Essa história de que o Congresso deu anistia a quem usou as passagens para terceiros é um prato vazio. Anistia de quê? Era crime, era irregularidade? É uma prática que sempre foi aceita, que estava incorporada aos benefícios dos parlamentares, que nunca foi questionada. Qualquer empresa grande, quando manda um executivo para lugar distante, garante determinado número de passagens para ele e os familiares.
A remuneração do parlamentar é constituída de seus proventos e de um conjunto de verbas adicionais. Interessa o todo. Se o conjunto de benefícios, mais proventos, for considerado elevado, que se questione o valor total. Separar cada benefício e analisá-lo per si é marotagem jornalística. Cria a impressão de escândalo onde não há.
O Congresso tem inúmeras mazelas, fisiologia, lobbies pouco transparentes, acordos espúrios, negociatas.
Mas o escândalo das passagens obedece a uma lógica matreira e diversionista. Os grandes escândalos são complexos, são tão amplos e envolvem valores tão elevados, que escapam à compreensão do leitor comum. Criam-se escândalos, então, em cima de episódios pequenos, mais perto do dia-a-dia do leitor.
É recurso eficiente, do ponto de vista de provocar catarses e desviar o foco dos verdadeiros escândalos.
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