O forte impacto da crise financeira global sobre a atividade industrial brasileira derrubou o emprego na indústria pela quinta vez consecutiva. A queda foi 1,3% em fevereiro ante janeiro. Em relação a fevereiro do ano passado, o saldo foi ainda pior: caiu 4,2%, o pior resultado da série histórica da pesquisa, criada em 2001, como revelou a Pesquisa Industrial Mensal: Emprego e Salário, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A reportagem é de Alessandra Saraiva e publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo, 10-04-2009.
"Há um quadro de redução generalizada (no emprego) entre os setores industriais", atestou a economista da Coordenação de Indústria do IBGE, Denise Cordovil. O emprego industrial registrou recordes negativos no primeiro bimestre. Em janeiro, o recuo foi de 2,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior. "Houve aprofundamento na queda do emprego industrial, que segue "encolhendo" na indústria, respondendo à redução na atividade."
A economista explicou que houve "defasagem" na transferência de resultados negativos da produção para o emprego. A atividade industrial já mostrava sinais negativos desde o fim do ano passado, quando a crise se agravou. O emprego também sofreu baques, mas menos intensos. Em fevereiro, a produção industrial caiu 17% ante igual mês de 2008.
O impacto da crise é perceptível quando os resultados de fevereiro são comparados com as taxas de setembro do ano passado, que refletiam os bons resultados do primeiro semestre. Em fevereiro houve queda no emprego, em relação ao mesmo mês do ano passado, dos setores de máquinas e equipamentos (-4,1%) e meios de transporte (-4,7%), por exemplo. Em setembro do ano passado, houve altas de 9,9% e 8,2%, respectivamente.
"É importante lembrar que esses mesmos setores eram os que estavam impulsionando o bom desempenho da atividade industrial, até o agravamento da crise", salientou a técnica do IBGE. Em fevereiro deste ano, também houve recuo nos setores de vestuário (-8,9%); calçados e artigos de couro (-9,6%); e madeira (-14,8%). "Esses setores estão entre os que mais empregam, o que aumenta o impacto no resultado geral de fevereiro", afirmou.
Para a analista da consultoria Tendências Ariadne Vitoriano, a retração foi influenciada pela queda da produção nos dois últimos meses de 2008. "Apesar da tendência de recuperação da indústria no início do ano, os dados de mercado de trabalho ainda devem continuar ruins nos próximos meses, já que a retomada da atividade tem sido lenta."
O número de horas pagas também caiu. O recuo de 5,7% em relação a fevereiro do ano passado foi o pior resultado da série. Sobre janeiro, a queda foi de 0,4%. Para a economista do IBGE, o resultado é coerente com o cenário de fraca atividade industrial. "Se não se produz muito, não há pagamento de horas extras e se reduz as horas pagas também." Já o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rogério Cesar de Souza alertou para as consequências de um recuo em fevereiro. "Cortar horas extras e diminuir número de horas pagas é a primeira coisa que uma empresa faz antes de demitir." Ele projeta piora no cenário ao longo do primeiro semestre.
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