A essa altura a maior parte de vocês já sabe que o Eduardo Guimarães está batendo forte na mídia brasileira e nas previsões catastrofistas que ela faz sobre o futuro da economia.
Simbólico disso é a frase escrita por meu amigo Fernando Rodrigues, que prevê uma "carnificina" no primeiro semestre de 2009.
Não sou tão otimista quanto o Eduardo, nem tão pessimista quanto o Fernando.
Acho que o Eduardo não está considerando o pleno impacto da crise internacional, que será gravíssima. Na minha opinião, não será capaz de provocar recessão no Brasil -- e a torcida de 9 entre 10 analistas da mídia corporativa é para que o Brasil imploda. Isso facilitaria, na visão deles, uma vitória de José Serra em 2010, que é do que se trata.
Desde o escândalo do mensalão a mídia corporativa brasileira produz "crises". Todas as "crises" são federais. Não há crises estaduais. Como notou Paulo Henrique Amorim, não há mais enchentes em São Paulo, mas "pontos de alagamento". Não há caos no trânsito de São Paulo, mas "excesso de veículos". PCC? Crime organizado mandando nas penitenciárias? Sumiram. Agora são "facções criminosas". Que continuam mandando de dentro dos presídios, mas a gente faz de conta que não.
Mas, em nível federal, tivemos várias crises. Tivemos o "caos aéreo", que acabou assim que Nelson Jobim assumiu o ministério da Defesa. Mais uma vez recorro ao PHA para lembrar que a mídia culpou Lula por não ligar o transponder do Legacy e não frear o Airbus da TAM.
Tivemos a "epidemia" de febre amarela. Tivemos o risco de "apagão elétrico", que deveria ter acontecido no fim de 2008. Houve o escândalo dos cartões corporativos, o escândalo do dossiê contra FHC e o escândalo da grampolândia fabricado pela revista "Veja". É de estarrecer que o Brasil não tenha afundado depois de tantos "caos", "crise", "apagão" e "escândalo".
Apesar disso, o governo Lula completou 6 anos com recorde de popularidade. O fato é que o presidente da República colocou em prática um pacto através do qual algumas concessões foram feitas aos brasileiros mais pobres, na forma de aumentos do salário mínimo e de investimento em programas sociais. E a mídia já engajada na campanha eleitoral de José Serra torce pelo rompimento desse pacto.
Em minha opinião o que nos espera nos próximos meses é um aguçamento da disputa política num quadro de escassez de recursos. Os grupos políticos ligados a José Serra e ao presidente Lula vão disputar o eleitorado centrista, não ideológico, seduzível pela proposta de "competência gerencial".
Aqui em Bauru o governo paulista espalhou outdoors celebrando a construção do Rodoanel em São Paulo. Não sei exatamente o que a população de Bauru tem com isso, mas é claro que José Serra vai fazer sua campanha com as obras realizadas no governo de São Paulo.
De sua parte, Lula fez um competente discurso na televisão, enfatizando que o Brasil passou de devedor a credor, que acumulou reservas internacionais, que a inflação caiu e a renda cresceu. Ou seja, também enfatizou a competência gerencial.
Quando a mídia prevê uma catástrofe no Brasil, em 2009, pode estar ajudando o governo Lula. É pouco provável que a economia brasileira entre, de fato, em recessão. Quanto o PIB vai crescer em 2009? Meio por cento, 2%, 3% ou 4%, na previsão otimista do presidente da República? Se o Brasil crescer 2% em um cenário de grave crise internacional o governo Lula chegará em 2010 com fôlego para proclamar: "Enquanto o mundo se acabava, o Brasil cresceu".
Se eu fosse assessor do Lula, faria uma coleção de manchetes catastrofistas para usar lá na frente. Se eu fosse assessor do Serra, escreveria aqui que vem aí um banho de sangue, uma "carnificina".
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