Por motivos profissionais, estive mergulhado na estrutura do crime organizado nas últimas semanas. Nela, o dinheiro do contrabando, do tráfico de drogas, da corrupção política, da lavagem de dinheiro e da sonegação fiscal se misturam.
Há quem diga que essa estrutura é parte integrante da sociedade capitalista, que não há nada de "marginalidade" nela. Que é a fórmula que o sistema encontrou para permitir a acumulação de capital. Pouco importa. O fato é que os paraísos fiscais existem e que cumprem sua função: a de remunerar o dinheiro do crime organizado.
Já fiz referência, neste site, ao livro escrito por Nicholas Shaxson, um jornalista que colaborou com o Financial Times e a Economist e estudou a corrupção política na África e o desvio de dinheiro da exploração de petróleo no continente. Qual foi uma das conclusões dele? Que é necessário regulamentar os paraísos fiscais e que eles acabam incentivando a corrupção ao aceitar guardar dinheiro sujo. E ele afirma taxativamente: a capital do caixa dois é Nova York, não Zurique ou as ilhas Cayman.
No governo Lula o combate ao crime organizado avançou, ainda que aos trancos e barrancos. O juiz federal Odilon de Oliveira, de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, está na linha de frente. Ele poderia hoje ser desembargador. Mas, como fez o juiz Fausto De Sanctis, preferiu permanecer na primeira instância. Vive protegido por quatro agentes da Polícia Federal. Já colocou na cadeia e tomou os bens de traficantes, contrabandistas e sonegadores.
Diz que o Brasil avançou ao construir penitenciárias de segurança máxima, como as de Catanduvas (PR) e Campo Grande. Outras três estão previstas. Diz o juiz Odilon que o país precisa de duas mil vagas em prisões do gênero para poder lidar com os chefes do crime organizado. Nem preciso dizer a vocês que o juiz Odilon elogia a Operação Satiagraha e as atitudes do juiz De Sanctis.
Odilon de Oliveira afirma que o Brasil não foi vencido pelo crime organizado. Ainda. Ele usou a repercussão da operação Satiagraha como exemplo do poder de corrupção do crime organizado nas mais altas esferas do país.
Não tratei disso com o dr. Odilon, mas não me escapou a imagem: enquanto os criminosos que ele condenou o ameaçam de eliminação física, no caso do banqueiro Daniel Dantas o advogado Nélio Machado usa a "pistolagem midiática".
Luís Nassif, em sua série sobre a "Veja", trata dos assassinatos de reputação promovidos pela revista contra os desafetos do banqueiro Daniel Dantas.
A SÉRIE DO NASSIF SOBRE A "VEJA" ESTÁ AQUI
E Paulo Henrique Amorim revelou que Nélio Machado, o principal advogado do banqueiro, também é advogado do bicheiro Castor de Andrade, no Rio de Janeiro.
O SITE DO PAULO HENRIQUE AMORIM FICA AQUI
Não é de admirar, portanto, que os métodos sejam os mesmos do crime organizado.
O que é espantoso é que haja órgãos de imprensa dispostos a colocar a credibilidade na reta para fazer a "pistolagem".
Temo que essa transformação no papel da mídia veio para ficar. Com a transferência do público consumidor dos jornais e revistas impressos para a internet restará a "pistolagem" como forma garantida de remuneração para as cinco famílias que controlam a mídia brasileira: Marinho, Civita, Frias, Mesquita e Sirotski.
Melhor dizendo, famiglias.
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