Sem explicações científicas para a tragédia que assolou o estado de Santa Catarina, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) avisa: fenômenos como esse serão frenqüentes no futuro. O instituto alerta para a necessidade de ter uma série histórica de eventos climáticos no Brasil, de pelo menos 150 anos, para se ter um julgamento definitivo. Já a física meteorológica credita ao aumento de temperatura do oceano a grande quantidade de chuva na região.
Acompanhe abaixo o artigo:
Fenômeno extremo vai se tornar freqüente
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há por enquanto uma explicação científica para o que ocasionou a seqüência de chuvas em Santa Catarina. Também não é possível associar o fenômeno ao aquecimento global -embora a possibilidade não possa ser descartada, afirma Carlos Nobre, climatologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
“Esse é o tipo de fenômeno extremo que vai ocorrer mais no futuro. A grande pergunta é: o futuro já chegou?” A falta de uma série histórica para os eventos climáticos no Brasil de pelo menos 150 anos impede um julgamento mais definitivo.
“Em muitas partes do mundo [onde existem séries históricas], já se consegue apontar o aquecimento global como culpado por eventos climáticos extremos. Aqui, isso ainda não é possível”, diz Nobre.
As duas últimas grandes inundações catarinenses, em 1983 -que o pesquisador julga ter sido mais grave do que a atual- e 1998, estavam relacionadas com o fenômeno El Niño, diz Nobre, mas esse não é o caso agora. “Sem ele [El Niño], não existem elementos para a previsão.”
O Cptec (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, ligado ao Inpe) não deu nenhum alerta nas últimas semanas sobre o risco de fortes inundações porque seus modelos não conseguiram prever as chuvas anômalas do último fim de semana, diz Nobre. Para o pesquisador, a situação poderia ter sido até mais grave.
“Algo muito parecido -meses de chuvas intensas com dias de chuvas muito intensas- ocorreu na Venezuela em 1999. Morreram 40 mil pessoas.” Segundo Nobre, o sistema de defesa estadual de Santa Catarina, “o melhor do país”, evitou que a tragédia desta semana tivesse sido maior.
Física
A física atmosférica consegue, no entanto, explicar o fato isolado, ou seja, o motivo de ter chovido tanto no fim de semana.
A temperatura dos oceanos está quase 1C acima do normal. Com isso, mais água evapora. Na alta atmosfera, o contrário. Está bem mais frio do que o esperado (quase 15C de diferença). Isso faz com que a umidade precipite com mais velocidade.
“E também existe um centro de alta pressão no oceano que bloqueia o ar que está vindo do sul”, diz Paulo Artaxo, físico da USP. “Isso mostra que o evento foi anômalo”. Para Artaxo, também está claro que eventos extremos do tipo vão ocorrer no futuro.
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