"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, dezembro 29, 2008

vinhos gay

aijesus.blogspot.com - 28/12/08

Rapinado da revista Wine, nº 27:Vinhos gay[clicar na imagem para ler]

O que o Império Britânico poderia ensinar aos EUA

Le Monde Diplomatique Brasil - Nov 08

No momento em que a influência dos Estados Unidos sobre o resto do mundo parece ameaçada, vale a pena ensair uma comparação entre a o império norte-americano e o que o precedeu. Ela revelará, entre outros pontos, que a Grã-Bretanha teve, em meados do século 20, a sabedoria de perceber que seu poder tinha limites. Os EUA serão capazes do mesmo?

Eric Hobsbawm

Na história recente, apenas duas potências tornaram-se impérios globais: a Grã-Bretanha, do século 18 até a metade do século 20, e os Estados Unidos, desde então. Espanha e Holanda formaram também impérios poderosos, mas sem alcançarem essa dimensão global. Os britânicos, e posteriormente os norte-americanos, distribuíram recursos pelo mundo todo e ostentaram ambições internacionais sustentadas por uma vasta rede de bases militares.

O poder bélico da Grã-Bretanha veio de sua supremacia naval. O dos Estados Unidos, de sua capacidade de destruição por meio de bombardeios. Mas garantir a permanência de um império global requer mais que vitórias militares: exige a capacidade de ordenar e controlar o ambiente ao redor.

A Grã-Bretanha e os Estados Unidos beneficiaram-se de um trunfo suplementar que só podia existir no quadro de uma economia globalizada: ambos dominaram a indústria mundial. Pela importância do seu aparato de produção, essas nações tornaram-se as “oficinas do mundo”. Tanto que, durante os anos 1920 e depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos representavam cerca de 40% da produção industrial mundial. Ainda hoje, essa cifra oscila entre 22% e 25%.

Os dois impérios tornaram-se modelos que os outros países buscavam copiar. Exerceram uma influência cultural desproporcional, especialmente por meio da formidável propagação da língua inglesa. Situados no cruzamento das trocas internacionais, suas decisões orçamentárias, financeiras e comerciais condicionaram o conteúdo, o volume e a destinação desses fluxos.

Para além desses pontos comuns, existem inúmeras diferenças entre as duas nações. A mais evidente diz respeito ao tamanho de cada uma. A Grã-Bretanha é uma ilha, não um continente, e nunca teve fronteiras no sentido norte-americano do termo. Ela fez parte de diversos impérios europeus – na época romana, depois da conquista normanda e, durante um curto período, quando Maria Tudor casou-se com Filipe II da Espanha, em 1554 –, mas nunca foi o centro de um deles. Além disso, toda vez que a Grã-Bretanha produzia um excedente populacional, este emigrava ou fundava colônias, fazendo das ilhas uma fonte importante de emigração.

Os europeus que colonizaram os EUA viam seu território como presente de Deus. É por isso que a Constituição exclui explicitamente os índios do corpo político formado por aqueles que se beneficiariam do “direito natural aos bens da liberdade”

Ao contrário disso, os Estados Unidos são essencialmente uma terra de acolhimento, que preencheu seus imensos espaços graças ao aumento populacional e a importantes ondas de imigração, principalmente vindas da Europa Ocidental, até 1880. Junto com a Rússia, foi o único império a não experimentar uma diáspora.

O império americano é o produto lógico de sua expansão, baseada numa identificação quase total entre país e continente. Para os imigrantes europeus, habituados a densidades populacionais relativamente elevadas, os espaços norte-americanos devem ter parecido ao mesmo tempo infinitos e desertos. Impressão reforçada pela destruição quase total das populações locais por doenças que os colonos espalhavam, voluntariamente ou não. A certeza que o europeu tinha sobre o fato de essa terra ser uma dádiva de Deus o fazia eliminar os nômades para impor seu sistema econômico e sua agricultura intensiva. É por isso que a Constituição norte-americana exclui explicitamente os índios do corpo político formado por aqueles que se beneficiariam do “direito natural aos bens da liberdade”.

Os Estados Unidos nunca se viram como parte de um sistema internacional formado por nações de poderes comparáveis, o que configura outra diferença com relação à Grã-Bretanha e à Europa em geral. A noção de colônia era igualmente incompatível com essa visão, já que a totalidade do continente norte-americano, aí incluso o Canadá, deveria acabar transformando-se em um único país.

É por isso que a hegemonia norte-americana, para além do seu território-continente, não poderia tomar a forma do império colonial britânico nem da Commonwealth. Com exceção do Havaí, os Estados Unidos nunca procuraram realmente incorporar regiões que já estivessem povoadas ou que não houvessem sido colonizadas por anglo-saxões, como Porto Rico, Cuba e as ilhas do Pacífico.

Não tendo jamais enviado colonos ao redor do mundo, os EUA não poderiam fazer surgir os dominions, essas “colônias brancas” com ou sem populações nativas que conquistaram progressivamente sua autonomia, como o Canadá, a Austrália, a Nova Zelândia ou a África do Sul. Além disso, desde a guerra civil e a vitória do norte, toda secessão da União se tornou impensável no plano legal, político e até mesmo ideológico. Assim, o poder norte-americano só poderia exprimir-se para além das suas fronteiras na forma de um sistema de Estados satélites ou vassalos.

Os EUA nasceram de uma revolução muito duradoura. Alexis de Tocqueville já havia compreendido que a orientação política de um empreendimento desse tipo seria forçosamente populista e antielitista

Outra diferença fundamental entre os dois países é que os Estados Unidos nasceram de uma revolução que talvez tenha durado mais do que todas aquelas animadas pelas esperanças do Século das Luzes, como afirma Hannah Arendt. É a partir da convicção messiânica de que a sua sociedade “livre” seria superior a todas as outras que os EUA fundam sua justificativa para a constituição do império. Uma sociedade destinada a transformar-se em um modelo para o mundo inteiro. Alexis de Tocqueville já havia compreendido que a orientação política de um empreendimento desse tipo seria forçosamente populista e antielitista.

Já a Inglaterra e a Escócia fizeram suas revoluções nos séculos 16 e 17, mas elas não perduraram. Foram recicladas em um regime capitalista voltado para a modernidade, mas muito hierarquizado e desigual, dirigido até o século 20 por grandes famílias de proprietários de terras. A Irlanda provou que um império colonial pode existir no interior de uma estrutura desse tipo, como a Grã-Bretanha.

Os britânicos estavam convencidos da sua superioridade com relação às outras sociedades, mas não tinham nem a convicção messiânica, nem a vontade de converter os povos estrangeiros ao seu modo de governo ou ao protestantismo. O império britânico não foi construído para ou por missionários. Pelo contrário: em sua principal província, a Índia, as atividades destes últimos eram ativamente desencorajadas.

Mais uma diferença: desde o Domesday [1], no século 11, o reino da Inglaterra e, depois de 1707, a Grã-Bretanha, constituíram-se ao redor de um sistema judiciário e de um governo muito centralizados, que formaram a mais antiga nação da Europa. Nos Estados Unidos, a liberdade é adversária do governo central, e até mesmo de toda autoridade estatal, deliberadamente paralisada pela separação dos poderes.

Não nos esqueçamos de outra diferença fundamental: suas respectivas idades. Além de uma bandeira e de um hino, os estados-nações têm necessidade de mitos fundadores, que devem ser procurados em sua história. Mas os Estados Unidos não contavam ainda com uma história de onde pudessem extrair tais alegorias, diferentemente da Inglaterra, da França revolucionária ou mesmo da União Soviética, onde Stálin não hesitou em reavivar a memória de Alexandre Nevski para mobilizar o povo contra o invasor alemão, em 1941.

Os Estados Unidos acabaram se definindo contra os ingleses. Por isso, sua identidade nacional só podia construir-se a partir da ideologia revolucionária e das novas instituições republicanas. A ligação aceitável com a antiga pátria reduzia-se à língua

A América não tinha ancestrais mais antigos que os primeiros colonos ingleses, já que os próprios puritanos se definiram como não-índios, e os índios, assim como os escravos, estavam, por definição, excluídos do “povo”. Ao contrário dos criollos hispano-americanos, em sua luta pela independência eles tampouco podiam se inspirar em impérios desaparecidos, como os dos incas ou dos astecas.

Por fim, os Estados Unidos, no curso da revolução, acabaram se definindo contra os ingleses. Portanto, a identidade nacional norte-americana não podia constituir-se a partir de um passado comum com a Grã-Bretanha, mesmo antes do afluxo de imigrantes anglo-saxões. Ela só podia construir-se a partir da sua ideologia revolucionária e das suas novas instituições republicanas. A ligação aceitável com a antiga pátria reduzia-se à língua.

A maioria das nações européias tem vizinhos e inimigos contra os quais se definem e nos quais se referenciam. Os Estados Unidos, cuja existência nunca esteve ameaçada, salvo pela Guerra da Secessão, não podem definir seus inimigos no plano histórico, o que lhes deixa apenas a opção do plano ideológico: aqueles que rejeitam o modo de vida norte-americano.

