Na sexta-feira, o presidente americano George W. Bush autorizou um empréstimo no valor de US$ 17,4 bilhões para a indústria automobilística de Detroit. A princípio, a Ford se finge de desinteressada, General Motors e Chrysler estão aguardando. E, sim, o assunto trata de tecnologia.
A reportagem é de Pedro Doria e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 22-12-2008.
Hoje, Detroit, capital da indústria automobilística dos EUA, é a pior cidade para se viver no país. As casas de quem não pagou a hipoteca e que algumas financeiras receberam de volta estão tão difíceis de vender que algumas saem por US$ 1. Não: não é erro do jornal; não faltam zeros. Um dólar, mesmo. Mas não era assim no final do século 19, quando o jovem Henry Ford fundou sua empresa lá.
Henry Ford foi um Steve Jobs de seu tempo. E Detroit foi o Vale do Silício. Os fundadores das grandes empresas de alta tecnologia estão por aqui, ainda. Mas daqui a um século, quando não houver mais Jobs ou Sergey Brin (Google) ou Bill Gates ou Andy Grove (Intel), será possível imaginar a falência total do Vale do Silício? Uma indústria de computadores e internet incapaz de persistir inovando?
A história dos automóveis pode ser resumida mais ou menos assim: primeiro vieram os inovadores que não apenas inventaram os carros. Inventaram toda uma indústria no entorno e uma gigantesca infra-estrutura para sustentá-la. Inventaram, também, formas de baratear sua produção. Daí veio a indústria de postos de gasolina, de estradas, de oficinas mecânicas. Quando o automóvel já estava incorporado a nosso estilo de vida, os inovadores foram substituídos pela equipe de marketing. Como vender? Como aumentar a margem de lucro?
Não quer dizer que marketing, a arte de compreender quem compra e conseguir vender mais, seja ruim. Marketing é fundamental em qualquer indústria. Só não pode ter o comando das rédeas. E foi isso que ocorreu em Detroit.
Inovação é a base de qualquer empresa que trabalhe com tecnologia. Ou seja, olhar para o mundo e compreendê-lo. Antecipar-se e produzir um modelo novo que seja, por exemplo, sustentável. Que ajude o usuário, não o contrário. Que seja melhor do que qualquer coisa que a concorrência tenha para vender.
Já não é há muito tempo que Detroit não tem este tipo de mentalidade. Aqui no Vale do Silício, símbolo de status é ter um Tesla. Custam mais de US$ 100 mil e não tem mais do que algumas centenas deles rodando. São carros elétricos movidos a bateria e tem fila de compradores. E a Tesla é uma empresa do Vale. Também são populares os MiniCoopers - britânicos, a empresa pertence à BMW - e o SmartCar, produzido pela Mercedes. O que Tesla, Minis e Smarts têm em comum é o fato de que são inovadores. Completamente diferentes.
O engenheiro repensou não só a aparência, mas também o tamanho e as necessidades dos carros. Não é à toa que, tão logo faça um dinheiro, qualquer empresário do Vale já vai atrás de um destes. E, sim, são todos carros caros. Caros, afinal, porque não são produzidos em massa para o mercado. Por que não? O sujeito de marketing em Detroit dirá que “não é o que o público quer”. A solução deles são máquinas cada vez mais pesadas, que bebem cada vez mais.
E o mundo está esquentando. E o petróleo, que anda barato, pode subir de novo a qualquer momento.
As Big Three, três grandes de Detroit, não precisam apenas de dinheiro para sair de sua crise. Precisam que Detroit volte a ser um Vale do Silício, como foi um século atrás. A cada ano alguém inventando algo completamente diferente, redesenhando e reimaginando o que um carro pode fazer. Imaginando-o mais econômico, mais durável.
2 comentários:
Oi!
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