O comércio com o continente africano foi, em 2008, dez vezes maior do que no ano 2000.
A reportagem é de Fernando Peinado, publicada no jornal espanhol El País, 15-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A China encontrou na África, no começo do século XXI, o território virgem e promissor que lhe permite saciar sua sede de recursos, da mesma forma que os EUA tiveram o seu "far west" no século XIX, e a Europa, até o século XX, no resto do mundo. Em 2008, o comércio entre China e África alcançou um valor de 76 bilhões de euros, dez vezes maior do que no ano 2000. O número é quatro vezes superior ao total da ajuda oficial ao desenvolvimento que o continente africano recebeu em 2008.
O exótico encontro entre duas civilizações tão afastadas beneficia uma e outra. À China, ele traz as matérias-primas e a energia que a sua voraz energia demanda e, aos africanos, um crescimento econômico sem precedentes desde os anos 60, quando a descolonização se acelerou. Nos últimos cinco anos, a África cresceu em uma média de 5%.
A ofensiva econômica chinesa está substituindo as antigas potências coloniais europeias. Pequim
O modelo chinês entusiasma na região, cansada dos pobres resultados das receitas liberais. Crescem as vozes que defendem uma economia dirigida pelo Estado e, por sua vez, estende-se o desejo dos governantes de se perpetuarem no poder mediante reformas que suprimem os limites do número de mandatos presidenciais. Dirigentes banidos pela comunidade internacional, como Omar al-Bashir (Sudão) ou Robert Mugabe (Zimbábue), encontraram em Pequim o aliado perfeito.
O Ocidente teme um contágio do autoritarismo chinês, e o discurso que Barack Obama fez no sábado em Gana enfatizou a necessidade de que a África siga lutando pela democracia. Há sinais preocupantes. Em uma recente visita oficial ao Parlamento nigeriano, o presidente chinês, Hu Jintao, foi recebido com um discurso em que se qualificava a China como "exemplo de desenvolvimento e democracia".
Além da perda de influência no terreno das ideias, as potências ocidentais estão preocupadas em ficar relegadas na corrida pelas riquezas africanas, à qual outros atores emergentes, como a Índia, o Brasil ou a Rússia, se dirigiram.
A Rússia reaparece no continente depois de tê-lo usado como campo de batalha na Guerra Fria. "Atualmente, mais de 70% dos contratos de obras públicas na África subsaariana são concedidos a companhias chinesas ou indianas", indica Patrick Smith, redator-chefe da Africa Confidential, uma influente publicação britânica sobre a África. "O Ocidente está perdendo esse mercado e não vai poder recuperá-lo porque não podem competir com os preços que as companhias chinesas e de outras potências emergentes oferecem".
A perda de peso da França nos países de fala francesa causou um debate nacional sobre se a antiga metrópole não soube se adaptar com tempo às mudanças no continente. "A maneira de medir a influência de um país na África não pode ser hoje a mesma que há 20 ou 30 anos", explica Roland Marchal, investigador do Ceri/Sciences Po, instituição com sede em Paris.
"Então, tratava-se de uma intervenção colonial, apesar de que esses países já haviam adquirido a independência. A França colocava e retirava presidentes a seu capricho, e suas companhias dominavam com exclusividade no Chade, na Mauritânia ou na Costa do Marfim. Agora, elas se dirigem para onde haja oportunidades de investimento, com independência de que falem a nossa língua, por exemplo, a África do Sul".
Os milionários investimentos chineses estão transformando a paisagem africana. Autoestradas, represas, portos e aeroportos são construídos em muitas ocasiões a pedido de Pequim, que precisa dessas infraestruturas para transportar suas mercadorias. Mas também transformam a paisagem humana com relevantes comunidades chinesas na África do Sul, em Angola, no Sudão ou na Argélia. Calcula-se que já haja na África mais de 750 mil emigrantes chineses, que trabalham em regime de semiescravidão a partir dos parâmetros ocidentais.
Mas, ao mesmo tempo, a presença chinesa está gerando o ressentimento local. "A China está arruinando a indústria têxtil e a economia popular, que eram os motores da região. Só a África do Sul ou o Senegal se protegeram, aumentando tarifas", assegura Mbuyi Kabunda, professor do Instituto Internacional de Direitos Humanos de Estrasburgo. oferece aos governantes africanos uma forma diferente de fazer negócio. Diferentemente da prática de europeus e norte-americanos desde o começo dos anos 90, os investimentos e as ajudas chinesas não estão condicionadas a reformas políticas ou humanitárias. "Você nunca irá ouvir os chineses dizer que não terminarão um projeto porque o governo não fez o suficiente contra a corrupção. Se eles prometem construir uma estrada, eles a farão", disse um porta-voz do governo queniano.
