Robert Reich, ex-secretário de Tesouro dos Estados Unidos, diz em seu blog que os empresários de Wall Street e das indústrias automobilísticas americanas aceitam mudanças, desde que nada mude.
É mais ou menos o que tenho percebido no Brasil. Na crise, qual a saída proposta pelos que sempre defenderam o neoliberalismo? Mais do mesmo. Assim que as empresas tiverem incorporado as benesses oferecidas pelo Estado voltarão ao velho discurso de que é preciso diminuir o tamanho do Estado -- responsável, agora, pelo resgate --, cortar os impostos e os programas sociais.
Notem o discurso do presidente da Vale, logo adotado pelos donos de shopping centers, em defesa da "flexibilização" das normas trabalhistas. É de um oportunismo ímpar. Eles realizam lucros extraordinários e, na primeira ameaça de redução destes lucros, pretendem empurrar a conta para as costas dos trabalhadores. Com apoio da mídia corporativa, que afinal existe para expressar a opinião do patronato.
Nos Estados Unidos, Robert Reich fez a primeira previsão para 2009: vai haver um fosso crescente entre o público e os beneficiários diretos da ajuda estatal. Ele se refere à declaração do presidente da Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, de que a estratégia da empresa não deve mudar.
"O que? A Goldman conseguiu 10 bilhões de dólares do contribuinte precisamente porque ela e outros bancos estavam tão carregados de dívida que ameaçavam todo o sistema financeiro. Dá para entender porque Blankfein não quer mudar. Ele levou para casa 54 milhões de dólares no ano passado.(Ele abriu mão do bônus nesse ano e está levando para casa apenas 600 mil dólares). Mas o público espera reforma real quando a Goldman leva 10 bilhões e outros bancos levam dezenas de bilhões", escreveu Reich em seu blog.
O economista diz que ouviu de muitos outros empresários que o problema é "cíclico", não "estrutural". Ou seja, assim que o ciclo acabar os negócios deverão ser retomados sem qualquer tipo de regulamentação.
De acordo com Reich, este será o debate de 2009 nos Estados Unidos. Os empresários dirão que tudo é passageiro e que assim que a crise passar deverão ficar livres para retomar a produção dos SUVs, os jipes que fizeram a fortuna da indústria automobilística americana.
Eu não me surpreendo nem um pouco com isso. Quando a crise financeira ainda não tinha chegado à economia real, nos Estados Unidos, acompanhei com atenção a atuação do "mercado", que colocou um revólver carregado na cabeça do "estado" para forçá-lo a abrir o cofre.
A minha dúvida é se a "velha economia" dos Estados Unidos ainda tem força para mobilizar a opinião pública através da mídia. Presumo que não. Acho que a "nova economia", baseada em serviços, em biotecnologia e em energias renováveis já acumulou forças para se afirmar sobre o poder do automóvel tocado por petróleo.
Essa história de mobilizar as terras de todo um país para produzir biocombustíveis é coisa de Terceiro Mundo. Poluição, meio ambiente detonado? Coisa de países como o Brasil. Na nova disvisão internacional do trabalho, o Primeiro Mundo vai ficar com os produtos de tecnologia intensiva. Nós ficaremos com os "produtos sujos". A não ser que um futuro governo brasileiro se dê conta disso e resolva investir em polos tecnológicos intensivos tirando proveito do grande potencial que o Brasil tem na biotecnologia. Mas isso já seria esperar demais.
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