“O Estado e o BNDES, na condição de que estão escolhendo setores para serem os vitoriosos, têm a obrigação de atuar também através do planejamento das empresas e exigir que elas cumpram determinados compromissos. Essa é uma medida imposta em qualquer país civilizado. Isso não é interferência indevida; é papel regulador do Estado. Infelizmente, isso não está sendo feito”, afirma Luís Nassif, jornalista, analisando as megafusões de empresas patrocinadas pelo BNDES. O jornalista concedeu uma entrevista à revista IHU On-line desta semana.
A dificuldade que o Estado tem de atuar como regulador é explicada pelo jornalista da seguinte maneira:
“Os grupos acadêmicos que ascendem à política econômica têm uma visão de país que, às vezes, é incompleta. Luciano Coutinho, presidente do BNDES, é muito preparado. Mas a visão dele é a mesma da Unicamp, ou seja, fortalecer os grandes grupos industriais brasileiros; a visão da PUC-Rio é fortalecer os grandes grupos financeiros brasileiros”.
E Luís Nassif pergunta:
“Onde é que entra, nesse jogo, a pequena e média empresa, a cadeia produtiva de cada setor? Não se mudou essa lógica, ainda, porque a pequena e média empresa não fazem parte do jogo político. Toda a formação desses institutos só consegue entender aquele Brasil que existia na década de 60, que era um país sub-industrializado. Naquele contexto, a grande empresa era importante porque representava modernização, tecnologia. Hoje, o país é complexo. Existem diversas cadeias produtivas em todos os lugares. Então, os nossos economistas ainda não entenderam essa visão integrada. Ainda persiste aquela visão anacrônica de que focar na grande empresa financeira ou industrial é suficiente para o crescimento do país”.
Perguntado sobre as possíveis candidaturas presidenciais, Nassif diz que vê Serra desmanchando.
Ele diz:
“Vou ser abusado: penso que é mais fácil uma competição entre Dilma e Marina. Estou vendo o Serra desmanchando. Ele não conseguiu, nesse período, definir um perfil político. Tinha um perfil de centro-esquerda, de repente se alia a uma direita raivosa, muito complicada. Nesses anos que passou em São Paulo, ele poderia sair do estado com um cartão de visitas fantástico. Mudar São Paulo é muito mais fácil do que mudar o Brasil. No estado, estão as melhores universidades, institutos de pesquisa, melhor infraestrutura, melhor rede de cidades médias. Ele não conseguiu articular uma política de inovação. Além disso, adotou um comportamento extremamente autoritário em relação à mídia.
E conclui:
“Seja quem for o presidente, terá que saber articular com todas as forças da sociedade; Lula deu a receita. O Serra mostrou nenhuma capacidade de diálogo com ninguém. Não dialogou com os sindicatos, entrou em conflito com a universidade. Ele não tem o menor jogo de cintura para administrar o Brasil”.
A versão eletrônica da IHU On-Line desta semana estará disponível, nesta página, hoje, segunda-feira, a partir das 16h.
A edição impressa circulará amanhã, terça-feira, no câmpus da Unisinos, a partir das 8h.
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