 bilhões em 2008, seguida pela China com US$ 40,6 bilhões e o México com US$ 26,3 bilhões. Mas como percentual do Produto Interno Bruto (PIB), o Tadjiquistão continua sendo o país mais dependente de remessas do exterior - elas representaram 46% do PIB em 2007.
O Tadjiquistão e outros países da Ásia Central viram a queda nas remessas da Rússia agravadas pela desvalorização do rublo. Apesar disso, o Banco Mundial ofereceu um registro otimista, destacando que uma recuperação no preço do petróleo poderá aquecer a demanda por trabalhadores migrantes na Rússia.
Na América Latina - apesar da forte queda prevista para este ano - o Banco Mundial disse haver "sinais incipientes de uma emergência do fundo do poço", com uma estabilização do mercado de trabalho para imigrantes nos setores americanos de indústria de transformação e de serviços.
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