Coluna Econômica - 23/04/2009
Na última Coluna, procurei mostrar o jogo de poder que se esconde por trás das eleições, muito mais amplo e permanente do que as próprias eleições. São jogos de poder em que grupos políticos se aliam a grupos empresariais, à chamada grande imprensa, ao grande capital.
Muitas vezes, não se trata apenas de uma tática de governabilidade, mas de um autêntico projeto de tomada do Estado.
Em fases de transformações, de crises econômicas, de reestruturação da estrutura produtiva, há mais espaço para essas tentativas de controlar o Estado, do grande pacto que seja mais duradouro do que um mandato presidencial.
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Tome-se o caso Fernando Collor, primeiro presidente a entender as mudanças ocorridas na economia mundial nos anos 80. A economia brasileira precisaria ser desregulamentada, a privatização era inevitável, assim como a abertura econômica.
A estratégia de Collor foi, primeiro, lançar aliados nas áreas que, pela desregulamentação, abririam espaço para novos grupos econômicos. No setor aéreo, o escolhido foi Wagner Canhedo, de Brasília; na televisão, os irmãos Martinez, do Paraná.
Uma segunda frente foi nas privatizações, manobrando títulos da dívida pública para beneficiar grupos específicos do mercado.
Uma terceira frente foi colocar aliados em algumas empresas-chave do novo período, como o caso do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), a Telebrás, Telesp, Telerl, no sistema de compras públicas da Saúde.
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O plano de tomada do poder foi bem concebido; a implementação, um desastre, especialmente depois que Collor perdeu o controle sobre os diversos esquemas de propinas que passaram a gravitar no seu entorno.
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No plano político, a falta de jogo de cintura e de malícia da tropa alagoana jogaram fora qualquer possibilidade de montagem de maioria parlamentar.
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Faltaram a Collor, além de uma equipe mais experiente, esses laços mais orgânicos com o chamado poder econômico. Suas incursões por muitos setores, seu voluntarismo, a falta de jogo de cintura para dividir o bolo, os exageros dos esquemas paralelos ajudaram o país a se livrar de uma mentalidade autoritária-modernizante.
Não tivesse sucumbido a uma depressão pesada, é possível que Collor tivesse conseguido escapar do impeachment. O então presidente do Banco do Brasil, Lafayette Coutinho, promoveu uma aliança com alguns líderes políticos importantes, nas quais a moeda de troca seria obras públicas carreadas para empreiteiras indicadas por eles.
Chegou a encaminhar a Collor um envelope com a relação de solicitações. Mas, àquela altura, Collor já jogara a toalha.
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Sua história serviu de lição para as tentativas seguintes de tomada do Estado. O líder solitário não funcionava. Havia a necessidade de acordos com grupos orgânicos na sociedade, com estruturas de poder com influência sobre o Legislativo, com pactos com o Judiciário, com a grande mídia.
Até alguns anos atrás, esses acordos espúrios - muitas vezes sendo legitimados pela busca da governabilidade - ainda prosperavam. As informações eram precárias, abrindo amplo espaço para esses pactos de poder.
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