"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

domingo, abril 12, 2009

China lança reforma para revitalizar rede pública de saúde

Blog do Luis Nassif - 12/04/09

Governo diz que investirá até 2011 o equivalente a R$ 290 bilhões em construção de hospitais e atendimento gratuito

País não tem cobertura médica universal, e todas as consultas são pagas; cerca de 500 milhões de chineses nunca foram atendidos

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Qualquer consulta em hospital público na China é cobrada, e a venda de remédios a preços altos é parte da receita dos centros médicos. Mas o governo prometeu na semana passada mudar a equação da saúde.
Nos próximos três anos, Pequim diz que vai investir 850 bilhões de yuans (cerca de R$ 290 bilhões) para tentar universalizar a saúde pública. O plano prevê a construção de 2.000 hospitais e a reforma de 5.000 clínicas e postos de saúde na zona rural. Promete atendimento gratuito e a distribuição de medicamentos a preços acessíveis pelo país.
Meio bilhão -de 1,3 bilhão- de chineses não sabe o que é uma consulta médica por não ter dinheiro. Depois do desemprego, gastos com saúde são a maior preocupação dos chineses, segundo vários institutos de pesquisa.
Em tempos de desaceleração econômica e da necessidade de se promover o consumo doméstico, o governo tenta convencer a população que não será mais necessário poupar tanto para se garantir um tratamento no futuro.
Documento do Conselho de Estado divulgado na terça-feira promete que todo vilarejo terá um posto de saúde até 2011.

Desmantelamento
As mesmas reformas econômicas que promoveram o espetacular crescimento chinês dos últimos 20 anos desmantelaram a saúde pública do país, que era de responsabilidade do governo, das empresas estatais e das comunas rurais.
Nos anos 60 e 70, o regime maoísta desenvolveu uma rede de chamados "médicos descalços", profissionais com pequenos conhecimentos de saúde que percorriam a zona rural.
Mas nos anos 80, quando o financiamento estatal foi drasticamente cortado, os hospitais públicos começaram a cobrar cada vez mais caro por uma consulta para obter receita.
Médicos começaram a prescrever mais remédios que o necessário -e os mais caros- para aumentar o lucro dos hospitais, "prática comum" segundo o próprio governo.
A atual reforma deve proibir a obtenção de lucros na venda de remédios e promete tabelar o preço de medicamentos.
Atualmente, em alguns hospitais, 90% da renda é obtida com a venda de remédios. A reforma determina que o atendimento médico é "um serviço público" e garante que haverá financiamento público para compensar a perda de receitas.
Em 1980, 21,2% do gasto médico no país era de responsabilidade do paciente, segundo estatísticas do Ministério da Saúde. Em 2007, pulou para 46%. No rico Japão, apenas 15% do gasto médico anual sai do bolso dos pacientes.
O financiamento por parte do governo caiu de 36,2% em 1980 a 20,3% em 2007.
Nos últimos anos, críticas se intensificaram de que saúde e educação foram deixadas de lado nos investimentos bilionários do governo.
No pacote de estímulo à economia lançado em novembro, apenas 4% dos 4 trilhões de yuans serão investidos em saúde e educação -39% ficam com infraestrutura, principalmente obras vistosas como ferrovias, aeroportos e estradas.
O plano anunciado nesta semana também prevê sistemas diversificados de planos de saúde para atender trabalhadores urbanos, moradores das cidades desempregados, autônomos e camponeses.
Segundo o governo, 90% dos chineses terão algum tipo de cobertura médica até 2011, que chegará a 100% em 2020.

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