Parece não existir outra coisa: a corrupção governamental no México é o principal obstáculo para erradicar o narcotráfico e a violência associada ao crime organizado que deixou um saldo de 13.200 vítimas nos últimos quatro anos – 6.800 delas durante a Administração de Felipe Calderón – a ponto de o governo norte-americano considerar que o México não governa mais parte de seu território, cedido aos carteis da droga e que estes constituíram uma ameaça à segurança interna dos Estados Unidos. A reportagem é de Gerardo Albarrán de Alba e está publicada no jornal argentino Página/12, 27-02-2009. A tradução é do Cepat.
O que é pior: nenhum dos chefões mexicanos da droga se sente realmente ameaçado pela guerra deflagrada contra eles pelo voluntarismo de Calderón, porque lhes é fácil comprar proteção das próprias autoridades, lamenta o chefe de Operações de Inteligência da Agência Federal Antinarcóticos (DEA), Anthony P. Placido. Mesmo que afirme que o México vai ganhar esta luta, adverte que antes disso os cidadãos “pagarão um preço muito alto” pela narcoviolência.
Em entrevista publicada na semana passada pela revista Proceso, Placido revela uma das atuais preocupações de Washington: as reiteradas alusões às ligações criminosas dos colaboradores mais próximos ao Secretário de Segurança Pública, Genaro García Luna.
O próprio Departamento de Estado, em seu relatório anual sobre direitos humanos em nível mundial divulgado nesta quarta-feira, coincide em que a corrupção e a impunidade operam “em todos os níveis de governo”, assim como a “falta de transparência e a ineficiência” no aparelho judiciário. Assinado por Hillary Clinton, o relatório destaca que “a impunidade é dominante e contribui para que muitas vítimas sejam reticentes em apresentar as suas denúncias”.
Os Estados Unidos tomaram assumiram parte desta guerra, e no mesmo dia a Agência Federal Antinarcóticos (DEA) anunciou a prisão de 755 pessoas vinculadas a uma rede de até 70 células de distribuição de drogas. A administradora interna da DEA, Michele Leonhart, assegurou que as operações do cartel de Sinaloa, que contribuem para o tráfico e a violência nos Estados Unidos, foram desmanteladas.
Entretanto, para Edgardo Buscaglia, diretor do Centro Internacional de Desenvolvimento Econômico e Direito Internacional da Universidade de ColumbiaInstituto Tecnológico Autônomo do México, “afirmar isso é ridículo”. O golpe que deram no cartel de Sinaloa é efêmero: “Os presos serão fácil e rapidamente substituídos”. e professor do
Isto também não afeta o crime organizado no México, disse Buscaglia, que cita um estudo realizado em 107 países que situa o México no sexto lugar em delinquência organizada no mundo, com participação em 24 de 25 crimes catalogados internacionalmente, exceto no tráfico de materiais radioativos.
O crime organizado no México opera ativamente em 41 países e teve a ingerência em processos legislativos e eleitorais da Argentina, Paraguai, Venezuela, Bolívia e América Central. Tem inclusive mais bases operativas na fronteira da Guatemala que o próprio Estado em bases militares e policiais. “O problema do México é o problema de todos”, disse o especialista, que calcula que em duas terças partes do país há “infra-estrutura criminosa visível”.
Buscaglia questiona a estratégia da Administração de Calderón, que não atacou o mapa patrimonial criminoso. “As empresas criminosas no México – calcula – participam em 78% da economia total”, nas quais se lavam mais de 170 bilhões de dólares por ano.
Essas notas seguem a linha de Barry McCaffrey, ex-czar antidrogas norte-americano, que advertiu que, se não se fizer algo logo, o México corre o risco de se converter num “narco Estado” nos próximos cinco anos. Outros analistas indicam que o risco não é um colapso do Estado, mas que o México siga os passos da Rússia, um Estado fortemente influenciado pelas máfias.
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