O que vale para os impérios vale para os Estados. Nesse caso também, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos são profundamente diferentes. O império, no sentido estrito ou formal, foi um elemento constitutivo do desenvolvimento econômico britânico e de seu poderio internacional. Esse nunca foi o caso para os Estados Unidos, cuja decisão mais importante foi a de não se tornar um Estado entre outros, mas um gigante de dimensões continentais. É a terra, e não os mares, que desempenhou um papel central no seu desenvolvimento. Eles sempre foram expansionistas, mas nunca à maneira dos impérios marítimos espanhol ou português no século 16, holandês no século 17, ou britânico, cujas metrópoles foram sempre Estados de dimensões modestas.

Os Estados Unidos assemelham-se mais à Rússia, que também estendeu sua influência por vastas planícies, “de um mar a outro” – neste caso, do Báltico ou mar do norte ao Pacífico. Mesmo se não possuíssem um império, os Estados Unidos seriam a nação mais populosa do hemisfério ocidental e a terceira em escala global. Do lado oposto, desprovida de seu império, a Grã-Bretanha era apenas uma economia entre outras, realidade da qual tinha perfeita consciência, mesmo quando governava um quarto da população mundial.

No ápice de sua potência industrial, as exportações norte-americanas representavam apenas 5% de seu PIB. Essa proporção era de 12,8% na Alemanha, 13,3% no Reino Unido, 17,2% nos Países Baixos e 15,8% no Canadá

Mais importante ainda: como a economia britânica estava implicada na maioria das trocas internacionais, o império foi um elemento central do desenvolvimento da economia mundial no século 19. Até os anos 1950, ao menos três quartos dos enormes investimentos britânicos tinham como destino os países em desenvolvimento. E mesmo durante o período entre as duas guerras mundiais, mais da metade das exportações que saíam da Grã-Bretanha partiam em direção a regiões da sua zona de influência. Com a industrialização da Europa e dos Estados Unidos, a Grã-Bretanha deixou de ser a oficina do mundo, mas permaneceu como o mestre-de-obras da rede de transporte internacional. Ela se mantém igualmente como negociante e banqueira do restante do mundo, assim como a primeira exportadora de capital.

A economia norte-americana nunca manteve uma ligação tão simbiótica com a economia mundial. Mas seu peso significativo se deve ao fato de ser a maior produtora industrial do globo e pela imensidão de seu mercado interno.

A partir de 1870, e sobretudo no século 20, as proezas dos Estados Unidos em matéria de tecnologia e de organização do trabalho levaram o país a se tornar a primeira sociedade de consumo de massa. Durante o intervalo das duas guerras mundiais, essa economia, bastante protegida, desenvolveu-se graças aos seus recursos próprios e ao seu mercado interno.

Diferentemente da Inglaterra, até o final do século 20 os Estados Unidos importavam poucas matérias-primas e exportavam uma quantidade de mercadorias e capitais bastante modesta para o seu tamanho. No ápice de sua potência industrial, em 1929, as exportações norte-americanas representavam apenas 5% de seu Produto Interno Bruto (PIB, em dados corrigidos de 1990), enquanto essa proporção era de 12,8% na Alemanha, 13,3% no Reino Unido, 17,2% nos Países Baixos e 15,8% no Canadá. Do mesmo modo, apesar de uma supremacia incontestável no plano industrial a partir de 1880, com 29% da produção mundial, as exportações norte-americanas só alcançaram as da Grã-Bretanha às vésperas do crash da bolsa, em 1929. A dominação econômica do Novo Mundo sobre o Velho instaurou-se durante a Guerra Fria. Nada permitia afirmar que ela, mais uma vez, duraria tanto tempo.

A Grã-Bretanha possuiu o mais império da História. Mas sabia que não podia dominar o mundo inteiro e nunca tentou fazê-lo. Procurou tornar o restante do mundo suficientemente estável para poder prosperar, sem procurar impor sua vontade por toda parte

Como reação à industrialização da Europa e dos Estados Unidos, a Grã-Bretanha vitoriana, já maciçamente industrializada e sempre a primeira exportadora de capitais, fez pender a balança dos seus investimentos em direção a sua zona de influência imperial. Para os Estados Unidos do século 21, essa possibilidade não existe mais. Aliás, com exceção do período que vai do fim da Primeira Guerra Mundial a 1998, a economia norte-americana sempre foi deficitária.

Em um mundo globalizado, a dominação cultural dos EUA é cada vez menos sinônimo de dominação econômica. Sim, eles inventaram o supermercado, mas foi o grupo francês Carrefour que conquistou a América Latina e a China, por exemplo. Como conseqüência dessa diferença crucial com a Grã-Bretanha, o império norte-americano teve sempre de exibir força para sustentar sua economia. Sem a submissão do “mundo livre” às exigências da Guerra Fria, o tamanho da economia norte-americana teria sido suficiente para servir de modelo ao restante do mundo? Ou para estabelecer a dominação das agências de classificação de risco financeiro, as normas contábeis e o direito dos negócios norte-americanos? Ou para definir o “consenso de Washington” como a Bíblia do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial? É possível duvidar de que teria sido assim.

Por todas essas razões e divergências, o império britânico não pode ser considerado como um modelo que permite compreender o projeto hegemônico norte-americano. A Grã-Bretanha conhecia os seus limites, especialmente aqueles que se referiam ao seu poderio militar. Peso-médio que sabia que não poderia manter eternamente o título de campeã dos pesos-pesados, ela fugiu da crise de megalomania que ameaça todos os aprendizes de senhores do mundo. Ela possuiu um império mais vasto do que nenhum outro país jamais teve ou terá. Mas sabia que não podia dominar o mundo inteiro e nunca tentou fazê-lo. Ao contrário disso, ela tentou tornar o restante do mundo suficientemente estável para poder prosperar, mas sem procurar impor sua vontade por toda parte.

Quando a era dos impérios marítimos chegava ao fim, na metade do século 20, a Grã-Bretanha sentiu o vento virar antes das outras potências coloniais. Como seu poder econômico não dependia de seu poderio militar, mas do comércio, ela se adaptou mais facilmente à perda de seu império, assim como havia enfrentado o mais grave dos reveses da sua história: o fim das suas colônias americanas.

Os Estados Unidos compreenderão essa lição? Ou procurarão manter uma dominação global apenas por meio do poderio político e militar, engendrando assim cada vez mais desordem, conflitos e barbárie?


[1] Referência ao censo realizado por ordem de Guilherme I da Inglaterra, em 1086, destinado a levantar informações sobre os proprietários de terra e gado, a fim de determinar o que cada um efetivamente possuía e, assim, poder cobrar-lhes impostos. Todas as informações foram reunidas no Domesday Book, ou Livro da Cntabilidade. Em agosto de 2006, uma versão online foi disponibilizada pelo arquivo Nacional britânico: www.nationalarchives.gov.uk/domesday.

SARA ROY: SE GAZA CAIR

Site do Azenha - Atualizado e Publicado em 28 de dezembro de 2008 às 14:41

Se Gaza cair...*

Sara Roy**

O sítio de Gaza, por Israel, começou dia 5/11/2008, um dia depois de Israel ter atacado a Faixa, ataque feito – sem possibilidade de dúvida – para pôr fim à trégua estabelecida em junho entre Israel e o Hamás. Embora os dois lados tenham violado antes o acordo, nunca antes acontecera qualquer violação em tão grande escala. O Hamás respondeu com foguetes, e desde então a violência não recrudesceu.

Com o sítio, Israel visa a dois principais objetivos. Um, reforçar a idéia de que os palestinos são problema exclusivamente humanitário, como pedintes, mendigos sem qualquer identidade política e, portanto, sem reivindicações políticas. Segundo, impingir a questão de Gaza, ao Egito.

Por isso, os israelenses toleram as centenas de túneis que há entre Gaza e o Egito, pelos quais começou a formar-se um setor comercial informal, embora cada vez mais regulado. A muito grande maioria dos habitantes da Faixa de Gaza vive em condições de miséria, com 49,1%, estatísticas oficiais, de desempregados. De fato, os habitantes de Gaza já sabem que está desaparecendo rapidamente, para todos, qualquer possibilidade real de emprego.

Dia 5/11, o governo de Israel fechou todas as vias de entrada e saída de Gaza. Comida, remédios, combustível, peças de reposição para as redes de energia, água e esgoto, adubo, embalagens, telefones, papel, cola, calçados e até copos e xícaras não entram nos territórios ocupados em quantidade suficiente, ou absolutamente não há.

