O mercado formal de trabalho encerrou junho com recuperação de metade das vagas fechadas entre novembro e janeiro, quando foram cortados no país 797,5 mil postos com carteira assinada - a fase mais crítica para o mercado de trabalho a partir do agravamento da crise externa. No período de fevereiro a junho foram criados 401,3 mil novas vagas no país, garantindo a recuperação de 50,3% do total de postos fechados na virada de 2008 para 2009. Economistas preveem recuperação mais significativa do emprego no terceiro trimestre, período em que indústria e varejo iniciam os preparativos para o Natal. Mas ainda há dúvidas se essa melhora será suficiente para recompor as perdas remanescentes da crise.
A reportagem é de Cibelle Bouças e publicada pelo jornal Valor, 17-07-2009.
No acumulado de novembro a junho, o saldo ficou negativo em 396,3 mil vagas, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego. Nesse intervalo, apenas três setores registram recuperação total dos postos de trabalho. O setor de serviços foi o que apresentou maior geração de postos nesse período, com saldo positivo de 157,7 mil novas vagas, seguido pelo comércio (com geração de 29,8 mil postos) e serviços industriais de utilidade pública (1,7 mil postos). Os setores de construção e agropecuário apresentaram recuperação parcial das perdas, enquanto a indústria da transformação e a indústria extrativa tiveram o quadro de demissões agravado.
O pior resultado foi da indústria de transformação, que chegou em junho com 498,5 mil vagas fechadas - no período de novembro a janeiro, o fechamento de vagas era menor, de 409,2 mil postos. Dos 12 subsetores que compõem a indústria de transformação, apenas três apresentaram uma recuperação parcial das perdas - alimentos, bebidas e álcool etílico, com recuperação de 24,5% das perdas totais; calçados, com reabertura de 17,6% dos postos fechados; e borracha, fumo e couros, com recuperação de 38,6% das vagas fechadas entre novembro e janeiro.
Nos subsetores de metalurgia, mecânica, material elétrico e de comunicações, material de transportes, madeira e mobiliário, o ajuste do número de empregados ao menor ritmo de produção prosseguiu até junho, sendo que em metalurgia e mecânica o número de postos fechados dobrou . "A continuação desse processo de ajuste era prevista, mas na comparação mensal nota-se uma recuperação, o que é positivo", avaliou a analista da Tendências Consultoria Integrada, Ariadne Vitoriano, referindo-se aos saldos positivos da indústria de transformação registrados em abril (183), maio (700) e junho (2.001).
O economista da LCA Consultores Fábio Romão observou que os subsetores industriais com produção voltada principalmente ao mercado interno apresentaram recuperação mais significativa. A demanda interna mais aquecida que a externa também garantiu recuperação parcial do emprego formal na construção e em serviços. De novembro a junho, o setor acumulou saldo negativo de 25,8 mil postos, com recuperação de 27,5% das perdas ocorridas entre novembro e janeiro. Na agropecuária, houve fechamento de 112,5 mil postos ao longo dos oito meses analisados, com recuperação de 57,1% das perdas acumuladas nos três primeiros meses da série.
"O melhor desempenho no período foi do setor de serviços, que também se manteve aquecido, acompanhando a demanda interna", afirmou Romão. Ele observa que 40% das pessoas empregadas no país atuam no setor de serviços e a recuperação dessa área contribuiu para evitar uma queda maior na atividade econômica nos primeiros meses do ano. Para 2009, Romão reviu a projeção de geração de postos formais no país, de 650 mil para 600 mil vagas, por conta da recuperação lenta da indústria e da perspectiva de queda nos resultados da agropecuária. "Em números absolutos, a recuperação do emprego se dará até outubro."
Para Romão, da LCA, Ariadne, da Tendências, e a economista do Banco Fator Silvia Baum Ludmer, a recuperação total dos postos com carteira fechados na fase mais crítica da crise deve ocorrer até outubro, tendo em vista que, a partir de julho, as indústrias reforçam a produção para atender à demanda de Natal. Os três, porém, consideram improvável a criação de um milhão de postos de trabalho até o fim do ano, como afirmou ontem o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, durante a divulgação dos dados do Caged. "O segundo trimestre foi melhor que o primeiro e a tendência é de recuperação mais forte no terceiro trimestre. É possível fechar o ano com saldo positivo, mas não será um ano brilhante", afirmou Silvia, observando que em novembro e dezembro há um corte sazonal próximo a 300 mil postos de trabalho, em função do período de férias coletivas das empresas.
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