Para tentar conter o nervosismo no mercado de câmbio, o Banco Central decidiu criar um programa para oferecer até US$ 50 bilhões em proteção cambial a bancos e empresas. A medida agradou e conseguiu reverter a trajetória do dólar, que começou a apontar para baixo após o anúncio feito na manhã de ontem. A iniciativa tenta minimizar a preocupação generalizada com as apostas no mercado futuro de dólar, segmento que já provocou prejuízos bilionários a empresas como Aracruz, Sadia e Votorantim.
A reportagem é de Fernando Nakagawa e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 24-10-2008.
Em breve nota à imprensa, o BC informou que o novo programa faz parte da “estratégia de mitigação do impacto da crise financeira internacional sobre a economia brasileira”. Segundo o texto, a proteção cambial será oferecida ao mercado “de acordo com as necessidades de liquidez”. Desde o início do mês, mesmo sem o programa, a autoridade monetária já havia repassado US$ 16,2 bilhões em proteção cambial ao mercado.
Para oferecer o seguro contra o sobe-e-desce do dólar, o BC vai usar os chamados contratos de swap cambial. Esse instrumento financeiro dá aos compradores remuneração que acompanha a oscilação da moeda americana. Assim, se o dólar subir de R$ 2,30 para R$ 3, os detentores desses contratos receberão do BC a diferença. A opção é muito eficiente para quem tem dívida em dólar, como empresas que adquiriram equipamentos no exterior ou importadores que têm mercadorias a pagar.
Para receber essa proteção, o custo pago ao BC é o juro de mercado. Por isso, o contrato é chamado de swap - troca, em inglês - já que é feita a troca da oscilação do câmbio pelo juro.
A medida do BC conseguiu acalmar o mercado. A tranqüilidade foi provocada principalmente pelo volume oferecido. Segundo o mercado, o valor de US$ 50 bilhões se aproximaria da exposição de bancos e empresas brasileiras à variação cambial.
Ao oferecer a proteção nesse valor, o BC estaria dando a oportunidade para que os agentes econômicos “anulem” a exposição à moeda norte-americana, o que daria mais tranqüilidade aos negócios. Tal exposição é gerada por apostas no mercado futuro de que o real continuaria forte em relação ao dólar.
Nas últimas semanas, muitos bancos e empresas que estão nessa situação passaram a ir ao mercado para comprar dólares com o objetivo de tentar evitar prejuízos ainda maiores como a disparada das cotações. Essa procura pela moeda gerou um círculo vicioso na taxa de câmbio, que passou a subir também pelo movimento iniciado no mercado futuro.
“A medida surtiu efeito porque atende a demanda por papéis cambiais e tem valor próximo do que o mercado acredita ser a posição contrária, a vendida, do mercado”, diz o economista-chefe do Banco Schain, Silvio Campos Neto.
Ele observa, no entanto, que a iniciativa não acaba com a falta de dólares em espécie no mercado à vista. Nesse caso, ele sugere que o Banco Central deve continuar com os leilões de moeda, como ocorreu ontem, dia em que foram feitas duas ofertas de swap e três de dólares.
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