O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu ontem do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a informação de que há uma grande retração na atividade econômica no mundo, o que pode levar a uma recessão no planeta. E que a economia do Brasil tem condições de resistir à crise e de oferecer crédito, a preço de mercado, para as empresas que tiveram prejuízo no mercado futuro e derivativos do dólar. “As empresas que ousaram no mercado financeiro, no mercado futuro, têm que pagar o preço de sua ousadia. Não será o governo que vai cobrir isso”, afirmou o ministro da Fazenda.
A reportagem é de João Domingos e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 28-10-2008.
O ministro informou ainda ao presidente Lula que as perdas de empresas que atuaram com derivativos de câmbio podem ser absorvidas pela economia brasileira sem nenhum problema. Elas terão oferta de crédito, mas sem nenhum subsídio: “O governo não vai salvar nenhuma empresa, mesmo porque são assuntos privados.”
“Mas o governo tem obrigação de dar crédito e liquidez, a valores de mercado, e é isso que estamos fazendo. Nós não vamos absorver nenhum prejuízo dessas empresas. Que fique claro.” Com base em informação de Edemir Pinto, da BM&F, Mantega disse que o prejuízo total das empresas brasileiras pode chegar a US$ 20 bilhões.
“Se o problema for da ordem de US$ 10 bilhões, US$ 15 bilhões, US$ 20 bilhões - como está sendo dito aí, não sou eu que tenho valores -, é um problema perfeitamente absorvível.” Mantega disse que não é possível saber a dimensão exata do problema, neste momento, porque houve operações em bolsas, no balcão e no exterior. “Mas já pedimos informações e não ouvimos falar de nenhum valor grande.”
Na reunião entre Lula, Mantega e Meirelles, ficou decidido que o governo vai correr para destinar crédito aos setores de construção civil, agrícola, automobilístico, e dar garantias de capital de giro de modo geral e para pequenas e médias empresas. Mantega e MeirellesLula que até agora o governo já transferiu R$ 50 bilhões para crédito, obtidos principalmente da redução do empréstimo compulsório que os bancos pagam ao Banco Central. Foi dito ainda ao presidente que hoje o crédito no Brasil está por volta de 70% a 80% do que era ofertada antes da crise. “O problema é que há um efeito psicológico, que tem segurado o crédito”, afirmou o ministro. disseram a
O próprio Mantega narrou o que foi falado na reunião. “Dissemos ao presidente Lula que na esfera internacional ainda não há uma melhoria substantiva do quadro. Embora os governos tenham tomado várias medidas, elas ainda não se traduziram numa irrigação de crédito para o setor produtivo. Continua havendo retenção desses créditos”, disse o ministro. “Ao mesmo tempo, há perda de ativos nas bolsas, que envolvem milhões de pessoas. A redução do valor dos imóveis está diminuindo o poder aquisitivo da população americana e européia. Com isso, é quase certo que haverá retração da atividade econômica e até mesmo uma recessão”, acrescentou Mantega.
Para Mantega, a Inglaterra já deu um primeiro sinal de recessão, porque a economia se contraiu. “Isso poderá ser seguido por outros países europeus.” O ministro disse ainda a Lula que está havendo problemas com os fundos de hedge, que trabalham com alavancagem, têm capital de um e emprestam dez, 15 vezes o que têm. Por isso, estão retirando seus investimentos feitos ao redor do mundo, causando um desmonte de mercados diversos e de bolsas de países como o Brasil, México, África do Sul e Austrália. Esse movimento tem levado à valorização do dólar e do iene japonês, pois os fundos tomavam dinheiro emprestado no Japão a 0,5%, 1%, e aplicavam a 5%, 6% e até a 13% no Brasil.
O impacto da crise no Brasil continua o mesmo, disseram Mantega e Meirelles ao presidente Lula. “Temos uma escassez de crédito para operações de exportações, mas o Banco Central já está ativando uma linha de leilões para troca. Os bancos brasileiros têm títulos do Tesouro, e vão trocar por dólares, a partir do leilão. Com isso, passam a ter recursos para financiar as linhas de exportação. Isso já está começando a irrigar o sistema.”
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