Conforme relatórios da Oxfam, apenas 137 caminhões com alimentos entraram em Gaza no mês de novembro de 2008. Em média, 4,6 caminhões/dia; em outubro de 2008, entraram em média 123; em dezembro de 2005, 564. As duas principais organizações que levam comida a Gaza são a UNRWA, Agência de Ajuda Humanitária da ONU para os Refugiados Palestinos e o Oriente Médio; e a WFP, "Programa Alimento para o Mundo". A UNRWA alimenta aproximadamente 750 mil palestinos em Gaza (cerca de 15 caminhões/dia de alimentos). Entre 5/11 e 30/11, só chegaram 23 caminhões, cerca de 6% do mínimo indispensável; na semana de 30/11, chegaram 12 caminhões, 11% do mínimo indispensável. Durante três dias, em novembro, a UNRWA esteve totalmente desabastecida – e 20 mil pessoas não receberam a única comida com que contam para matar a fome. Nas palavras de John Ging, diretor da UNRWA em Gaza, praticamente todos os atendidos pela organização dependem completamente do que recebem, seu único alimento. Dia 18/12, a UNRWA suspendeu completamente a distribuição de alimento, dos programas regulares e dos programas de emergência, por causa do bloqueio israelense.

A WFP enfrenta problemas semelhantes; conseguiu enviar apenas 35 caminhões, dos 190 previstos para atender as necessidades da Faixa de Gaza até o início de fevereiro de 2009 (mais seis caminhões conseguiram chegar a Gaza, entre 30/11 e 6/12). E não é só: a WFP é obrigada a pagar pelo armazenamento dos alimentos que não podem ser enviados a Gaza. Só em novembro, pagou 215 mil dólares. Se Israel mantiver o sítio a Gaza, a WFP terá de pagar mais 150 mil dólares pelo armazenamento dos alimentos, no mês de dezembro, dinheiro que deveria ser usado para auxiliar os palestinos, mas está entrando nos cofres de empresas israelenses de armazenamento.

A maioria das padarias comerciais em Gaza (30, de 47) foram obrigadas a fechar as portas por falta de gás de cozinha. As famílias estão usando qualquer tipo de combustível que encontrem, para cozinhar. Como a FAO/ONU já informou, o gás é indispensável para manter aquecidos os criadouros de aves. A falta de gás e de rações, já levou à morte milhares de galinhas e frangos. Em abril, conforme a FAO, já praticamente não haverá galinhas e frangos em Gaza – e para 70% dos palestinos, carne e ovos de galinha são a única fonte de proteína.

Bancos, impedidos por Israel de operar nos territórios ocupados, fecharam as portas dia 4/12. Num deles há um aviso, em que se lê: "Por decisão da Autoridade das Finanças na Palestina, o banco permanecerá fechado hoje, 4/12/2008, 5ª-feira, por falta de numerário. O banco só reabrirá quando voltar a receber moeda."

O Banco Mundial já antecipara que o sistema bancário em Gaza entraria em colapso se as restrições continuassem. Todo o fluxo de dinheiro para os programas foi suspenso, e a UNRWA suspendeu a assistência financeira a outros subprogramas, para os mais necessitados, dia 19/11. Também está paralisada a produção de livros didáticos e cadernos, porque não há papel, tinta de impressão e cola, em Gaza. Com isso, 200 mil estudantes serão afetados, ano que vem, no início das aulas.

Dia 11/12, o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, enviou 25 milhões de dólares para o sistema bancário na Palestina, depois de um apelo do primeiro-ministro palestinense, Salaam Fayad; foi a primeira remessa, desde outubro. Não bastará nem para pagar o mês de salários atrasados dos 77 mil funcionários públicos de Gaza.

Dia 13/11, foi suspensa a operação da única estação de energia elétrica que opera em Gaza; as turbinas foram desligadas por absoluta falta de diesel industrial. As duas turbinas movidas a bateria 'caíram' e não voltaram a funcionar dez dias depois, quando chegou um único carregamento de combustível. Cerca de 100 peças de reposição, encomendadas para as turbinas, estão há oito meses no porto de Ashdod, em Israel, a espera de que as autoridades da alfândega israelense as liberem. Agora, Israel começou a leiloar as peças não liberadas, porque permanecem há mais de 45 dias no porto. Tudo feito conforme a legislação de Israel.

Durante a semana de 30/11, 394 mil litros de diesel industrial foram liberados para a estação de produção de energia: aproximadamente 18% do mínimo que Israel está legalmente obrigado a fornecer. Foi suficiente apenas para fazer funcionar uma turbina, por dois dias, antes de a estação ser novamente fechada. A Gaza Electricity Distribution Company informou que praticamente toda a Faixa de Gaza ficará sem eletricidade por períodos que variarão entre 4 e 12 horas/dia. Em vários momentos, haverá mais de 65 mil pessoas sem eletricidade.

Nem mais uma gota de óleo diesel (para geradores e para transporte) foi entregue essa semana (como já acontece desde o início de novembro); nem de gás de cozinha. Os hospitais em Gaza estão operando, ao que parece, com diesel e gás recebido do Egito, pelos túneis; ao que se diz, são produtos administrados e taxados pelo Hamás. Mesmo assim, dois hospitais em Gaza estão sem gás de cozinha desde 23/11.

Além dos problemas diretamente causados pelo sítio israelense, há os problemas criados pelas divisões políticas entre a Autoridade Palestina na Cisjordânia e a Autoridade do Hamás, em Gaza. Por exemplo, a CMWU, que fornece água para a região costeira de Gaza, que não é controlada pelo Hamás, é financiada pelo Banco Mundial via a Autoridade Palestina para a Água (PWA) em Ramállah; o financiamento destina-se a pagar o combustível para as bombas do sistema de esgotos de Gaza. Desde junho, a PWA tem-se recusado a liberar o dinheiro, aparentemente porque entende que o funcionamento dos esgotos beneficiaria o Hamás. Não sei se o Banco Mundial tentou alguma intervenção nesse processo, mas, por hora, a UNRWA está fornecendo o combustível necessário, embora não tenha orçamento para essa finalidade. A CMWU também pediu autorização a Israel para importar 200 toneladas de cloro; até o final de novembro recebeu apenas 18 toneladas – suficiente para o consumo de uma semana de água clorada. Em meados de dezembro, a cidade de Gaza e o norte da Faixa só tinha água por seis horas, a cada três dias.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, as divisões políticas entre Gaza e a Cisjordânia também têm tido sério impacto sobre o abastecimento de remédios em Gaza. O ministério da Saúde da Cisjordânia (MOH) é responsável por comprar e distribuir quase todos os produtos farmacêuticos e cirúrgico-hospitalares usados em Gaza. E todos os estoques estão perigosamente baixos. No mês de novembro, várias vezes o ministério devolveu carregamentos recebidos por via marítima, por não haver espaço para armazenamento; apesar disso, nada tem sido entregue em Gaza, em quantidades suficientes. Na semana de 30/11, chegou a Gaza um caminhão com remédios e suprimentos médios, enviado pelo MOH em Ramállah; foi o primeiro, desde o início de setembro.

Está acontecendo aí, ante nossos olhos, a destruição de toda uma sociedade – e nenhum clamor se ouve, além dos avisos da ONU, que são ignorados pela comunidade internacional.

A União Européia anunciou recentemente que deseja estreitar relações com Israel, pouco depois de as autoridades israelenses terem declarado abertamente que preparam a invasão, em larga escala, da Faixa de Gaza e de terem apertado ainda mais o bloqueio econômico, com o apoio, já nada tácito, da Autoridade Palestina em Ramállah. Essa, vê-se, está colaborando com Israel, em várias medidas. Dia 19/12, o Hamás deu oficialmente por encerrada a trégua (que Israel declarou que estaria interessado em renovar), porque Israel não suspendeu (nem diminuiu) o bloqueio.

Por quê, como, em que sentido, negar alimento e remédios à população de Gaza ajudaria a proteger os israelenses?

Por quê, como, em que sentido, o sofrimento das crianças de Gaza – mais de 50% da população são crianças! – beneficiaria alguém?

A lei internacional – e a decência humana – exigem que essas crianças sejam protegidas. Se Gaza cair, cairá depois, a Cisjordânia.

* "If Gaza falls...", Sara Roy, London Review of Books, 1/1/2009, em http://www.lrb.co.uk/v31/n01/roy_01_.html © LRB. Tradução de Caia Fittipaldi, sem valor comercial, para finalidades didáticas.

** Professora do Harvard’s Center for Middle Eastern Studies. Autora de Failing Peace: Gaza and the Palestinian-Israeli Conflict.

Tropas especiam liquidam guerrilheiros, mas a guerra continua



O Serviço Federal de Segurança (FSB, ex-KGB) da Rússia anunciou hoje ter liquidado doze guerrilheiros na Inguchétia, república caucasiana da Federação da Rússia, entre os quais se encontravam o comandante Vakha Djenaraliev e mercenários estrangeiros.
“Durante a operação, que durou mais de 15 horas, foram liquidados todos os membros de um grupo de bandidos (assim são denominados pelas autoridades russas os guerrilheiros que lutam pela separação de várias repúblicas caucasianas da Rússia), em número de doze, que ofereceram renhida resistência armada”, lê-se num comunicado publicado pelo FSB na capital russa.
Segundo o Serviço Federal de Segurança, “entre os bandidos liquidados foram reconhecidos Djenaraliev e o seu ajudante Khamkhoev”, sublinhando que do grupo faziam parte “mercenários estrangeiros”.

