"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, dezembro 06, 2008

Os contornos de 2009

Blog do Luis Nassif - 05/12/08

Coluna Econômica - 05/12/2008

O quadro começa gradativamente a permitir enxergar 2009 com maior nitidez, não ainda o suficiente para se ter um cenário seguro sobre o ano.

Numa ponta, já o fator dólar. Esta semana o dólar passou dos R$ 2,50. Há um componente especulativo nisso, fundos de investimento, bancos que passaram a perder dinheiro com a desvalorização do real.

Há um prazo para o vencimento das chamadas opções – as apostas futuras em torno do valor do dólar. A intenção desses investidores, puxando um pouco o dólar, é obrigar o Banco Central a voltar com os leilões de dólares, derrubando as cotações.

Aparentemente, o BC não entrou no jogo.

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Passada essa etapa, os movimentos especulativos de mercado serão menos intensos. Ainda não se sabe em que patamar o dólar irá se estabilizar, provavelmente em algo mais próximo de R$ 2,50 do que de R$ 2,00 – devido às pressões das contas externas e dos preços dos commodities agrícolas.

Assim que houver sinais mais claros de estabilidade, há condições de um retorno do capital externo, para aproveitar as boas oportunidades abertas pela desvalorização. Com o dólar a R$ 2,50, os ativos brasileiros ficam 38% mais baratos do que com o dólar a R$ 1,55. Isso, independentemente de uma eventual queda nos seus preços em reais – e, se for analisar em reais, as ações estão despencando.

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Nos próximos meses, ainda haverá o predomínio de notícias negativas, daquelas empresas mais diretamente afetadas pela crise, que reduzirão sua força de trabalho e adiarão investimentos. As empresas mais voltadas para o mercado interno teoricamente serão menos afetadas. Mesmo assim, ficarão com o pé no freio aguardando o cenário assentar.

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Dentro de três a quatro meses, é possível que a economia mundial comece a se estabilizar, ainda que em um patamar inferior de atividade. Haverá recomposição ampla das linhas de crédito, movimento que já se torna perceptível na redução da libor e, por aqui, das taxas longas de juros (que medem o custo do dinheiro na troca entre bancos).

Janeiro e fevereiro ainda serão meses de cautela. Depois, as empresas terão uma visão mais concreta do novo patamar de consumo. Isso se dará na mesma época em que o mercado agrícola internacioal deverá voltar a se normalizar. Há uma crise agrícola interna pela frente, que deverá ser combatida.

Mas essa conjugação de fatores, mais a manutenção de parte do mercado interno, mais um movimento virtuoso de substituição de importações, devido ao encarecimento do dólar, mais os investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mais um movimento do lado dos fundos de investimentos atrás de boas oportunidades, permitem supor que, passado esse período inicial de pasmaceira, a economia volte a se recuperar. Sempre depois do Carnaval, como é da boa tradição brasileira.

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Lembro que em outros anos em que pintava crise brava, ocorreu um movimento inesperado do lado das empresas. Em vez de começarem a se mover depois do carnaval, os negócios começaram a aquecer em janeiro, movidos pelo medo do desaquecimento. E o ano terminou muito melhor do que se supunha.

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