"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Rublo: moeda de reserva regional?



Os dirigentes russos não se cansam de apregoar que o rublo, moeda nacional da Rússia, pode e deve transformar-se numa moeda de reserva regional, mas as ambições são “arrefecidas” pela crise económica e financeira.
Há um ano atrás, dirigentes e cidadãos russos olhavam com optimismo para o futuro. Em 2007, o Produto Interno Bruto russo conhecera um crescimento recorde de 08,1pc e os prognósticos para 2008 eram de 07,6 pc, o que permitia acreditar na promessa do primeiro-ministro Bladimir Putin de duplicar o PIB até 2010.
O alto preço dos combustíveis no mercado mundial, o aumento em flecha dos investimentos estrangeiros na economia russa o reforço do rublo em relação ao dólar levaram os dirigentes russos a defender a transformação da moeda nacional numa divisa de reserva, convertível.
“A partir das altas tribunas, a direcção do país começou a falar da transformação do rublo numa divisa de reserva, por enquanto regional, mas claramente com planos posteriores mais ambiciosos”, recorda a analista económica Ekaterina Mereminskaia.
Hugo Chavez e Daniel Ortega, presidentes da Venezuela e Nicarágua, defenderam, em Dezembro passado, a transformação do rublo russo na moeda de reserva da Alternativa Bolivariana para a América.
Não obstante as declarações de Vladimir Putin e de outros dirigentes russos de que a Rússia era uma “ilha de estabilidade”, de que “o país não será atingido pela crise”, os investidores estrangeiros começaram a debandar do mercado russo, a produção desceu abruptamente e o rublo entrou numa perigosa queda.
Porém, no início de Fevereiro, Putin voltou a defender a transformação do rublo em moeda de reserva pelo menos no interior da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), organização que reúne 11 das 15 antigas repúblicas da URSS.
Ele assinalou, nomeadamente, que “90pc das mercadorias russas exportadas para a Bielorrússia são pagas em rublos e 45pc das importadas”.
Além disso, Moscovo defende que os combustíveis russos podem ser vendidos em rublos aos países estrangeiros, existindo já contratos assinados com a Bielorrússia, o Cazaquistão e outros países da CEI.
No entanto, os analistas, não pondo de parte a possibilidade de o rublo se vir a tornar no “dólar da CEI”, consideram que isso não está para breve.
“Claro que, potencialmente, o rublo se pode transformar numa divisa de reserva! Mas tomemos como exemplo a Ucrânia, um forte parceiro comercial nosso... Aí, a grivna (moeda nacional ucraniana) perdeu, num curto espaço de tempo, 2/3 do seu valor em relação ao dólar, o rublo perdeu 1/3. Como será possível estabelecer um câmbio fiável entre essas moedas se não se sabe o que irá acontecer com elas amanhã?”, pergunta Andrei Netchaev, antigo ministro da Economia da Rússia e actual presidente da “Corporação Financeira da Rússia”, em declarações aos jornalistas.
O economista kazaque Dossim Satpaev, director do “Grupo de Avaliação de Riscos”, chama a atenção para outros obstáculos.
“Em muitos países da CEI, nomeadamente da Ásia Central, há desconfiança em relação à Rússia. Todos vêem que a Rússia tenta reforçar a sua influência, reforçar as suas posições, e eles receiam que, ao ao avançar essa ideia, a Rússia simplesmente quer impôr o seu domínio económico”, considera ele.
“Além disso, embora já tenham passado 17 anos da desintegração da URSS, muitos ainda recordam como a Rússia expulsou esses países da zona do rublo”, acrescentou.
“Para que o rublo seja visto como o dólar ou o euro, é preciso percorrer um longo caminho... Hoje, essa questão precisa ainda de ser bem estudada”, considera Karim Massimov, primeiro-ministro do Cazaquestão.

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