"As pessoas precisam morar." A declaração é do coordenador da Defesa Civil de Santa Catarina, major Márcio Luiz Alves, e foi proferida (ou cuspida) após ser questionado pelo repórter Evandro Spinelli sobre as ocupações irregulares no Estado e a falta de fiscalização.
O comentário é de Rogério Gentile e publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 01-12-2008.
A causa da tragédia catarinense não é a chuva, mas a irresponsabilidade de quem permitiu que milhares de pessoas vivessem em locais perigosos, nas encostas dos morros ou nas várzeas dos rios. A maioria dos mortos não foi vítima da água, mas, sim, da terra ou do tijolo que caiu sobre suas cabeças.
Era obrigação do poder público mapear as áreas de risco, combater o desmatamento nos morros, fazer obras de prevenção onde isso era possível ou simplesmente impedir a ocupação onde não era.
Nada foi feito, apesar dos "avisos" freqüentes: só na cidade de Blumenau foram 32 inundações em 24 anos (1980-2004).
Como já dizia Joelmir Beting na Folha, em 1983, ao tratar em sua coluna do impacto econômico das enchentes no Sul, a "natureza não se defende, apenas se vinga".
Rio enche em Itajaí, em Paris ou na China. Sempre foi assim, sempre será. Inundação ocorre quando o homem ocupa o reservatório natural da cheia. Como em São Paulo, cidade que teve a brilhante idéia de construir seu mais importante sistema viário - as marginais - na beira dos rios Tietê e Pinheiros.
O próprio coordenador da Defesa Civil catarinense não nega que a ocupação irregular ajudou a potencializar riscos e que houve falha de fiscalização. "Qualquer um sabe que não pode ocupar as áreas, que tem de tirar a população", afirma.
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