"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, abril 11, 2009

Toyota também sucumbe à crise

Instituto Humanitas Unisinos - 11/04/09

A fabricante de automóveis japonesa Toyota mal teve tempo de comemorar a conquista do posto de número um do mundo automobilístico, conseguido no ano passado, quando desbancou a americana General Motors, líder de vendas por 77 anos. Uma das mais lucrativas montadoras, que até este ano não sabia o que era um resultado vermelho em seu balanço, também foi pega pela crise, assim como suas concorrentes.

A reportagem é de Cleide Silva e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 11-04-2009.

A companhia está demitindo funcionários, desativando fábricas e viu sua produção desmoronar 50% em fevereiro. Também recorreu ao governo do Japão para ajuda financeira de US$ 2 bilhões, apesar de seus balanços mostrarem lucros acima de US$ 10 bilhões nos últimos cinco anos. Para o ano fiscal que se encerrou dia 31 é esperado o primeiro tombo financeiro, com perdas próximas a US$ 5 bilhões, segundo analistas.

Também como várias de suas concorrentes, em especial a GM, a turbulência financeira levou o grupo japonês a trocar de presidente. Akio Toyoda, neto do fundador Kiichiro Toyoda, assume o comando da empresa em junho. É o primeiro membro da família a atuar como presidente em 14 anos.

Na Cidade Toyota, na região de Nagoya, onde está a sede do grupo, o clima é tão triste quanto o de Detroit - berço da indústria automobilística americana -, embora ainda não haja quarteirões inteiros com casas vazias e nem sem-tetos nas calçadas. "A cidade foi nocauteada, pois tudo gira em torno da Toyota", diz, por telefone, o brasileiro Francisco Freitas, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Maquinário e Informática do Japão. Cerca de 80% da mão de obra local está ligada às atividades da montadora.

Além da queda nas vendas no mercado japonês, a Toyota perdeu milhares de encomendas dos EUA, para onde exporta metade de sua produção, segundo Takanori Suzuki, ex-presidente do Banco de Tóquio no Brasil e atualmente consultor de empresas. A valorização do iene, a moeda local, também castiga as empresas exportadoras, diz. Ao visitar a Cidade Toyota recentemente, Suzuki conta ter se surpreendido com um fato corriqueiro. "Antes, eu esperava 20 minutos para pegar um táxi; agora, não há fila." Segundo ele, há um boom de abertura de "botequins" na cidade. São trabalhadores desempregados tentando uma alternativa de sobrevivência.

A cidade ganhou o nome Toyota quando Kiichiro Toyoda a transformou em base para a produção de automóveis, depois da falência das empresas locais no período que se seguiu à crise de 1929. Quase tudo na cidade é mantido pela Toyota, do estádio esportivo à sala de concertos, do museu de artes ao shopping center.

Gilberto Kosaka, diretor executivo do Lean Institute Brasil, consultoria especializada no conceito de produção enxuta da Toyota, lembra que, no Japão, a Toyota só contrata japoneses. Já outras empresas do grupo e as autopeças admitem imigrantes, especialmente os dekasseguis brasileiros.

Na crise, os imigrantes são os primeiros a serem demitidos. Na autopeças Asmo, na província de Shizoka, 642 brasileiros foram demitidos desde dezembro e apenas 30 japoneses, informa Freitas, um cearense casado com uma nissei que vive no Japão há nove anos. Na leva de demitidos estão sua esposa e um filho.

"A Toyota quebrou o paradigma de estabilidade no emprego", constata o diretor da consultoria Kaiser Associates, David Wong. Neste ano, a empresa demitiu só no Japão 9 mil trabalhadores, mais de 10% de sua mão de obra.

No ano passado, quando ganhou a liderança mundial, a Toyota vendeu 8,97 milhões de veículos ante 8,35 milhões da GM. Para chegar a esse posto, a empresa cresceu sucessivamente. Dez anos antes, a montadora havia vendido 4,6 milhões de veículos. Sua trajetória, porém, não foi só de acertos.

A Toyota também foi enganada pelo mercado de utilitários esportivos nos EUA e construiu uma fábrica no Tennessee só para a produção desse tipo de veículo. Pronta, ela continua fechada. "A escolha do produto foi errada", avalia Hans-Rudolf Roehm, executivo da consultoria internacional Deloitte. Porém, apesar da situação atual complicada, é unânime entre consultores que a empresa seguirá nos próximos anos como a número um do mundo automobilístico.

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