“Durante a operação especial foram encontradas quatro bases da guerrilha com equipamentos técnico-militares, apreendidas armas automáticas, uma grande quantidade de munições e explosivos”, constata o comunicado.

Em conformidade com dados revelados pelo FSB, desde 1999 que Djenaraliev era “um dos principais comandantes dos bandidos” que actuam na fronteira entre a Tchetchénia e a Inguchétia, duas repúblicas russas do Cáucaso onde guerrilhas islâmicas combatem pela independência, realizou uma série de ataques contra as tropas russas e localidades da Inguchétia, participou no assassinato de agentes da polícia e do Serviço Federal de Segurança da Rússia.

Nos últimos tempos, Vakhi Djenaraliev, que tinha 28 anos, comandava o “sector inguche da frente sudoeste” e recebia ordens de Doku Umarov, comandante supremo da guerrilha tchetchena.

No comunicado informa-se também que não houve baixas entre as tropas e polícia russas durante a operação militar contra a guerrilha, que decorreu entre os dias 23 e 25 de Dezembro.

As autoridades de Moscovo há muito anunciaram a vitória sobre o separatismo islâmico no Cáucaso, mas não cessam os confrontos entre a guerrilha e tropas russas, principalmente na Inguchétia.

O sítio da guerrilha separatista na Internet Kavkazcenter dá a notícia citanto fontes russos, mas diz não possuir ainda elementos para confirmar esses acontecimentos.

O DEDO DO ALI KAMEL

Site do Azenha - Atualizado e Publicado em 28 de dezembro de 2008 às 15:31

O Jornal Nacional de sábado, 27 de dezembro, tinha a cara do Ali Kamel. Abriu com uma "reportagem" que tinha o objetivo de dar pernas ao protesto da oposição contra as decisões do governo Lula em relação ao Fundo Soberano. E, em seguida, apresentou o ataque de Israel à faixa de Gaza como única forma de lidar com o terror a que os israelenses são submetidos pelos palestinos. O texto é Ali Kamel clássico. Notem que há justificativas para cada ação de Israel:

O ataque foi com aviões F-16 de última geração, apresentado recentemente à imprensa internacional. Eles dispararam algumas dezenas de mísseis contra a Faixa de Gaza. Segundo o governo israelense, buscando apenas alvos ligados ao Hamas: campos de treinamento, depósitos de armas, fábricas de foguetes. Mas a população civil, numa região densamente povoada, também foi atingida.

O cessar-fogo de seis meses estabelecido entre Israel e o Hamas, em junho, começou a ser quebrado em novembro. Israel disse ter localizado um túnel que estaria sendo escavado junto à fronteira para permitir o seqüestro de soldados israelenses e atacou matando palestinos.

O lançamento de foguetes e morteiros contra Israel foi imediatamente retomado. Os palestinos lançaram 80 só na véspera de Natal, mas até este sábado, eles não haviam causado nenhuma morte em território israelense. Já a ofensiva de Israel, decidida dias atrás, foi devastadora.

“Esperamos a compreensão da comunidade internacional. Essa ação foi nossa única alternativa para defender o povo israelense”, declarou a Ministra de Relações Exteriores, Tzipi Livni.

Governos de vários países pediram que Israel evite atingir a população civil de Gaza, já que a operação, conforme anunciado, vai continuar. No outro território palestino, a Cisjordânia, houve protestos e choques com tropas israelenses que controlam a região.

O Hamas convocou todas as facções palestinas para preparar a vingança. Antes mesmo do ataque deste sábado, autoridades israelenses já diziam que os palestinos estariam para retomar ataques suicidas contra Israel. O que agora parece muito mais provável.

A última grande onda de violência entre palestinos e israelenses aconteceu em março. Na troca de foguetes e mísseis, perto de 120 palestinos foram mortos na Faixa de Gaza. Na seqüência, Jerusalém foi palco de dois atentados: um palestino matou a tiros oito estudantes judeus numa escola religiosa. Depois, o operador de uma retroescavadeira causou pânico e mais mortes no Centro da cidade.

Neste sábado, pela primeira vez, um foguete palestino atingiu um alvo a 20 quilômetros de distância e matou um israelense. Em Israel, olhos atentos junto à fronteira e a paisagem da vizinha cidade de Ashkelon são o retrato do medo.

MUDAR. PARA QUE NADA MUDE

Site do Azenha - Atualizado em 27 de dezembro de 2008 às 11:42 | Publicado em 27 de dezembro de 2008 às 11:41

Robert Reich, ex-secretário de Tesouro dos Estados Unidos, diz em seu blog que os empresários de Wall Street e das indústrias automobilísticas americanas aceitam mudanças, desde que nada mude.

É mais ou menos o que tenho percebido no Brasil. Na crise, qual a saída proposta pelos que sempre defenderam o neoliberalismo? Mais do mesmo. Assim que as empresas tiverem incorporado as benesses oferecidas pelo Estado voltarão ao velho discurso de que é preciso diminuir o tamanho do Estado -- responsável, agora, pelo resgate --, cortar os impostos e os programas sociais.

Notem o discurso do presidente da Vale, logo adotado pelos donos de shopping centers, em defesa da "flexibilização" das normas trabalhistas. É de um oportunismo ímpar. Eles realizam lucros extraordinários e, na primeira ameaça de redução destes lucros, pretendem empurrar a conta para as costas dos trabalhadores. Com apoio da mídia corporativa, que afinal existe para expressar a opinião do patronato.

Nos Estados Unidos, Robert Reich fez a primeira previsão para 2009: vai haver um fosso crescente entre o público e os beneficiários diretos da ajuda estatal. Ele se refere à declaração do presidente da Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, de que a estratégia da empresa não deve mudar.

"O que? A Goldman conseguiu 10 bilhões de dólares do contribuinte precisamente porque ela e outros bancos estavam tão carregados de dívida que ameaçavam todo o sistema financeiro. Dá para entender porque Blankfein não quer mudar. Ele levou para casa 54 milhões de dólares no ano passado.(Ele abriu mão do bônus nesse ano e está levando para casa apenas 600 mil dólares). Mas o público espera reforma real quando a Goldman leva 10 bilhões e outros bancos levam dezenas de bilhões", escreveu Reich em seu blog.

O economista diz que ouviu de muitos outros empresários que o problema é "cíclico", não "estrutural". Ou seja, assim que o ciclo acabar os negócios deverão ser retomados sem qualquer tipo de regulamentação.

De acordo com Reich, este será o debate de 2009 nos Estados Unidos. Os empresários dirão que tudo é passageiro e que assim que a crise passar deverão ficar livres para retomar a produção dos SUVs, os jipes que fizeram a fortuna da indústria automobilística americana.

Eu não me surpreendo nem um pouco com isso. Quando a crise financeira ainda não tinha chegado à economia real, nos Estados Unidos, acompanhei com atenção a atuação do "mercado", que colocou um revólver carregado na cabeça do "estado" para forçá-lo a abrir o cofre.

A minha dúvida é se a "velha economia" dos Estados Unidos ainda tem força para mobilizar a opinião pública através da mídia. Presumo que não. Acho que a "nova economia", baseada em serviços, em biotecnologia e em energias renováveis já acumulou forças para se afirmar sobre o poder do automóvel tocado por petróleo.

Essa história de mobilizar as terras de todo um país para produzir biocombustíveis é coisa de Terceiro Mundo. Poluição, meio ambiente detonado? Coisa de países como o Brasil. Na nova disvisão internacional do trabalho, o Primeiro Mundo vai ficar com os produtos de tecnologia intensiva. Nós ficaremos com os "produtos sujos". A não ser que um futuro governo brasileiro se dê conta disso e resolva investir em polos tecnológicos intensivos tirando proveito do grande potencial que o Brasil tem na biotecnologia. Mas isso já seria esperar demais.

A CARNIFICINA

Site do Azenha - Atualizado em 27 de dezembro de 2008 às 15:04 | Publicado em 26 de dezembro de 2008 às 14:06

A essa altura a maior parte de vocês já sabe que o Eduardo Guimarães está batendo forte na mídia brasileira e nas previsões catastrofistas que ela faz sobre o futuro da economia.

Simbólico disso é a frase escrita por meu amigo Fernando Rodrigues, que prevê uma "carnificina" no primeiro semestre de 2009.

Não sou tão otimista quanto o Eduardo, nem tão pessimista quanto o Fernando.

Acho que o Eduardo não está considerando o pleno impacto da crise internacional, que será gravíssima. Na minha opinião, não será capaz de provocar recessão no Brasil -- e a torcida de 9 entre 10 analistas da mídia corporativa é para que o Brasil imploda. Isso facilitaria, na visão deles, uma vitória de José Serra em 2010, que é do que se trata.

