Início de demissões, acúmulo de 305 mil veículos parados nos pátios por conta da queda nas vendas internas e freio na produção. Esse é o quadro com que a indústria automotiva se depara agora, depois de passar a maior parte do ano batendo recordes de desempenho.
A reportagem é de Paulo de Araujo e publicada na Folha de S.Paulo, 05-12-2008.
Em novembro, mês marcado pelo anúncio de férias coletivas, as montadoras produziram 28,6% menos veículos (entre automóveis, caminhões e ônibus) do que no mesmo mês de 2007 - foram fabricadas 195 mil unidades no mês passado. As vendas no mercado doméstico e externo também apresentaram queda de dois dígitos - 25% e 18,8%, respectivamente. Em outubro, o setor já havia registrado retração, embora mais modesta.
Redução no nível de crédito, maior dificuldade na venda de carros usados - que serve de entrada para o veículo novo- e perda de confiança do consumidor na economia, associados à crise global, são os fatores apontados pelo presidente da Anfavea (associação das montadoras), Jackson Schneider, para explicar o tombo no setor.
"Foi uma freada muito forte a partir de outubro. Podemos considerar que o ano, para nós, foi até setembro. Depois o quadro virou outro", disse Schneider, referindo-se aos resultados do setor nos nove primeiros meses do ano -que devem garantir que 2008 seja recorde de vendas e de produção.
No mês passado, pela primeira vez no ano, o nível de empregos caiu na indústria - 480 vagas foram perdidas. "Em última análise, quem faz o emprego é o consumidor. As vendas precisam ser reativadas para a produção continuar."
A injeção de R$ 4 bilhões do Banco do Brasil e outros R$ 4 bilhões da Nossa Caixa nas financeiras das montadoras para aliviar o crédito no mercado automotivo fez pouco até aqui para reaquecer as vendas. Segundo Schneider, metade do montante oferecido pelo BB já foi liberada, mas os recursos da Nossa Caixa não chegaram na ponta. Ainda assim, diz, já é possível sentir alguma melhora no mercado, especialmente nos primeiros dias deste mês.
Com os resultados de outubro e de novembro, a Anfavea decidiu revisar pela primeira vez as projeções de desempenho para 2008. A entidade prevê agora que o mercado interno deverá absorver 2,815 milhões de veículos, contra 3,060 milhões na projeção anterior, o que representará acréscimo de 14,3% em relação a 2007. A expectativa de produção caiu de 3,425 milhões para 3,240 milhões -8,8% de alta.
Lula culpa financeiras
No Rio, o presidente Lula disse que, apesar de o governo ter oferecido mais crédito para os bancos das montadoras, está mais difícil comprar carro no país. Lula culpou essas financeiras que, segundo ele, encurtaram os prazos diante da crise. "Quando nós disponibilizamos dinheiro para as financiadoras das empresas automobilísticas venderem carro, o que aconteceu? Aumentou a entrada do carro de 20% para 30%, diminui o número de prestações, de 70, 72, para 36. Ou seja, ao invés de se facilitar, se dificultou a compra do carro."
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