União Européia e Brasil vão se aliar nos debates sobre a criação de uma nova arquitetura financeira global na próxima reunião de cúpula do G20, o grupo das sete economias mais desenvolvidas do mundo e dos principais emergentes, que comanda as discussões sobre a crise econômica.
A reportagem é de Denise Chrispim Marin e Wilson Tosta e publicada no jornal O Estado de S.Paulo, 23-12-2008
A aliança está embasada, em princípio, na resistência a uma possível guinada conservadora nas posições sobre a reforma do sistema financeiro a serem apresentadas pela nova administração de Barack Obama, nos Estados Unidos. O encontro se dará em 2 de abril, em Londres, e será o primeiro evento multilateral no qual os EUA serão representados pelo democrata Obama, que assume a Casa Branca em 20 de janeiro.
A iniciativa arremata o posicionamento do Brasil em relação à próxima administração americana. Na semana passada, o governo brasileiro comandou a primeira Cúpula da América Latina e Caribe (CALC), da qual Cuba foi a grande estrela e na qual o Brasil, respaldado pela vizinhança, defendeu a autonomia da região em relação aos EUA. Além do conchavo entre Bruxelas e Brasília, o Plano de Ação da Parceria Estratégica UE-Brasil, anunciado ontem, prevê a criação de um mecanismo de diálogo sobre temas macroeconômicos e financeiros.
Durante o seminário empresarial sobre a parceria estratégica Brasil-UE, Nicolas Sarkozy, presidente da França e do Conselho da União Européia, insistiu que, apesar de ser "amiga e aliada" dos EUA, a Europa tem suas "convicções próprias" e autonomia para "discordar".
Minutos antes, em seu discurso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia frisado que a crise não pode ser resolvida com os "mesmos paradigmas" que a criaram, em uma referência aos conceitos e aos mecanismos vigentes desde a conferência de Bretton Woods (EUA), em 1944, cujas principais heranças institucionais foram o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Lula alertou para o fato de que Obama tomará posse com "uma responsabilidade nas costas" que poucos chefes de Estado tiveram no início do mandato e em um momento em que a economia real não deu resposta à ampla gama de medidas adotadas e de recursos injetados. Reforçou ainda sua mensagem de que o prejuízo da crise financeira "não pode ser socializado", de forma a recair sobre as economias em desenvolvimento.
"Obama vai tomar posse com uma crise da qual os EUA têm mais de 60% da responsabilidade. Só nas bolsas de valores, as ações perderam US$ 31 trilhões. Só na economia (americana) foram jogados US$ 600 bilhões. E a gente não percebe um refluxo", diagnosticou Lula.
Em seu discurso aos empresários, o líder francês apoiou-se na fala de Lula para indicar que se faz necessário debater em Londres o desmonte do "mundo dos especuladores" e o estímulo ao "mundo dos empresários".
Sarkozy foi além e defendeu a "participação do Brasil no novo modelo de governança global". Declarou que o mundo precisa de Lula no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em referência à ambição brasileira por uma cadeira permanente, que contou com o apoio de primeira hora da França. Na União Européia, no entanto, não há consenso sobre o tema.
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