Desde o escândalo do mensalão a mídia corporativa brasileira produz "crises". Todas as "crises" são federais. Não há crises estaduais. Como notou Paulo Henrique Amorim, não há mais enchentes em São Paulo, mas "pontos de alagamento". Não há caos no trânsito de São Paulo, mas "excesso de veículos". PCC? Crime organizado mandando nas penitenciárias? Sumiram. Agora são "facções criminosas". Que continuam mandando de dentro dos presídios, mas a gente faz de conta que não.

Mas, em nível federal, tivemos várias crises. Tivemos o "caos aéreo", que acabou assim que Nelson Jobim assumiu o ministério da Defesa. Mais uma vez recorro ao PHA para lembrar que a mídia culpou Lula por não ligar o transponder do Legacy e não frear o Airbus da TAM.

Tivemos a "epidemia" de febre amarela. Tivemos o risco de "apagão elétrico", que deveria ter acontecido no fim de 2008. Houve o escândalo dos cartões corporativos, o escândalo do dossiê contra FHC e o escândalo da grampolândia fabricado pela revista "Veja". É de estarrecer que o Brasil não tenha afundado depois de tantos "caos", "crise", "apagão" e "escândalo".

Apesar disso, o governo Lula completou 6 anos com recorde de popularidade. O fato é que o presidente da República colocou em prática um pacto através do qual algumas concessões foram feitas aos brasileiros mais pobres, na forma de aumentos do salário mínimo e de investimento em programas sociais. E a mídia já engajada na campanha eleitoral de José Serra torce pelo rompimento desse pacto.

Em minha opinião o que nos espera nos próximos meses é um aguçamento da disputa política num quadro de escassez de recursos. Os grupos políticos ligados a José Serra e ao presidente Lula vão disputar o eleitorado centrista, não ideológico, seduzível pela proposta de "competência gerencial".

Aqui em Bauru o governo paulista espalhou outdoors celebrando a construção do Rodoanel em São Paulo. Não sei exatamente o que a população de Bauru tem com isso, mas é claro que José Serra vai fazer sua campanha com as obras realizadas no governo de São Paulo.

De sua parte, Lula fez um competente discurso na televisão, enfatizando que o Brasil passou de devedor a credor, que acumulou reservas internacionais, que a inflação caiu e a renda cresceu. Ou seja, também enfatizou a competência gerencial.

Quando a mídia prevê uma catástrofe no Brasil, em 2009, pode estar ajudando o governo Lula. É pouco provável que a economia brasileira entre, de fato, em recessão. Quanto o PIB vai crescer em 2009? Meio por cento, 2%, 3% ou 4%, na previsão otimista do presidente da República? Se o Brasil crescer 2% em um cenário de grave crise internacional o governo Lula chegará em 2010 com fôlego para proclamar: "Enquanto o mundo se acabava, o Brasil cresceu".

Se eu fosse assessor do Lula, faria uma coleção de manchetes catastrofistas para usar lá na frente. Se eu fosse assessor do Serra, escreveria aqui que vem aí um banho de sangue, uma "carnificina".

Projeto Desafiando o Rio-Mar: Fonte Boa/Tamaniquá

Projeto Desafiando o Rio-Mar: Fonte Boa/Tamaniquá

Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)

Hiram Reis e Silva (*) - Tamaniquá (23 Dez 08)

Polícia Militar de Fonte Boa

Desde nosso contato com Coronel Rômulo, comandante do Policiamento do Interior, que os policiais militares do Amazonas foram incansáveis em nos apoiar no transporte de material e contato com autoridades locais. Gostaríamos de deixar registrado o profissionalismo, a urbanidade e a atenção com que nos trataram os policiais de São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antônio do Içá, Tonantins e Jutaí. Realmente, Fonte Boa foi uma exceção à regra; o descaso e a falta de apoio por parte do comandante do destacamento não são compatíveis com as tradições da instituição que deveria representar.

Largada para Tamanaquá

O senhor José Antonio, do Hotel Eliana, suprindo a falta da Polícia Militar, nos conduziu, gentilmente, até o Frigorífico Pescador. Partimos por volta das 08:00 horas, depois de agradecer o apoio do senhor Sabá Franco, administrador do frigorífico, e paramos duas vezes antes de chegar nas proximidades da foz do Juruá.

Foz do Juruá

Na segunda parada, por volta da 11:35 horas, verifiquei a enorme discordância da carta com o terreno em relação à margem direita do Solimões perto da foz com o Juruá. Já acostumado com os devaneios deste rio errante, conclui que toda ilha à margem esquerda do Juruá tinha sido violentada pela fúria do rio-mar na sua ânsia de remodelar o relevo a seu bel prazer. A transformação criou um delta na foz do Juruá. A dilapidada ilha da inocência, à jusante da foz, talvez venha a se transformar num ícone da perda da inocência do rebelde rio-menino.

Nova Matusalém

Na foz do Juruá, parei para tirar algumas fotos, que foram prejudicadas, porém, pela altura da vegetação. Na margem direita da foz, aportamos no local denominado pelas cartas como Porto Colombiano, mas chamado pelos populares ribeirinhos como Nova Matusalém. Fomos impedidos de pernoitar, tendo em vista que o presidente e o vice-presidente da comunidade se encontravam ausentes. Pela primeira vez nos foi recusado abrigo no Amazonas.

Tamaniquá

Partimos para Tamaniquá, que podia ser avistada no horizonte a uns sete quilômetros. Tamaniquá é a cidade natal do amigo Sabá Franco. Sabá havia recomendado que procurássemos o Flutuante do Ribeiro. O nosso dia, que começara mal com o “calote na recepção” por parte da polícia militar de Fonte Boa e continuara assim com a falta de hospitalidade da comunidade nova Matusalém, consagrou-se com o descaso do Ribeiro.

Professor Emanuel Carvalho

Fomos até a escolinha local, onde encontramos o gestor Emanuel. O professor foi extremamente educado e receptivo, nos acolhendo em uma de suas salas de aula onde permitiu que acampássemos.

Amigo Chico

Descarregamos o material na sala de aula e fomos, imediatamente, tomar um banho no rio. Revigorados, fomos degustar os saborosos 'dindins' (sacolés) da D. Maria, esposa do Chico. Quase acabamos com o estoque da casa. Contratamos o Chico para nos levar, de rabeta, até uma comunidade indígena Kulina às margens do Juruá. Terminado o pequeno lanche, saímos pela comunidade para fotografar.

Pernoite

Para nos livrarmos dos mosquitos, dormimos na barraca montada dentro da sala de aula, livre dos mosquitos, mas não do calor. O gerador desliga às 23:00 horas e, a partir daí, foi difícil conciliar o sono em decorrência do calor e dos latidos de cães à noite toda.

Ritmo Amazônico

O Chico, como bom caboclo, deixou tudo para a última hora: preparação do barco e compra de combustível, talvez para não fugir à regra ou talvez querendo nos adaptar ao 'ritmo amazônico de fazer as coisas'.

Visita ao Juruá

Atalhando por um Paraná, dois furos e um lago, chegamos à comunidade. O percurso se reveste de uma beleza sem igual. Longe da impetuosidade dos grandes mananciais, estas artérias tem um ritmo dolente; o motor de 6,5 Hp nos impulsiona com vagar, permitindo admirar a natureza ao redor.

Mário Quintana

Perguntaria, intrigado, o leitor, como recordar Mario Quintana, um poeta da cidade, no coração da selva hostil. A lembrança nos veio ao avistar os formidáveis colossos arbóreos tombados junto às margens. Troncos e galhos desfolhados e esbranquiçados pelo tempo imitavam a agonia das 'mãos de enterrados vivos' do Quintana.

Evolução das espécies

Lembrar Charles Darwin talvez seja mais racional ao divagarmos sobre a adaptação da Amazônica Biodiversidade. As árvores tombam com facilidade porque as raízes que as sustentam são por demais superficiais. O solo pobre não estimula a que procurem nutrientes aprofundando suas raízes. Algumas árvores, porém, mais sábias, mais adaptadas ou evoluídas, utilizam de verdadeiros estais para procurar manter sua estabilidade, que na região são chamados de sapopemas.

Comunidade Kulina

Entrevistamos o cacique Francisco e fotografamos diversas crianças da comunidade. O cacique é o único professor e ministra aula do primeiro ao quarto ano. Algumas mães nos procuraram para que seus filhos fossem fotografados. Os kulina formam um grupo de pouco mais de 700 membros e ainda preservam sua língua e cultura. A falta de apoio por falta da prefeitura de Juruá ficou patente no pronunciamento do cacique.

Retorno

Na maior parte do tempo enfrentamos chuva e um 'banzeiro', vencido com facilidade pela destreza do Chico. Somente na foz do Juruá, onde eu pretendia tirar umas fotos, a chuva deu uma pequena trégua. O Romeu preparou um arroz com sardinha e enquanto descansava, se preparando para a aula de canoagem para a gurizada, eu consegui com o professor Emanuel autorização para utilizar o computador, descarregar as fotos (mais de cem) e escrever este artigo.

Resolvi que os próximo artigos - como serão todos produzidos na reserva Mamirauá, quando ocuparemos os quatro flutuantes do Instituto, antes de chegar à Tefé - serão compilados em um único documento. Estamos ansiosos e esperando que o apoio por parte do Exército em Tefé seja total, já que as Prefeituras, com as quais não tínhamos maiores vínculos, não pouparam esforços em nos agradar.

