O presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi violentamente repudiado, arrastando para a derrota a direita da qual é o líder. A esquerda recuperou-se quando todos achavam que estava prestes a ser enterrada. Os resultados foram cruéis e, portanto, por dois anos, a França será dirigida por um partido minoritário e um presidente desacreditado.
O comentário é de Gilles Lapouge, jornalista francês, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 23-03-2010.
As urnas de domingo nos deram duas imagens impressionantes de sua decepção. A primeira é a renovação da Frente Nacional, de Jean-Marie le Pen, um partido fascista, xenófobo e barulhento. E há um segundo sinal: observamos uma proporção de abstenções raramente vista - 50% dos cidadãos em idade de votar não saíram do lugar. Em outras palavras, um francês em cada dois considera que a política não tem o menor sentido.
Deveríamos falar do "desencanto francês"? Será preciso procurar um culpado por este estado de coisas? Acredito que existam causas mais globais, e é preciso buscá-las não no campo do "político", mas no da "história".
A Europa como um todo padece de certa melancolia. Em parte, por causa de suas dificuldades econômicas. Mas ela tem consciência de que sua voz está abafada e os destinos do planeta já não são forjados na velha Europa, mas em outros continentes. E isto ocorre no momento em que a grande ideia da Europa Comum está sendo tão mal administrada, tão pobremente defendida que é mais rica em derrotas e decepções do que em glórias e grandes feitos. O desencanto europeu é um desencanto histórico.
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