"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, abril 25, 2009

Bolívia vive dias tensos

Instituto Humanitas Unisinos - 24/04/09

O governo nacional ainda não deu detalhes da morte de três supostos terroristas na semana passada. O presidente Evo Morales acusa a oposição de tentar matá-lo, mas os seus detratores afirmam que é um ‘show’ do Executivo montado para colher mais votos nas próximas eleições gerais de 06 de dezembro. O presidente do Senado, Oscar Ortiz, sustenta que os três homens, um boliviano, um irlandês e um romeno foram “executados de cuecas” por agentes governamentais. O Palácio Quemado não fornece informações porque diz que as investigações prosseguem. Para o presidente, o grupo supostamente comandado por Eduardo Rózsa tinha a intenção de “dividir a Bolívia”.

A reportagem é Sebastián Ochoa e publicado no Página/12, 21-04-2009. A tradução é do Cepat.

Na quarta-feira da semana passada uma bomba explodiu no portão do cardeal Julio Terrazas, férreo opositor do governo de Morales. O religioso estava em outra de suas casas, em Vallegrande. No dia seguinte, de madrugada, a Polícia Nacional ingressou no hotel das Américas, as câmaras de vigilância foram desligadas das quatro da manha até as nove, segundo denunciou a gerência do hotel. No quarto andar dormiam Rózsa, militar e jornalista; Michael Dwyer, engenheiro irlandês de 25 anos; Mayaroshi Arpad, militar romeno; Elod Tóasó, engenheiro de sistemas, húngaro de 28 anos; e Mario Tadic Astorga, um militar boliviano-croata que combateu com Rózsa na ex-Ioguslávia.

Nenhum policial saiu ferido do tiroteio de meia hora. Apenas sobreviveram Tóasó e Astorga, de 58 anos, que caiu com a perna baleada. Rózsa recebeu oito tiros, Dwyer e Arpad, seis respectivamente. Rózsa, nascido em Santa Cruz, foi enterrado em um cemitério de classe alta. Os outros dois foram sepultados em uma fossa comum do cemitério La Cuchilla, nos arredores da cidade, porque ninguém reclamou os corpos. Dentro de uma semana os peritos dirão se os hóspedes usavam armas.

Segundo Morales, o grupo tinha intenção de assassiná-lo e também ao vice-presidente Alvaro García Linera e até o opositor Rubén Costas, prefeito de Santa Cruz. O fariam com a finalidade de gerar o caos e a divisão na Bolívia, segundo a hipótese governamental. No domingo, o cardeal Terrazas afirmou na missa que “toda pessoa é sagrada diante de Deus, mesmo que tenha cometido pecados graves e a nós compete ter presente a misericórdia de Deus para que ninguém se sinta abatido e seja eliminado sem ser julgado adequadamente”, numa crítica ao governo nacional.

“Não há com o que se possa tergivezar, caracterizamo-nos pela honestidade, a responsabilidade. Peço aos organismos internacionais que investiguem. Se colocaram uma bomba na casa do cardeal, anotou-se a placa do carro e logo depois encontraram esse carro no hotel. De que montagem falam? O armamento é outra prova. Depois que fracassaram com o revogatório, fracassaram numa tentativa de golpe de Estado e agora estão fracassando contra um atentado a minha vida”, disse o presidente. “Além disso foram encontradas armas em uma feira internacional, onde estavam alguns grupos oligárquicos. No estande de Cotas estava o armamento, é outra prova. Como vão explicar isso?”, acrescentou Morales. A cooperativa cruzenha, Cotas, é uma das “instituições” do oriente opositora ao presidente.

“Os dois presos e os três mortos estiveram em dezenas de reuniões com dezenas de personalidade do âmbito empresarial, pessoas que saem nas páginas sociais dos jornais”, disse o vice-presidente em uma entrevista ao programa O povo é notícia. Afirmou que o grupo de Rózsa “é apenas um dos tentáculos, o tentáculo operativo. Era o encarregado de juntar armas, explosivos e leva-los a outro lugar, fazer atentados e preparar um magnicídio. Mas não é o único grupo, há outros com armamento sofisticado que nem sequer as Forças Armadas têm”.

A oposição em Santa Cruz lembrou o passado do vice-presidente como guerrilheiro do Movimento Revolucionário Tupak Katari (MRTK), que realizou um atentado contra uma torre elétrica em 1992, o prenderam e esteve cinco anos preso. O presidente do Conselho Municipal cruzenho, Oscar Vargas, disse que “é uma lástima ter um vice-presidente da qualidade que temos. Quem é ele para falar de terrorismo se esteve preso por terrorismo? Esse tipo de pessoa é um sem vergonha que está gerando uma série de situações incomodas”.

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