(*) Coronel de Engenharia; professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)

Livre da tropa apenas por 200 euros

darussia.blogspot.com - 26/12/08



O Parlamento da Quirguízia, país da Ásia Central, aprovou hoje um projecto-lei que permite aos homens não cumprirem o serviço militar a troco do pagamento de 200 euros.
Os que não podem cumprir o serviço militar activo por alguma razão: estudantes, candidatos a doutor, representantes de profissões específicas, ou simplesmente quem não o quer cumprir poderão receber instrução militar durante um mês num centro de formação”, explicou Batikbek Kaliiev, ministro da Defesa quirguize ao apresentar o projecto-lei.
Aqueles que não desejarem mesmo “fazer a tropa”, pagam 12 000 soms, cerca de 200 euros, e podem ir à sua vidinha. Segundo o Governo quirguize, esta medida tem como primeiro objectivo a passagem a umas forças armadas de reserva. Isso explica-se também pela situação demográfica no país, onde o número de jovens ultrapassa em muito as necessidades em soldados.
Além disso, a Quirguízia é um dos países mais pobres não só da Ásia Central e se o dinheiro não desaparecer na “areia da corrupção”, poderá ser uma boa ajuda para manter as forças armadas. Um artigo do citado projecto-lei, que autoriza as forças armadas a prestar apoio à polícia na manutenção da ordem pública suscitou acesos debates no Parlamento. A oposição considera que essa disposição permitirá às forças armadas “ingerir-se nos assuntos internos e na regularização de conflitos internos, o que contradiz a Constituição”.
Na Geórgia, um cidadão que não queira cumprir o serviço militar pode fazê-lo legalmente se pagar o equivalente a cerca de 800 euros. Na Rússia, não há taxas legais, mas, frequentemente, recorre-se ao suborno dos chefes dos centros de recrutamento.

Tucanos blindam Serra e FHC na CPI dos Amigos de Dantas

Conversa Afiada - 26/dezembro/2008 12:31

Eles têm que abafar Dantas

Eles têm que abafar Dantas

. Informa a coluna “Painel” da Folha (*) – onde José Serrágio (de pedágio, os mais altos do Brasil) merece tratamento VIP – que “técnicos do PSDB na Câmara começaram a formular um relatório alternativo ao parecer do deputado Nelson Pelegrino (PT-BA)…” na CPI dos Grampos, também conhecida como a CPI dos Amigos de Dantas, tal o número de membros da CPI que foram financiados por Dantas na campanha eleitoral.

. Clique aqui, se você for assinante, para ler no “Painel” de José Serrágio

. O objetivo dos técnicos tucanos é o mesmo do presidente da CPI, o deputado serrista Marcelo Itagiba: desqualificar a Operação Satiagraha, o que, por coincidência, é o objetivo de Gilmar Dantas (segundo Ricardo Noblat) e de Daniel Mendes, digo, Daniel Dantas.

. A estratégia dos advogados de Dantas não é defender Dantas - de resto, indefensável.

. Mas, tentar demonstrar – como tentaram os representantes do PiG (**) no Roda Morta com o ínclito delegado Protógenes Queiroz: - que a Satiagraha não presta.

. Até aí, nada de novo.

. O interessante é o empenho dos tucanos em blindar Dantas na CPI.

. Eles podiam até ficar calados.

. Por que, quem garante que Pelegrino, do PT, esteja interessado em explicar o que o “Gomes” e Gilberto Carvalho faziam naqueles telefonemas?

. E por que os tucanos do “Painel” estão aflitos?

. Porque as relações de Dantas com os tucanos são genéticas e históricas.

. Dantas nasceu do ventre de Fernando Henrique Cardoso e da privatização dos telefones de Fernando Henrique Cardoso.

. Quem não se lembra do momento “Péricles de Atenas” do Governo do Farol de Alexandria, conhecido na privatização como o “Bomba Atômica”: “estamos no limite da irresponsabilidade … se isso der m…, estamos nisso juntos …”

. Péricles de Atenas puro…

. Dantas “opera” também o Serrágio.

. A irmã de Dantas financiou uma empresa da filha de Serrágio.

. Clique aqui para ver os documentos desse “conúbio”, como diria o Supremo Presidente Gilmar Dantas (segundo Ricardo Noblat).

. Quando achou que ia privatizar a CESP, a primeira coisa – isso está nas interceptações da Satiagraha, maldita Satiagraha … – que Serrágio fez foi telefonar para Dantas e Naji Nahas e pedir que vendessem a CESP no exterior.

. Nahas argumentou que o preço que Serra pedia era muito alto.

. Serrágio deu a ordem: comece por esse preço e, depois, se for o caso, a gente reduz.

. Os tucanos não podem deixar Dantas abrir o bico.

Paulo Henrique Amorim

Le Monde saúda Villa-Lobos e Neschling. É porque eles não conhecem o Serrágio

Conversa Afiada - 26/dezembro/2008 12:14

Serrágio não consegue conviver com um gênio tropical

Serrágio não consegue conviver com um gênio tropical

. O jornal francês Le Monde - que quando sai com as páginas em branco é melhor do que o PiG (*) - faz comentários entusiasmados sobre Villa-Lobos - “Le génie tropical” - por conta de dois concertos que a Orquestra Sinfônica de São Paulo dará nos dias 30 e 31, sob a regência de John Neschling, ao vivo, na Arte.

. O Monde recomenda o CD da Bis com Neschling e a Osesp com os Choros 2, 3, 10 e 12.

. O Monde compara Villa a Sibelius e Schumann.

. Diz que o Choros # 10 é “bárbaro” e “primitivo” de forma “extraordinária”, embora se perceba a influência da Sagração da Primavera de Stravinsky.

. Sobre Neschling, o Monde diz que ele rege a Osesp e Villa com “excelência”.

. E que Neschling é um “infatigável defensor da música flamboyante e tropical de seu compatriota” (Villa).

. Caro leitor, a partir de 2010, se você quiser assistir a Neschling na direção da Osesp – que Neschling ressuscitou, enquanto Mário Covas e Geraldo Alckmin eram governadores de São Paulo – terá que ir a Paris, provavelmente.

. José Serrágio tanto fez que Neschling pediu o boné e não vai renovar o contrato com a São Paulo.

. A mediocridade de José Serrágio não podia respirar do mesmo oxigênio (poluído) de Neschling (e Villa).

. Tudo começou quando Serrágio (de pedágio, os mais altos do Brasil) era prefeito de São Paulo.

. (O leitor se lembra: ele assinou, na Folha (*), documento em que dizia que ficaria no cargo de prefeito até o fim.)

. Serrágio mandou Neschling levar a Osesp para uma “Virada” cultural.

. Neschling perguntou ao intermediário se, no local (um parque aberto), haveria mictório para 100 músicos.

. O interlocutor disse que não.

. Neschling disse que, sem mictório, a orquestra não poderia tocar.

. O interlocutor ficou de resolver o problema.

. Não resolveu.

. E a Osesp não foi.

. Serrágio ficou uma fera e jurou destruir Neschling.

. Foi o que começou a fazer, assim que rasgou o documento da Folha (*) e foi ser governador de São Paulo (provisoriamente, já que, em 2010, ele assume a Presidência …)

. Tanto fez – disse que Neschling ganhava demais… – que Neschling foi embora.

. É isso, caro leitor.

. Serrágio é a cara de São Paulo.

. Se você mora em São Paulo, compre o CD da BIS e vá à forra…

Paulo Henrique Amorim

Em tempo: sabe quem é o presidente do “Conselho” da Osesp ? Fernando Henrique Cardoso. Foi ele quem fez vistas grossas à perseguição de Serrágio a Neschling. E quando ele for a Paris e o repórter do Monde perguntar por que a orquestra dele – FHC – deixou Neschling ir embora? O que dirá o Farol? “Eu não sabia”…

Supremo Presidente vai ao exterior uma vez por mês explicar como Juiz vota na imprensa

Conversa Afiada - 26/dezembro/2008 11:58

John Roberts, presidente da Suprema Corte Americana dá 430 entrevistas ao NY Times por mês

John Roberts, presidente da Suprema Corte Americana dá 430 entrevistas ao NY Times por mês

. Informa o Estadão – house organ (*) da Presidencia do Supremo, na página A6, que o Presidente Supremo do Supremo, Gilmar Dantas (segundo Ricardo Noblat) vai fazer 12 viagens ao exterior ano que vem.

. Deve ser para explicar aos presidentes de Suprema Corte pelo mundo afora como um presidente de Suprema Corte deve votar fora dos autos, na imprensa.

. É a grande lição que ele tem a dar.

. Deve explicar, por exemplo, como um presidente de Suprema Corte pode manter uma empresa comercial que ensina, à distância, como um advogado deve ganhar uma causa no Supremo.

