A expansão da economia americana que se iniciou em novembro de 2001 chegou ao fim em dezembro do ano passado. Desde então, a atividade econômica está oficialmente em recessão. O que diversos índices e o dia-a-dia sugeriam nos últimos meses foi confirmado ontem pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica (NBER, na sigla em inglês).
A reportagem é de Sérgio Dávila e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 02-12-2008.
É a primeira recessão desde o ataque terrorista de 2001 e já uma das mais longas desde a Crise de 1929. Ocorre no final do segundo mandato de George W. Bush, mais uma das heranças negativas que o republicano entrega a Barack Obama.
"Sinto muito que [a crise econômica] esteja acontecendo, é claro", disse Bush em entrevista à emissora ABC que iria ao ar na noite de ontem -a conversa foi gravada na quarta, antes do anúncio oficial. "Obviamente, não gosto da idéia de as pessoas perderem empregos."
Assinado por sete economistas ligados à academia, entre eles Robert Hall (Stanford) e Martin Feldstein (Harvard), o relatório aponta o desemprego atual como fator determinante para que o início fosse determinado em dezembro de 2007. Nos primeiros dez meses de 2008, os EUA perderam 1,2 milhão de postos de trabalho -o desemprego está em 6,5%.
"Recessão é um declínio significativo na atividade econômica espalhado pela economia, que dura mais que alguns meses, é normalmente visível na produção, no emprego, na renda pessoal e em outros indicadores", diz a declaração escrita na sexta e divulgada ontem.
Espécie de instituto de meteorologia econômica ao contrário, pois prevê o passado, o NBER é uma organização não-governamental que determina quando o país entrou em recessão e, depois de encerrada, dizer qual foi a duração. Faz isso sempre com meses de atraso.
Pois, segundo o instituto, o período mais recente de expansão da economia americana durou 73 meses, ante 120 meses do anterior, nos anos 1990. Uma das definições mais comuns de recessão são dois trimestres consecutivos de queda no PIB. Para o NBER, esse é só um dos fatores a levar em conta, junto de desemprego, produção industrial, receita e vendas em indústria e comércio.
O anúncio da recessão oficial ajudou as ações a desabarem em Nova York - 7,7% no índice Dow Jones, em queda de 680 pontos, com efeito negativo nos mercados do mundo inteiro.
Chega após o fraco fim-de-semana da "Sexta-Feira Negra", como é chamado o dia seguinte ao feriado de Ação de Graças nos EUA, uma das datas mais importantes do comércio dos EUA. Nesse período, as vendas cresceram cerca de 3%, ante 8,3% no mesmo período de 2007 em relação a 2006.
Também ontem, o Instituto de Gestão de Oferta (ISM, na sigla em inglês) divulgou que em novembro a atividade no setor industrial dos EUA caiu ao menor nível desde maio de 1982, para 36,2 pontos, ante 38,9 em outubro. É o 12º mês consecutivo de redução nas encomendas e pior que os 38 pontos previstos pelos economistas -marcas menores que 50 pontos indicam contração da economia.
A completar o dia de notícias negativas, o Departamento do Comércio afirmou que os gastos em construção tiveram queda de 1,2% em outubro e baixa de 4,6% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Ainda ontem, o presidente do Federal Reserve (BC dos EUA), Ben Bernanke disse que a economia seguirá enfraquecida e acenou com a possibilidade de haver novo corte de juros nos dias 15 e 16. A taxa básica da economia hoje é de 1% (negativa quando se compara à inflação), mas um novo corte "é certamente factível", disse ele.
O economista alertou, no entanto, de que o tradicional instrumento pode não ser suficiente para reavivar a economia do país. Mas ressaltou que o Fed dispõe de outras ferramentas e está disposto a continuar a fazer uso delas. Entre elas, citou a compra de "treasuries", títulos da dívida pública.
"Embora a política convencional de juros básicos seja restrita pelo fato de a taxa básica nominal não poder cair abaixo de zero, a segunda flecha no coldre do Fed, a injeção de liquidez, permanece efetiva", disse Bernanke, para então enumerar as diversas maneiras que o banco tem de colocar mais dinheiro na economia.
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