Você abre o jornal de manhã e ousa percorrer a coleção sem fim de tragédias que é, hoje, o noticiário econômico. Lá na undécima página, fica sabendo que a Volkswagen vai conceder férias coletivas de dez dias para 1.800 funcionários da unidade de São José dos Pinhais (PR).
O comentário é de Clóvis Rossi, jornalsita, e publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 29-10-2008.
Aí, pensa, distraído: "Vixe, essa empresa está indo pro vinagre".
Que nada, companheiro. É justamente o contrário: pelo menos ontem, a Volks (a mundial) tornou-se a companhia de maior valor de capitalização no planeta (ou seja, o valor de todas as suas ações na Bolsa de Valores superou o de qualquer outra instituição, inclusive a portentosa Exxon).
Como é possível, se a indústria automobilística é a segunda maior vítima da crise global, logo atrás da construção/imóveis? Trata-se apenas de um exemplo "das distorções que se produzem hoje em dia nos mercados", diz Juan José Ruiz, o economista-chefe do Santander (na Espanha).
Se, em vez de distorções, falasse em cassino, estaria mais perto da realidade. Acontece que "hedge funds", esses que vão apostando em vários ativos, para defenderem-se de eventuais perdas em um deles, decretaram que as cotações da VW permaneceriam em queda. Aí vem a Porsche e anuncia que quer aumentar a sua fatia na Volks. O pessoal dos "hedge funds" correu desesperado para cobrir suas posições e cada ação da montadora voou dos 210 da sexta-feira para 1.005 em dado ponto de ontem.
Uma coisa, portanto, é a vida real, em que férias coletivas significam queda nas vendas. Outra coisa, bem diferente, é o cassino, em que férias coletivas nada significam. É por isso -entre outras mil razões - que, cada vez que vejo economista fingindo que faz análises lógicas sobre o mercado, levo a mão ao coldre.
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