. É uma forma de compatibilizar princípios éticos que devem espantar, por exemplo, o presidente da Suprema Corte americana que, como se sabe, anuncia seus votos em entrevistas ao New York Times 430 vezes por mês.

. A “reportagem” do Estadão – um press release – diz que, na Alemanha, este ano, Gilmar Dantas (segundo Ricardo Noblat) explicou como deve ser a cota nas universidades brasileiras.

. Tema que, como se sabe, deverá ser apreciado pelo STF…

. O press release do Estadão diz também que seu repórter acompanhou visitas que o Supremo Presidente fez num avião da Força Aérea Brasileira (pode isso?) a Teresina e a Montes Claros.

. “Ao retornar para Brasília, aproximadamente às 22H30M, (o Presidente Supremo) aparentava ser o menos cansado do grupo e ainda tinha pique para conceder entrevistas aos jornalistas.”

. É um super-homem!

. O press release do Estadão cogita de Gilmar Dantas (segundo Ricardo Noblat) vir a ser candidato a vice na chapa do presidente eleito José Serrágio.

. Especulação inútil.

. Então, caro leitor, por que o presidente (**) eleito José Serrágio haveria de querer Gilmar Dantas (segundo Noblat) na chapa?

. Por que ele daria ao Presidente Lula o direito de escolher o nono, NONO ministro do Supremo?

. Por que ele haveria de perder um voto certo no Supremo?, o do Presidente Supremo?

. Press releases, como se sabe, caro leitor, não se levam a sério…

Paulo Henrique Amorim

(*)Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista

(**) O Conversa Afiada mantém a previsão: é mais fácil o Vesgo do Pânico ser Presidente do Brasil do que José Serrágio.

“Ele (Serra) é sem escrúpulo, passa por cima da mãe.”
De Ciro Gomes, numa sabatina na Folha

A VIDA COMO CARNAVAL. 24 HORAS POR DIA.

Site do Azenha - Atualizado em 26 de dezembro de 2008 às 08:44 | Publicado em 25 de dezembro de 2008 às 17:09

Outro dia, mal humorado, escrevi sobre a impressão de que a ajuda aos flagelados pela enchente de Santa Catarina tivesse se tornado uma espécie de "gincana de caridade", onde o mais importante não eram os flagelados, mas a "bondade" dos doadores.

Depois escrevi sobre a ansiedade das crianças de hoje em dia, que precisam ser "divertidas" 24 horas por dia pelos pais.

E um leitor do Viomundo notou que o Jornal da Globo deu mais destaque à Carla Bruni do que ao encontro entre os presidentes da França e do Brasil.

Esses assuntos tão diversos acabaram se encaixando num texto que acabo de ler, do Umberto Eco, sobre a vida contemporânea.

Diz ele, grosseiramente (o texto, em inglês, traduzo livremente):

"Agora, uma das características da cultura em que vivemos é a total carnavalização da vida. Isso não significa que trabalhamos menos, deixando o trabalho para as máquinas, já que dar incentivos e organizar o tempo livre sem dúvida foram objetivos de regimes ditatoriais ou liberais. O fato é que mesmo o trabalho foi carnavalizado.

É fácil e óbvio falar sobre a carnavalização das horas que em média o cidadão gasta em frente do aparelho de TV. Tirando o pequeno espaço reservado para as notícias, a TV oferece em primeiro lugar entretenimento, e nos dias de hoje o entretenimento preferido é o tipo que retrata a vida como uma festa sem fim nos quais palhaços e mulheres lindas atiram não confete, mas milhões em qualquer um capaz de jogar um jogo (e nós reclamamos que os albaneses, seduzidos pelas imagens da Itália, fazem qualquer coisa para entrar neste nosso parque de diversões).

É fácil falar do Carnaval em termos de tempo e dinheiro gasto com turismo de massa e suas ofertas de ilhas do sonho a preços módicos, com seus convites para visitar Veneza -- onde, depois de dar uma de turista, você deixa as latas, o papel e o que sobrou do cachorro-quente com mostarda, como no fim do Carnaval propriamente dito.

Mas consideremos a carnavalização do local de trabalho, onde pequenos robôs amigáveis, fazendo o que antes você fez, transformaram as horas de trabalho em tempo de lazer.

É Carnaval permanente para o trabalhador em escritório que, sem que o chefe saiba, usa o computador para jogar videogame ou visitar a página da Playboy. É também Carnaval para aqueles que dirigem automóveis que conversam com eles, dizem a eles que rua pegar e os expõem ao risco de ter que apertar botões para receber informação sobre a temperatura, o combustível que resta no tanque, a velocidade média e o tempo necessário para fazer a viagem.

O telefone celular [...] é uma ferramenta para aquelas profissões que requerem uma resposta rápida, como médicos e encanadores. Deveria servir aos restantes em circunstâncias excepcionais nas quais, longe de casa, devemos comunicar uma emergência, atraso num compromisso por causa de um acidente de trem, de carro ou enchente. No caso o telefone seria usado talvez uma -- para os sem sorte, duas vezes por dia. Ou seja, 99% do tempo gasto pelas pessoas que vemos com o celular grudado na orelha é diversão. O imbecil que se senta atrás da gente no trem fechando negócios falando alto na verdade é como um faisão com uma coroa de penas e um anel multicolorido em volta do pênis.

Estamos brincando quando gastamos tempo em um supermercado ou num posto de beira de estrada, quando os dois nos oferecem uma infinidade de objetos sem utilidade de forma que, embora você entre para comprar uma lata de café, fica por uma hora e sai com comida para cachorro -- você não tem um cachorro, mas se tivesse seria um Labrador, o cão da moda, que não tem uso como cão de guarda, não pode ser usado para caça e lambe a mão de quem te esfaqueia, mas é ótimo para brincadeiras, especialmente se colocado na água.

[...]

O resultado [da automação] não foi o enobrecimento da classe trabalhadora como condição utópica sonhada por Marx, na qual todos pescam, caçam e assim por diante. Pelo contrário, a classe trabalhadora passou a ser empregada pela indústria da carnavalização como o usuário médio. O usuário já não tem apenas as correntes a perder. Hoje em dia, se algum ato revolucionário causar um blecaute, a classe trabalhadora perderia um episódio de um reality show, por isso ela vota nos que oferecem o show, e continua trabalhando para oferecer mais valia aos que oferecem divertimento.

Se é descoberto que em algumas partes do mundo as pessoas não estão se divertindo, estão morrendo de fome, nossa consciência nos leva a participar de uma grande (e divertida) caridade para coletar fundos para crianças da África, paraplégicos e doentes.

O esporte foi carnavalizado. Como? O esporte é diversão por excelência: como poderia ser carnavalizado? Ao se tornar não um interlúdio que era (um jogo de futebol por semana e as Olimpíadas a cada quatro anos) mas uma presença constante; ao se tornar não uma atividade-fim mas uma empresa comercial. O jogo jogado não importa mais (um jogo, aliás, que se tornou uma tarefa tão difícil que exige o uso de drogas para melhorar a performance) mas o grande Carnaval do antes, do durante e do depois, no qual o público, não os jogadores, jogam toda a semana.

A política foi carnavalizada e agora nós usamos a expressão "política do espetáculo". Enquanto o parlamento perde cada vez mais poder, a política é conduzida através da TV, como os jogos de gladiadores, e a forma de legitimar o primeiro-ministro é fazê-lo encontrar a Miss Italia. E ela não pode aparecer vestida como uma mulher comum (apesar de sua inteligência) mas em seu traje de desfile. Vai chegar o dia em que o próprio presidente da República, para se legitimar, terá que aparecer fantasiado de presidente.

[...]

Alguns gays acreditam que encontraram compensação no Carnaval da Parada Gay para séculos de marginalização. No fim eles foram aceitos, já que nos dias de Carnaval tudo é aceito, até mesmo uma cantora mostrando o umbigo na presença do papa João Paulo II.

[...]

Já que somos criaturas brincalhonas por definição, e que perdemos a dimensão do jogo, obtivemos Carnavalização total. Nossa espécie tem muitos recursos, talvez esteja passando por transformação e vai se adaptar a essa nova condição, mesmo tirando vantagem espiritual disso. E talvez seja bom que o trabalho deixou de ser um fardo, que não temos que passar a vida nos preparando para uma boa morte e que a classe trabalhadora vai finalmente para o paraíso gargalhando. Não se preocupe, seja feliz!

Ou talvez a História tome providências -- uma boa guerra com bombas de urânio, um belo buraco de ozônio -- e o Carnaval vai acabar. Mas precisamos refletir sobre o fato de que a Carnavalização total não satisfaz o desejo, só aumenta. Prova disso encontramos nas discotecas, onde depois de toda a dança e todos os decibéis os jovens ainda saem para a gincana da morte em alta velocidade nas avenidas.

A Carnavalização total pode acabar reproduzindo a situação admiravelmente descrita na velha piada sobre o cara que dá em cima de uma jovem de forma insinuante para dizer: "Ei, broto, tem compromisso depois da orgia?".

ps: do texto "From Play to Carnival", publicado no La Repubblica em janeiro de 2001 e republicado em "Turning Back the Clock, Hot Wars and Media Populism", Hartcourt.

