"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

domingo, março 21, 2010

A alta tecnologia rumo à China

Blog do Luis Nassif - 21/03/2010 - 09:21

Da Folha de S.Paulo

China atrai alta tecnologia americana

Com expansão acelerada da economia asiática, empresas querem seus pesquisadores mais perto das fábricas e dos consumidores

Apropriação de tecnologia é um dos desafios que as empresas norte-americanas que se mudaram para a China têm pela frente

KEITH BRADSHER
DO “NEW YORK TIMES”

Por muitos anos, alguns dos melhores cérebros da China deixaram o país em troca dos Estados Unidos, onde o setor de alta tecnologia era mais avançado. Mas Mark Pinto está fazendo o percurso oposto.
Pinto é o primeiro vice-presidente de tecnologia de uma grande empresa americana do setor a se transferir para a China. A empresa, Applied Materials, é uma das mais proeminentes do Vale do Silício. Forneceu equipamentos usados para aperfeiçoar os primeiros chips de computadores. Hoje, é a maior fornecedora mundial de equipamentos empregados para produzir semicondutores, painéis solares e telas planas para TVs e monitores.
Além de transferir Pinto e sua família a Pequim, a Applied Materials, que tem sede na Califórnia, acaba de construir seus mais novos e maiores laboratórios de pesquisa lá.
E não está sozinha. Empresas -e seus engenheiros- estão sendo atraídas em número cada vez maior à China, à medida que o país desenvolve uma economia de alta tecnologia que concorre diretamente com a dos Estados Unidos.

Algumas poucas empresas americanas estão até mesmo fechando acordos com chinesas para licenciar tecnologia desenvolvida no país asiático.

Mercado em expansão

O mercado chinês de eletricidade, automóveis e muitos outros segmentos está em alta, e as empresas têm chegado à conclusão de que seus pesquisadores precisam estar perto das fábricas e dos consumidores. A Applied Materials instalou seus mais recentes laboratórios de pesquisa solar na China, estimando que o país deve responder por dois terços da produção mundial de painéis solares até o final deste ano.

“Não é que estejamos desistindo dos EUA, obviamente”, disse Pinto. “A China precisa de mais eletricidade. É só isso.”

A China se tornou o maior mercado mundial de automóveis, e a GM tem um grande, e em expansão, centro de pesquisa automobilística em Xangai. O país também representa o maior mercado mundial de PCs e tem o maior número de usuários de internet. A Intel abriu laboratórios de pesquisa sobre semicondutores e redes de servidores, em Pequim.

Política de subsídios

Atraídas não só pelos mercados chineses, as empresas ocidentais também se interessam pelas grandes reservas de engenheiros altamente capacitados e de baixo custo que o país oferece -e pelos subsídios que muitas cidades e regiões chinesas propiciam, especialmente ao setor de energia verde.

Pequenas empresas de energia limpa também estão a caminho da China. A NatCore Technology, de Nova Jersey, recentemente descobriu um modo de tornar os painéis solares muito mais finos, reduzindo a energia e os materiais tóxicos requeridos para fabricá-los. As companhias norte-americanas não se interessaram nem mesmo em observar a tecnologia e, por isso, a NatCore fechou acordo com um consórcio de empresas chinesas para concluir o desenvolvimento de sua invenção e colocá-la em produção no país.

“Esses outros países -China, Taiwan, Brasil- estavam muito interessados em nosso sistema”, disse Chuck Provini, presidente-executivo da NatCore. O presidente Barack Obama faz frequentes referências a criar nos Estados Unidos empregos no setor de energia limpa. Mas a China é que demonstrou a vontade política necessária a fazê-lo, disse Pinto O governo municipal de Xi’an cedeu em comodato por 75 anos um terreno à Applied Materials, com grande desconto ante o valor de mercado, e reembolsará à empresa cerca de 25% dos custos operacionais do complexo por cinco anos.

Os dois laboratórios, os primeiros de sua espécie no mundo, têm cada qual tamanho superior a 200 metros. A Applied Materials continua a desenvolver os sistemas eletrônicos básicos de suas complexas máquinas em laboratórios nos Estados Unidos e Europa. Mas montar todas as máquinas em sistemas integrados e descobrir como processos que permita que trabalhem juntas é tarefa que será realizada em Xi’an.

Roubo de tecnologia

A Applied Materials tem desafios maiores pela frente, entre os quais o combate ao roubo de tecnologia, problema crônico na China.

A companhia tomou medidas que incluem selar as portas de seus computadores, a fim de prevenir o uso fácil de “flash drives” para gravar dados.

Os funcionários não podem tirar computadores do complexo sem autorização especial, e um sistema elaborado de senhas para as máquinas e portas limita o acesso a certos segredos tecnológicos.

Mas nada disso altera a sensação de que existe uma mudança tectônica em curso. Quando Xie Lina, 26, engenheira da Applied Materials em Xi’an, foi perguntada recentemente se a China teria papel importante a desempenhar no futuro da energia verde, a pergunta a surpreendeu. “A maioria dos estudantes de pós-graduação da China está se concentrando nessa área. É claro que a China liderará em tudo.”

Tradução de PAULO MIGLIACCI

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2103201020.htm

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