A reportagem é de Fernando Peinado, publicada no jornal espanhol El País, 15-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A China encontrou na África, no começo do século XXI, o território virgem e promissor que lhe permite saciar sua sede de recursos, da mesma forma que os EUA tiveram o seu "far west" no século XIX, e a Europa, até o século XX, no resto do mundo. Em 2008, o comércio entre China e África alcançou um valor de 76 bilhões de euros, dez vezes maior do que no ano 2000. O número é quatro vezes superior ao total da ajuda oficial ao desenvolvimento que o continente africano recebeu em 2008.
O exótico encontro entre duas civilizações tão afastadas beneficia uma e outra. À China, ele traz as matérias-primas e a energia que a sua voraz energia demanda e, aos africanos, um crescimento econômico sem precedentes desde os anos 60, quando a descolonização se acelerou. Nos últimos cinco anos, a África cresceu em uma média de 5%.
A ofensiva econômica chinesa está substituindo as antigas potências coloniais europeias. Pequim
O modelo chinês entusiasma na região, cansada dos pobres resultados das receitas liberais. Crescem as vozes que defendem uma economia dirigida pelo Estado e, por sua vez, estende-se o desejo dos governantes de se perpetuarem no poder mediante reformas que suprimem os limites do número de mandatos presidenciais. Dirigentes banidos pela comunidade internacional, como Omar al-Bashir (Sudão) ou Robert Mugabe (Zimbábue), encontraram em Pequim o aliado perfeito.
O Ocidente teme um contágio do autoritarismo chinês, e o discurso que Barack Obama fez no sábado em Gana enfatizou a necessidade de que a África siga lutando pela democracia. Há sinais preocupantes. Em uma recente visita oficial ao Parlamento nigeriano, o presidente chinês, Hu Jintao, foi recebido com um discurso em que se qualificava a China como "exemplo de desenvolvimento e democracia".
Além da perda de influência no terreno das ideias, as potências ocidentais estão preocupadas em ficar relegadas na corrida pelas riquezas africanas, à qual outros atores emergentes, como a Índia, o Brasil ou a Rússia, se dirigiram.
A Rússia reaparece no continente depois de tê-lo usado como campo de batalha na Guerra Fria. "Atualmente, mais de 70% dos contratos de obras públicas na África subsaariana são concedidos a companhias chinesas ou indianas", indica Patrick Smith, redator-chefe da Africa Confidential, uma influente publicação britânica sobre a África. "O Ocidente está perdendo esse mercado e não vai poder recuperá-lo porque não podem competir com os preços que as companhias chinesas e de outras potências emergentes oferecem".
A perda de peso da França nos países de fala francesa causou um debate nacional sobre se a antiga metrópole não soube se adaptar com tempo às mudanças no continente. "A maneira de medir a influência de um país na África não pode ser hoje a mesma que há 20 ou 30 anos", explica Roland Marchal, investigador do Ceri/Sciences Po, instituição com sede em Paris.
"Então, tratava-se de uma intervenção colonial, apesar de que esses países já haviam adquirido a independência. A França colocava e retirava presidentes a seu capricho, e suas companhias dominavam com exclusividade no Chade, na Mauritânia ou na Costa do Marfim. Agora, elas se dirigem para onde haja oportunidades de investimento, com independência de que falem a nossa língua, por exemplo, a África do Sul".
Os milionários investimentos chineses estão transformando a paisagem africana. Autoestradas, represas, portos e aeroportos são construídos em muitas ocasiões a pedido de Pequim, que precisa dessas infraestruturas para transportar suas mercadorias. Mas também transformam a paisagem humana com relevantes comunidades chinesas na África do Sul, em Angola, no Sudão ou na Argélia. Calcula-se que já haja na África mais de 750 mil emigrantes chineses, que trabalham em regime de semiescravidão a partir dos parâmetros ocidentais.
Mas, ao mesmo tempo, a presença chinesa está gerando o ressentimento local. "A China está arruinando a indústria têxtil e a economia popular, que eram os motores da região. Só a África do Sul ou o Senegal se protegeram, aumentando tarifas", assegura Mbuyi Kabunda, professor do Instituto Internacional de Direitos Humanos de Estrasburgo. oferece aos governantes africanos uma forma diferente de fazer negócio. Diferentemente da prática de europeus e norte-americanos desde o começo dos anos 90, os investimentos e as ajudas chinesas não estão condicionadas a reformas políticas ou humanitárias. "Você nunca irá ouvir os chineses dizer que não terminarão um projeto porque o governo não fez o suficiente contra a corrupção. Se eles prometem construir uma estrada, eles a farão", disse um porta-voz do governo queniano.
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