"O CHAPÉU É UMA ESPÉCIE DE CABELEIREIRO-CHEFE"

Conversa Afiada - Atualizado em 25 de dezembro de 2008 às 17:12 | Publicado em 23 de dezembro de 2008 às 12:47

A Carta Capital publicou uma "Brasiliana" adorável, que reproduzo abaixo:

Segunda-feira 15 de dezembro. Vivemos o sexto ano da ditadura do "Estado policial". As liberdades individuais, como se vê diariamente nas ruas, foram suprimidas. Pobres banqueiros e desprotegidos empresários vivem acuados por policiais e juízes, gente esquisita que decidiu cumprir as funções que a sociedade deles exige: investigar e julgar.

Sorte que existe um paladino. Ele atende pelo nome de Gilmar Mendes, preside o Supremo Tribunal Federal (STF) e, às 10h30 da noite, está sentado no centro do Roda Viva, programa de entrevistas da TV Cultura no ar há mais de vinte anos.

Mendes é um democrata, como sabemos, e não foge a nenhuma batalha em nome de sua cruzada pela defesa do Estado de Direito e das garantias individuais. Será sua milionésima entrevista, mas não importa que, dia sim, dia não, ele valha-se dos microfones e holofotes para atropelar uma regra básica da magistratura, a de que um juiz, ainda mais um ministro do Supremo, não pode se pronunciar sobre causas que vai julgar. Mendes oferece opiniões a granel. Quer uma frase contra a demarcação da Reserva Raposa-Serra do Sol? Chame o Mendes. Uma resposta a respeito dos "terroristas" que insistam na reinterpretação da Lei de Anistia? Liga pro Mendes. Ou melhor, espere-o na saída do STF. Precisa de umas aspas que se adéqüe à tese de que juízes de primeira instância e policiais conspiram para instalar um Estado totalitário no Brasil? Cadê o Mendes. Ronaldo, o Fenômeno, no Corinthians?

Não importa que ele banalize a função. Ignora-se, na porção dos defensores da democracia, o fato de que em nenhum país desenvolvido, ou mesmo entre os aspirantes, um presidente da mais alta Corte mercadeje suas opiniões em troca de espaço na mídia. No caso brasileiro, trata-se (como alguém pode duvidar) de um bem-vindo ativismo judicial. Além do mais, informa Mendes lá pelas tantas do programa, ele não participa de um concurso de popularidade com ninguém. Por que então a extensa agenda em São Paulo, iniciada com uma homenagem na Fiesp na sexta-feira 12 e concluída no Roda Vida, salpicada de visitas a empresas de comunicação?

Pena que Mendes, como boa parte dos que se dizem democratas no Brasil, carregue dentro de si um pequeno déspota. Isso lhe tira a chance de ser santificado. E ele, inegavelmente, agiu como um tiranete ante as perguntas da jornalistas Eliana Cantanhêde, da Folha de S. Paulo. É presumível -- e bastante natural -- que o ministro tenha sido informado da lista de entrevistadores. Provavelmente, enganou-se quanto à passividade de Cantanhêde. Havia um turista acidental, Carlos Marchi, do Estadão, alheio ao redor. E o elenco de apoio, do qual se falará em breve.

Em pleno horário nobre, ao vivo, o supremo presidente quase perdeu as estribeiras com Cantanhêde. Também, pudera, ela teve a pachorra de fazer perguntas que não serviriam apenas para o ministro desfiar sua decantada erudição e saber jurídico.

Cantanhêde não quis saber, por exemplo, o que Mendes achava da percepção geral de que o STF é dado a privilegiar réus endinheirados. E também sobre as razões do segundo habeas corpus que libertou o banqueiro Daniel Dantas em menos de 48 horas, apesar de o juiz De Sanctis, que autorizou a nova prisão após o próprio Mendes ter libertado o banqueiro da primeira vez, ter acrescentado provas adicionais no pedido.

Mais cedo, durante evento na seção paulista da Ordem dos Advogados, o ministro havia dito que o habeas corpus é "essencial como o ar". As perguntas de Cantanhêde parecem ter lhe afetado a respiração por instantes. Tentou conter a exaltação cofiando uma inexistente barba. Alvejado por outra pergunta, não se conteve. Em tom áspero, desferiu, primeiro sobre o privilégio a ricos: "Fui eu, não foi você, que denunciou o amontoado de presos". Palmas. Depois, sobre o HC de Dantas propriamente dito. De acordo com ele, o segundo pedido de prisão de Dantas expedido por De Sanctis era "um desafio" lançado com o objetivo de desmoralizar o STF.

Parênteses: Mendes tem cometido outro pecadilho grave para quem empunha a bandeira da democracia com dedicação sebastiana. Confunde o indivíduo, no caso ele, com a instituição, o STF. Criticá-lo é afrontar a mais alta Corte do país. É uma maneira bem republicana de encarar os fatos.

Por causa das perguntas iniciais (será a jornalista da Folha mais uma fascista a atentar contra as liberdades?), o Roda Viva até parece seguir sua dinâmica mais ou menos usual.

Não durou muito, a sensação. Agastado, Mendes foi socorrido pelos cavalariços. Na vanguarda, um chapéu de onde, subitamente, começam a sair palavras. Eis a versão brasileira do "talentoso" Ripley. Sempre com a sua inamovível condição de figurante, sempre tentando ser o que não é, o pobre chapéu, mimetizando trejeitos e tiques de seus objetos de desejo, enquanto tenta manter seus demônios em armários ou em sufocantes cabines de navios. Ripley falava, teorizava, tecia, bordava, cacarejava. Cansado, o câmera mira no entrevistado. Mendes surge então meio enfadado, meio perplexo, cofiando a barba imaginária. Nem o presidente do STF, pós-graduado na Alemanha, consegue acompanhar as diatribes. É dura a vida de um intelectual nos trópicos.

A respeito do chapéu falante, vale acrescentar o texto em que o ombudsman da TV Cultura, Ernesto Rodrigues, trata do Roda Vida (www.tvcultura.com.br): "Passou todo o programa usando Gilmar Mendes -- e às vezes até dispensando a participação do entrevistado -- para expor suas 'teses' e fazer ataques". Desnecessário informar ao distinto público que Rodrigues, após publicar o texto, virou alvo de vendetas no blog do "talentoso" Ripley. O blog, para quem não sabe, abriga-se no site da revista que adotou o slogan "essencial para o Brasil que queremos ser", é freqüentá-lo é como acompanhar uma conversa em um salão de beleza. O chapéu é uma espécie de cabeleireiro-chefe. Ou coiffeur, se preferir.

Sozinho, Ripley, o coiffeur, não daria conta do trabalho. E então entra em campo o seu companheiro de zaga no Mendes Futebol Clube, Dublê, o eterno assessor. A respeito da atuação do dublê de jornalista anotou o ombudsman: "Além de encarnar um velho problema do Roda Viva -- o dos entrevistadores que desenvolvem teses, em vez de perguntar --, deixou claro, com sua participação, de que queria mais usar a bancada para mandar recados e insinuações relacionadas à guerra de blogs políticos em que está mergulhado. Chegou a sugerir ao ministro o enquadramento de colegas de profissão que não identificou por formação de quadrilha". O Dublê entende desses assuntos: mandar recados e formação de quadrilha.

A zaga cumpriu sua função a contento, para a glória do Estado Democrático de Direito. Nem nos intervalos do programa a dupla baixou a guarda, anjos na porta do céu prontos a enviar os infiéis ao inferno. Houve, aliás, um outro Roda Vida, instigante, transmitido exclusivamente pela internet nos intervalos. Nele, a repórter Lia Rangel (será outra fascista?), da TV Cultura, fazia a Mendes as perguntas encaminhadas por internautas. Enquanto Lia tentava fazer o seu trabalho, os jagunços lhe apontavam as armas, na tentativa de intimidá-la. A repórter assistiu às chacotas e cumpriu o seu trabalho, a despeito das maledicências das comadres.

Mendes, outra vez visivelmente incomodado com perguntas impertinentes, preferiu tergiversar, amparado por sua claque. Sobre a declaração de Hugo Chicaroni, ouvida em rede nacional de televisão, de que Dantas contava com facilidades nas "instâncias superiores" do Judiciário, fez-se de desentendido. "Não acredito que se tenha dito isso. É uma forma de coagir os tribunais superiores a não concederem habeas corpus". No mais, o ministro nem sequer precisou se esforçar. Coube ao chapéu falante a ao eterno assessor o trabalho de atacar os desafetos do entrevistado: o juiz De Sanctis, o delegado Protógenes Queiroz, o diretor da Abin Paulo Lacerda. Mendes, vez ou outra, só checava se os alvos estavam realmente mortos.

A partir do terceiro bloco, partiram, todos, para as banalidades. No fim, os espectadores do Roda Viva foram dormir com a firme convicção de que a defesa da democracia brasileira está em boas mãos.