Com acréscimos
Coluna Econômica - 10/04/2009
Imagine que você é um delegado da Polícia Federal e lhe cai nas mãos um caso cabeludo. Começa a investigar e descobre que o caso envolve parte relevante da República. Há toda uma estrutura de crime organizado, mas que pega peixe grande de diversos setores.
Aparecendo um dos peixões, haverá o foro especial e o caso irá para o Supremo Tribunal Federal. Com quatro anos de estudos e investigações, sabe que a tendência do Supremo será abafar o caso, por tendência liberalizante, pela complacência com o crime do colarinho branco e por não entender a necessidade de uma ação de inteligência, às vezes heterodoxa para enfrentar o inimigo.
Sabe que o bandido tem aliados poderosíssimos, nos três poderes e na mídia. E que dificilmente um processo convencional prosperará.
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Sentam-se, então, os investigadores envolvidos no caso - PF e Ministério Público - e montam a estratégia.
Para tornar a operação irreversível, na primeira etapa não poderão aparecer suspeitos com foro privilegiado.
Por outro lado, precisa criar um fato relevante, estrondoso, que jogue o caso na mídia, lhe dê ampla repercussão, para torná-lo irreversível.
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Começa então o grande jogo. O primeiro lance é tratar de plantar na imprensa notícias sobre a Operação, para assustar o suspeito. Pessoas da sua equipe procuram a jornalista e a notícia sai.
O passo seguinte, é montar um baita jogo de cena, como se a notícia tivesse sido vazada por terceiros. E, ao mesmo tempo, fazer chegar ao chefe do bando a disponibilidade para negociar um suborno.
Uma prisão por suborno não abre margem a dúvidas na opinião pública. É muito mais fácil de entender do que intrincadas operações de lavagem de dinheiro e outras manobras financeiras.
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A operação é montada, o suborno filmado. É decretada a prisão do chefe da quadrilha, ao mesmo tempo em que a reportagem do suborno sai no Jornal Nacional. Para impedir qualquer alegação de armação, o delegado trata de pedir a prisão até da jornalista que primeiro divulgou a matéria - o que não é concedido pelo juiz.
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A reportagem no Jornal Nacional é o xeque mate. O caso transborda para a opinião pública, torna-se irreversível. O delegado é sacrificado, como havia previsto no início, quando montou sua grande jogada.
Mas com a água transbordando por todos os lados, o presidente do Supremo Tribunal Federal é obrigado a se expor. Depois dele, políticos, oposição, governo e os jornalões, se enredam na armadilha coletiva, se expondo de uma forma inédita. Inventam-se escutas ambientais, reportagens falsas, factóides, grampos, irregularidades. Mas nada mais consegue recompor o dique e impedir o prosseguimento das investigações.
O delegado é afastado do jogo, mas seu sucessor prossegue. Agora, com o caminho aplainado inclusive para que verdades mais graves possam aparecer.
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A história acima é uma hipótese sobre a Operação Satiagraha, sobre o Delegado Protógenes Queiroz, depois da divulgação do relatório do corregedor Amaro Vieira Ferreira, acusando (embora sem provas) Protógenes de ser o autor do vazamento da Operação Satiagraha para a repórter Andrea Michael, da Folha.
É uma hipótese, mas faz sentido.
Comentário
Quando Protógenes diz que quem arrumar prova para liberar bandido é bandido obviamente estava se referindo ao relatório Amaro. O delegado trabalhou especificamente para levantar provas pró-Dantas.
Comentário 2
Uma segunda possibilidade para o caso Andréa Michael, que não altera o sentido do jogo:
1. Ela teria se insinuado junto a policiais e, com a lábia de boa repórter, conseguido o furo.
2. Com o fato consumado, montou-se a estratégia para fazer do limão uma limonada.
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