Dois mil prisioneiros talibãs foram mortos e sepultados em valas comuns em 2001 pelos homens de um senhor da guerra financiado pelos EUA. Bush e Cheney esconderam tudo. Barack Obama anunciou a abertura de uma investigação sobre o episódio.
A reportagem é de Alberto Flores D'Arcais, publicada no jornal La Repubblica, 14-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em novembro de 2001, poucos dias depois da conquista de Kabul, mais de mil prisioneiros talibãs foram mortos pelos homens de Abdul Rashid Dostum, senhor da guerra financiado pelos norte-americanos.
É uma das páginas mais sombrias da guerra no Afeganistão, e Barack Obama decidiu que chegou o momento de iluminar totalmente essa história. Foi o próprio presidente que anunciou a decisão, durante uma entrevista para a CNN gravada em Gana e exibida nesta segunda-feira: "Fui informado de que não se investigou como deveria ter sido. Por isso, pedi à minha equipe de segurança nacional que reúna todos os fatos. Quando os conheçamos, tomaremos uma decisão sobre como enfrentar o caso".
Não se sabe o número exato dos mortos, seguramente mais de mil, mas também poderiam ser 1.500 ou dois mil. Foram presos. Foram fechados em áreas militares sigilosas por dois dias. Muitos deles morreram sufocados, centenas foram mortos com armas de fogo, alguns com armas brancas. Dostum deu a ordem de enterrá-los em valas comuns, os corpos empilhados usando uma retroescavadeira.
Em 2002, funcionários das Nações Unidas haviam descoberto algumas dessas valas no norte do país próximo a Shibergan, cidade natal e quartel general de Dostum. A ONU havia aberto uma investigação, e norte-americanos também havia começado a questionar. Agentes especializados do FBI haviam chegado ao local, além de homens do Departamento de Estado, médicos da Cruz Vermelha. Mas a Casa Branca de Bush desencorajou abertamente essas investigações. A imagem do novo Afeganistão "livre e democrático" sairia enfraquecida. E as investigações, afirma hoje a Casa Branca, "foram insuficientes".
"Acredito que as nações têm responsabilidades, também em tempos de guerra. Se apoiamos violações das leis de guerra com a nossa conduta, penso que devemos ficar sabendo". Os soldados dos EUA estão empenhados em uma grande ofensiva contra o Talibã, e Obama, que quis essa ofensiva, quer esclarecer que, desta vez, os marines e as outras repartições norte-americanas combaterão uma guerra correta. Não foram eles que cometeram o massacre de 2001, mas Dostum era "pago pela CIA" (escreve o New York Times), e os outros norte-americanos não podiam não saber do que havia ocorrido. Também o agora comandante das tropas norte-americanas, o general Tommy Franks, era a favor de uma investigação, mas encontrou um obstáculo nos políticos da administração Bush.
Obama, na realidade, gostaria de "olhar para frente", evitar processos sobre a administração anterior, mas agora é mais difícil. Na imprensa norte-americana, continuam as revelações sobre o plano "top secret" da CIA, que o Congresso vinha mantendo escondido por "ordem" do ex-vice-presidente Dick Cheney, plano que o novo diretor da Central Intelligence Agency, Leon Panetta, anulou no dia 23 de junho.
Segundo o Wall Street Journal, o programa teria autorizado os agentes da CIA a assassinar os líderes da Al Qaeda em operações endereçadas, de um só agente infiltrado, de um assassino pago. A lei americana proíbe o uso do assassinato político, mas, na interpretação da Casa Branca de Bush – que havia declarado guerra aos terroristas da Al Qaeda – o assassinato de Bin Laden
Porém, Bush e os seus também se davam conta de que, se esse projeto se tornasse público, criaria muitos problemas legais para a Casa Branca e a CIA, por isso a ordem aos chefes da Central Intelligence Agency que não informassem o Congresso. Na realidade, o programa nunca foi executivo, permanecendo no estágio de projeto. Só o fato de que tenha existido desencadeou porém uma batalha política, com os liberais democratas na primeira linha da busca pelo acerto de contas com a administração passada, e os moderados que gostariam de evitar o choque frontal com os republicanos.
Do quartel general de Langley, os homens da CIA têm as bocas lacradas. "No comment" é a resposta seca do porta-voz George Little. Os únicos que falaram foram os agentes "anônimos", que conversaram com o Wall Street Journal: "Parecia uma cena de filme. Era tipo: matemos todos". e dos seus oficiais não teria feito parte dessa casuística, e o próprio Bush havia dito "prenderemos Osama vivo ou morto".
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