A queda dos preços internacionais dos metais ameaça causar um colapso no setor de mineração da Bolívia. Os mais atingidos são as cooperativas de mineradores, produtores em geral pouco eficientes, mas que respondem por mais de 80% dos empregos da mineração no país. Elas já pediram ajuda ao governo. O desemprego no setor poderia elevar ainda mais a tensão no país.
A reportagem é de Marcos de Moura e Souza e publicada pelo jornal Valor, 28-10-2008.
Só na região de Potosí, cerca de 15 mil empregos estariam ameaçados se os preços do zinco, metal mais explorado pelas cooperativas no país, continuarem caindo. Na avaliação do próprio governo, a produção corre o risco de se tornar "totalmente insustentável" por causa da queda dos preços.
Para compensar as perdas, o presidente Evo Morales já ofereceu US$ 5 milhões em subvenções ao setor. Mas, dependendo do ritmo da cotação dos metais, mineiros dessas cooperativas tenderão a pressionar Morales por mais ajuda, exigindo negociações ou organizando protestos e marchas pelo país, avalia Juan Collque, pesquisador do Centro de Estudos do Desenvolvimento Laboral e Agrário (Cedla), centro de pesquisas independente com sede em La Paz.
Os mineiros compõem a base de apoio popular de Morales e, no calendário político boliviano, este não seria o momento para medidas impopulares. O presidente precisa manter seu eleitorado unido para aprovar a nova Constituição, que deverá ser levada a referendo popular em janeiro.
Segundo a Cedla, as cooperativas empregam 46.700 mineiros em toda a Bolívia, de um total de 57.400 empregados no setor. As grandes empresas de mineração, marcadamente as de capital estrangeiro, empregam apenas 3.350 trabalhadores. Empresas privadas nacionais e estatais têm uma participação reduzida na oferta de empregos.
Comparada com as multinacionais, as cooperativas bolivianas perdem de lavada. Em 2007, elas produziram 73.9 mil toneladas de zinco, contra 140 mil toneladas das grandes empresas estrangeiras, que usam um contingente de trabalhadores 17 vezes menor.
"Os cooperativistas trabalham em geral com as mãos, com dinamite e ferramentas manuais e em condições de trabalho ruins. É uma mineração artesanal. Algumas cooperativas mais desenvolvidas têm processos mecanizados", diz Collque. É esse o segmento que Morales pretende ajudar. É esse também o segmento mais exposto à queda de preços porque têm custos mais altos - dada a precariedade do trabalho e por causa de sua pequena escala de produção.
Na semana passada, Morales anunciou a ajuda ao setor mineiro em grande estilo: "Estamos declarando estado de emergência em todo o setor mineiro para enfrentar esta crise causada por problemas gerados pelo capitalismo. O fundo servirá para o zinco e outros minerais, como o estanho".
O preço do zinco - o minério mais exportado pela Bolívia - teve uma queda brusca este ano, reflexo da crise econômica global e do excesso de oferta. Em janeiro estava cotado em US$ 1,08 a libra; agora ronda os US$ 0,48. Com essa cotação, "é difícil continuar explorando as jazidas", disse Andrés Villca, presidente da Federação de Cooperativas Mineiras da Bolívia.
O governo propõe usar os US$ 5 milhões num fundo para comprar a produção de zinco sempre que o preço ficar abaixo de US$ 0,45. Mas a queda do preço do zinco e de outros metais, como também a dos hidrocarbonetos, reduz a arrecadação do governo boliviano com a exportação desses itens. "Isso limita os recursos que iriam para esse fundo. O país está numa situação muito delicada", diz Collque.
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