Faltam somente seis anos e, finalmente, a hipocrisia foi desvendada: os Objetivos do Milênio, a fórmula-slogan com que os poderosos da terra tinham assumido o compromisso de diminuir radicalmente a fome no mundo, não serão atingidos. O novo relatório 2008 sobre “a insegurança alimentar” apresentado ontem pela FAO é, agora, mais que um grito de dor: é um grito de alarme. Ao invés de diminuir, a cota do conjunto dos seres humanos subnutridos aumenta: agora chegam perto de um bilhão. A contagem chega a 963 milhões. Uma cifra é de uma obscenidade insustentável.
A reportagem é de Giampaolo Cadalanu e publicada pelo jornal La Repubblica, 10-12-2008.
Mas também esta cifra será logo superada: o último salto, de 40 milhões de pessoas, foi registrado somente em 2008. Ou seja, ao invés de diminuir, o número dos famintos aumentou em 2008. Há dois anos eram 115 milhões a menos. Em 1996, eram 832 milhões de famintos.
Para salvar os famintos bastam 30 bilhões de dólares por ano. É pouca coisa se se compara com os gastos em armamentos ou com as somas comprometidas pela crise econômica, como sublinha pela enésima vez Jacques Diouf, diretor da FAO. O tema é bem conhecido, mas desta vez a coisa assumiu uma outra dimensão. Há algo novo. Em 2009, o Ocidente e, portanto, o mundo inteiro, será diferente. Yes, we can: deve valer também para os outros, pede Diouf. Deve ser alargada ao planeta inteiro a esperança de mudança suscitada nos EUA pelo advento do primeiro presidente negro. “Pedi a Obama que seja o promotor de uma iniciativa que tenha como objetivo erradicar a pobreza do planeta”, anuncia o diretor da FAO.
65% dos famintos vive em somente sete países, afirma o responsável pela FAO. Na África subsahariana uma pessoa em três sofre de fome crônica. Nos últimos meses irromperam revoltas por causa da fome em 25 países.
“É urgente ajudar o desenvolvimento da agricultura no Sul do mundo: bastaria menos de um décimo dos subsídios agrícolas dos países da OCDE”, sintetiza Marco De Ponte da ONG Action Aid. Mas além disso é preciso intervir logo onde os mecanismos de mercado estão triturando os mais débeis: a população dos países “difíceis” como a Coréia do Norte, o Zimbábue, o Congo. Ou as faixas mais baixas de outras sociedades: os pobres do campo, os trabalhadores sem terra, as mulheres sozinhas com crianças.
É verdade que os mecanismos de controle das emergências, com as intervenções do Programa Mundial de Alimentos, conseguem, geralmente, tirar dos telejornais as imagens chocantes de crianças esqueléticas cobertas de moscas, com a barriga cheia de ar. Mas há uma outra fome, que mina as vidas e acaba com a capacidade produtiva, mais insidiosa porque menos visível. Não é a que mata em poucos meses, mas é a que nega aos seres humanos uma ração calórica adequada e portanto escraviza os pensamentos, enfraquece o sistema imunológico, impede o trabalho. É a que nega também a esperança.
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