Coluna Econômica - 24/04/2009
Nas duas colunas anteriores, abordei a questão da chamada tomada do poder - o sistema de alianças que candidatos a presidente montam com forças econômicas, mídia, outros poderes. Tentei mostrar como as eleições são apenas o ponto final de um sistema de alianças que, se não for bem conduzido, acaba derrubando presidentes. E de como, muitas vezes, essas alianças acabam comprometendo as próprias políticas que poderiam melhorar a situação do país.
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O Plano Real foi o exemplo mais bem sucedido de uma aliança que permitiu a chamada tomada do Estado - mas que acabou jogando fora uma das grandes oportunidades de desenvolvimento do país. Trato da questão em meu livro “Os Cabeças de Planilha”, lançado há dois anos.
O Plano Real foi lançado no apogeu do mercadismo, do livre fluxo de capitais, o chamado neoliberalismo em vigor no mundo. A aliança preferencial foi com os chamados gestores de recursos - bancos de investimento criados nos anos 80 e que ganharam envergadura com operações duvidosas, como a escandalosa decisão do então Ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, de permitir conversão de dívida externa brasileira em cruzados - que possibilitou ganhos gigantescos a alguns bancos e ajudou a deflagrar a superinflação do final do governo Sarney.
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A maneira de beneficiar esses gestores foi na passagem da URV para o real, na definição das regras de emissão do real. Em vez de utilizar a emissão para liquidar com a dívida pública (no vencimento dos títulos, entregar reais aos investidores, o que poderia ter permitido um salto na economia), os economistas do Real decidiram que só haveria a troca de reais para quem trouxesse dólares. Com isso, transferiram o controle do crédito na economia para os gestores de recursos externos.
O segundo passo foi a apreciação do Real, logo na partida do plano, que permitiu ganhos milionários a economistas que participaram do Plano e a banqueiros e gestores de recursos ligados a eles e, no momento seguinte, impediu o país de continuar crescendo, devido aos desequilíbrios nas contas externas.
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A apreciação do Real criou novos milionários, permitiu a ascensão de novos grupos poderosos, aliados do governo FHC. Mas comprometeu por quinze anos a capacidade de crescimento da economia, criando uma dívida interna que obrigou ao aumento brutal da carga tributária.
Nesse período, a falta de crédito e o aumento da carga tributária praticamente liquidaram com gerações de pequenas e microempresas, provocaram uma crise agrícola terrível.
Outra vertente foi a privatização, que permitiu colocar quadros do governo à frente de muitos dos grupos que assumiram empresas privatizadas.
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A estratégia teria permitido a FHC os 20 anos de poder, como previa Sérgio Motta. A mídia estava com ele, o mercadismo era o discurso dominante, o contingenciamento orçamentário afetava educação e saúde, mas permitia manter o pagamento dos juros em dia.
O que matou o sonho dos 20 anos de poder foi a paralisia da política econômica, devido aos compromissos acordados pelo governo. As eleições se incumbiram de liquidar com o sonho da perpetuação no poder.
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