Por alexandre andrade
vc leu a entrevista do protógenes na caros amigos? tá no blog do noblat ! ele faz acusações pesadas ao fhc e ao armínio fraga. o problema é que ele cita situações do mercado financeiro que me fez ficar meio confuso na leitura da entrevista. acho que vc poderia explicar o que ele disse na entrevista.
Comentário
Vou explicar tecnicamente a operação, mas sem endossar a priori as acusações de Protógenes.
No final do governo Sarney, quando houve a moratória, o então Ministro Maílson da Nóbrega assinou uma das medidas mais escandalosas da moderna histórica econômica brasileira. Descrevo parcialmente no meu livro “Os Cabeças de Planilha”.
Permitia-se que créditos externos pudessem ser convertidos em cruzados para aplicação em empresas brasileiras. Dependendo da região, o deságio (desconto sobre o valor da dívida) era menor.
Períodos de moratória sempre abrem margem a enormes bandalheiras com dívida externa. Com a moratória, o deságio (desconto) do valor de face dos títulos é imenso. Digamos que o credor externo tenha US$ 100 milhões para receber. Sem perspectiva de recebimento, ele aceita vender os papéis por, digamos, US$ 1 milhão.
Se o comprador tiver esquemas com o governo do país devedor, basta adquirir a dívida por, digamos, 1% do valor de face e revender por, digamos, 50%, 60%. US$ 1 mi vira US$ 50 ou 60 milhões. Isso ocorreu nos anos 40, nos anos 50, no final dos anos 80 e ajudou a consolidar grandes fortunas. Aliás, será curioso acompanhar como o Equador vai administrar sua moratória. Pago um jantar no Pandoro a quem quiser apostar que não haverá bandalheira.
No final dos anos 80 houve uma corrida inicial que criou fortunas, mas em cima de dívidas de estatais, de governos estaduais e de empresas privadas. Maílson escancarou a porteira para dívidas soberanas (com o Tesouro).
Quando Maílson criou a exceção, houve uma verdadeira corrida ao Banco Central, atrás de autorização para conversão. Não foi um jogo totalmente aberto, porque alguns bancos estrangeiros acabaram ficando de fora.
Depois disso, a gestão dessa conversão tornou-se uma caixa preta, assim como muitas outras medidas adotadas pelo Banco Central nos anos 90.
O que o Protógenes narra é uma exceção que teria sido aberta pelo Armínio Fraga, então diretor do BC, no período em que Fernando Henrique Cardoso era Ministro da Fazenda. E que teria beneficiado uma amiga do ex-presidente, companheira de um ex-embaixador brasileiro. Protógenes sugere que FHC possa ter sido beneficiado.
Mas vamos com cuidado nessas histórias. Protógenes é um grande investigador mas, quando entra na análise de operações financeiras sofisticadas, costuma se enrolar. Como ocorreu no seu relatório, aliás, quando supôs que o Naji Nahas receberia informação privilegiada do FED (o BC americano), ou que haveria operações tenebrosas com o Fundo Soberano.
No período em que FHC foi Ministro da Fazenda, ao contrário do que diz Protógenes, Arminio Fraga já não estava mais no Banco Central. O diretor da área internacional era Gustavo Franco. Não me lembro de ter ouvido falar em desdobramentos dessa operação nesse período. Sempre me pareceu que ela se esgotou na autorização para a conversão, no tempo de Maílson.
Protógenes fala em prazo para a efetivação da operação e em autorizações que não obedeceriam às formalidades do BC. De qualquer modo, levantou a tampa da caixa de Pandora. Um mapeamento desse processo de conversão, desde sua implantação por Maílson, ajudaria a comprovar muito do que levanto em meu livro.
Na verdade, esse episódio da conversão de dívida externa foi o primeiro capítulo da grande aliança entre economistas do Cruzado/Real e os novos financistas que surgiram nos anos 80.
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