Diante da perspectiva de ver todo um setor da economia afundar com a crise, o presidente francês Nicolas Sarkozy anunciou ontem um pacote de ao menos 7,5 bilhões de euros (US$ 9,8 bilhões) para salvar a indústria automobilística, que emprega 10% da mão-de-obra do país. Mas exigiu uma contrapartida: as montadoras terão que manter suas fábricas na França e não mais demitir enquanto o empréstimo estiver vigente.
A reportagem é de Deborah Berlinck e publicada pelo jornal O Globo, 10-02-2009.
O anúncio provocou reações imediatas entre os parceiros na União Europeia. O presidente do bloco, o primeiro-ministro tcheco, Mirek Topolanek, convocou uma reunião extraordinária para o fim do mês para debater ações coordenadas contra a crise econômica e conter o que chamou de medidas protecionistas:
— Ações protecionistas seletivas e declarações, entre elas a do presidente francês, Nicolas Sarkozy, me levaram a convocar essa cúpula extraordinária — disse o premier.
O pacote francês inclui empréstimos de C 6 bilhões para as montadoras Renault e PSA Peugeot Citröen (C 3 bilhões cada), além de 500 milhões de euros para a Renault Trucks — unidade de caminhões da fabricante francesa controlada pela sueca Volvo.
O crédito, que deverá ser usado para o desenvolvimento de veículos menos poluentes, será concedido por um período de cinco anos à taxa anual de 6%, em vez dos 11% a 12% aplicados pelos bancos. Além disso, o Estado francês vai injetar mais1 bilhão de euros nas financeiras de Renault e Peugeot.
No fim do ano passado, as montadoras dispensaram milhares de trabalhadores, diante do desmoronamento do mercado europeu — as vendas do setor caíram 7,9% em dezembro.
Em comunicado, a Renault disse que não pretende “implementar programas de reestruturação no país em 2009.” A Peugeot disse que não haverá fechamento de fábricas nos próximos cinco anos, mas só deu garantias de que não haverá demissões em 2009. Disse ainda que vai lançar nos próximos dois anos um ou dois modelos novos de carros nas cinco fábricas que tem na França.
— Saúdo este compromisso porque ele assegurará que uma crise aguda, mas temporária, não destruirá uma parte de nossa base industrial — disse Sarkozy, ao sair de encontro com executivos do setor.
— Não é um presente ou um subsídio. É um empréstimo.
BC francês prevê recessão em 2009
Ontem, o banco central francês disse que o país entrará em sua primeira recessão em 16 anos neste trimestre, com a expectativa de retração da economia de 0,6%. No quarto trimestre de 2008, houve contração de 1,1%.
Por mais que tentasse vender a ideia de que o pacote não é uma medida protecionista, o anúncio despertou fortes reações.
— Temos que tomar cuidado para que não nos tornemos protecionistas ou os alemães só vão comprar carros alemães, os franceses só (os carros) franceses) e os americanos (só vão comprar) o aço americano. Sabemos por outras crises que precisamos de mercados abertos — disse a chanceler alemã Angela Merkel, em Berlim.
A Comissão Europeia, por sua vez, disse que “terá de examinar cuidadosamente os detalhes dos subsídios, as condições para o compromisso com a ajuda governamental e as regras de mercado”, para verificar se o pacote não fere a concorrência. Ela terá que aprovar o plano antes de ele ser posto em prática.
Em Genebra, o diretor-geral da Organização Mundia do Comércio (OMC), Pascal Lamy, disse que vai monitorar possíveis medidas protecionistas.
França e Alemanha enviaram ontem carta à presidência da UE, pedindo reunião para discutir a crise.
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