“Há mais pessoas que desistem do que pessoas que fracassam”. (Henry Ford)
Por Hiram Reis e Silva – Santo Antonio do Içá (10/Dez/2008)
- Largada para São Paulo de Olivença
A Fabíola abandonou, temporariamente, a equipe indo de ‘recreio’ (barco a motor) para São Paulo de Olivença. Saímos, dia 05 de dezembro, eu e o Romeu, exatamente às 6 horas e fomos brindados com um amanhecer fantástico. A leste, matizes formidáveis enfeitavam os céus e, a oeste, um arco-íris completo, o primeiro que pude observar em toda a minha vida, formava um perfeito semi-círculo. O Romeu teve de se desdobrar para remar, sozinho, um caiaque duplo. Mesmo assim, descontadas as paradas de descanso, conseguimos fazer em cinco horas o que os barcos a motor fazem em quatro. Chegamos a São Paulo por volta das 12h.
- São Paulo de Olivença
Conforme tinha nos orientado o amigo Sub-Oficial da Marinha Clementino, atracamos junto ao frigorífico azul do Nonato, prefeito eleito de São Paulo. Solicitei a um de seus servidores que entrasse em contato com a Polícia Militar local para nos apoiar. Uma viatura imediatamente se apresentou no local e, graças a ela, contatamos o delegado e depois descarregamos nossos pertences no Hotel Marques, a poucos metros do frigorífico. As instalações não podiam ser mais simples, mas por R$10,00 a diária não tínhamos por que reclamar. Conhecemos a cidade e, por toda ela, a influência dos capuchinhos era patente: na igreja matriz, casa paroquial e na escola recém-restaurada. Não conseguimos estabelecer contato com o pároco, já que o mesmo estava em Tabatinga.
Conseguimos acessar a internet e mandar alguns arquivos de fotos através de uma amiga professora.
- Contatos
Estabelecemos alguns contatos interessantes na cidade. Um deles com o Sr. Bonifácio, personagem emblemática da cidade, e outro com uma amiga professora, que nos relatou o caso da menina Íris, cujo desaparecimento na floresta envolveu toda a cidade. Ambos os relatos estão disponíveis no link:
< http://diarioriomar.blogspot.
- Largada para o município de Amaturá
O mapa não retrata corretamente o nome das comunidades, por isso me preocupei apenas com a localização geográfica de Amaturá, na margem esquerda do Solimões a uns 5 quilômetros da ilha de Caturiá. Saímos às 6h e 45min do dia 7 de dezembro, com o dia nublado. Havia chovido muito na véspera e a temperatura estava agradável. A primeira parada foi na foz do rio Jandiatuba. Histórias de americanos explorando ouro no seu leito e impedindo os ribeirinhos de adentrar na sua área são bem conhecidas. O rio serve, ainda, de rota alternativa para o tráfico, pois possibilita contornar o posto da Polícia Federal (PF) chamada Base Anzol. Com a presença ostensiva da PF, os ilícitos estão sendo solucionados.
A segunda parada na Comunidade Porto Lutador foi rápida, e a comunidade tikuna se mostrou bastante amigável. A terceira parada foi já ao sul da ilha Caturiá, onde encontramos um mineiro, casado com uma cabocla, chamado Paschoal. Descansamos à sombra generosa de uma frondosa árvore. Paschoal é um homem inteligente e falante. Contou alguns casos de estranhas luzes, de que já ouvíramos falar desde Feijoal. Fizemos uma parada estratégica para dimensionarmos o tamanho da próxima comunidade e nos dirigimos até ela. Fomos orientados a entrar em contato com o vereador Torquato Araújo, dono de um flutuante que, junto com sua esposa Leila, acolheu-nos fraternalmente. Eu e o Romeu fomos tomar banho num igarapé local para recompor as energias. Sua esposa nos ofereceu um jantar formidável. Após, nos recolhemos no flutuante para dormir. Acordamos mais tarde, já que o deslocamento até Amaturá era de apenas 40 Km. Fomos novamente brindados com um café com banana frita e outras guloseimas preparadas pela encantadora Sra. Leila.
- Largada para Amaturá
No dia 08 de dezembro partimos. A vista de Amaturá é reconfortante. O encontro das águas pretas do rio Acuruí com as barrentas do Solimões é um espetáculo à parte. Protegida das investidas do rio, o barranco gramado ostenta o nome da cidade e, ao fundo, as construções dos capuchinhos dão um ar nostalgicamente agradável à cidade. Deixei a equipe tomando conta dos barcos e me dirigi, a pé, à Polícia Militar, já que o 190 não funcionava. Mais uma vez a cortesia dos oficiais militares foi patente e, depois de procurarmos junto com o Presidente da Câmara Municipal um hotel para pernoitarmos, fomos acolhidos, gentilmente, pelo prefeito Luiz Pereira na sua Fundação. Tentamos, em vão, uma entrevista com ele.
O Romeu sugeriu procurarmos a Dona Nessi, anciã local, com mais de 100 anos de idade. Filha de um peruano com uma índia Cambeba, possui uma lucidez invulgar para alguém de idade tão avançada. Apesar de ter a vista e a audição prejudicadas, historiou sobre a chegada dos capuchinhos, citando nominalmente cada um, sua procedência e personalidade. Emocionou-se quando falou dos filhos, alguns já falecidos. Contatei o frei, que me prometeu uma entrevista para o dia seguinte a partir das 5h 30min. Provoquei-o e ele discorreu com invulgar conhecimento sobre a história dos capuchinhos e sua influência nas áreas da educação e desenvolvimento da região.
Como prometido, às 5h 15min, do dia 9 de dezembro, eu estava na praça esperando o frei, que não apareceu. Partimos então para Santo Antonio do Içá.
(*) Coronel de Engenharia; professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA); membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB); presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS)
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