"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

sábado, novembro 01, 2008

Partiu o Navegador José Pineda

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva

“Inalando a maresia
que os ventos do Norte
e a força das marés
oferecem àqueles, que tão bem
conhecem a sua linguagem,
a sua magia…”

(Maria Fernanda Reis Esteves)

- Projeto Aventura Desafiando o Rio-Mar

A Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB), a Associação dos Amigos do Casarão da Várzea (AACV) do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) e a Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS) estão empenhadas em levar adiante uma grande odisséia. O Rio-Mar não se trata, apenas de uma aventura, mas, sobretudo, de um projeto multidisciplinar e interdisciplinar com uma face pedagógica bastante definida. A navegação, através do Rio Solimões de caiaque, visa reconhecer seus principais afluentes, observar a fauna, flora, hidrografia, relevo, entrevistar autoridades locais e representantes dos povos da floresta e transmitir estas informações ao corpo docente e discente do CMPA para que sejam trabalhadas em sala.

- Minha Raia no Lago Guaíba

O ‘Projeto Desafiando o Rio-Mar’ nos impôs um rígido programa de treinamento. Adotamos o Lago Guaíba como nossa raia tendo em vista a proximidade e, principalmente, por suas características físicas lembrarem o Solimões/Amazonas. Quando, há mais de 18 meses, iniciamos nossos treinamentos no Guaíba, remando até 190 km por semana, havíamos estabelecido, mesmo que inconscientemente, uma fronteira física bastante delimitada tendo como ponto de partida, ao norte, a ‘Raia 1, na Pedra Redonda, a sudeste, a ilha do Francisco Manoel e a Ponta do Salgado a sudoeste. As rotas, contemplando estes pontos, tinham como limite os 50 Km.

O amigo Pineda nos apresentou, através de fotos e relatos de suas experiências como experiente navegador, um Guaíba muito mais majestoso e desafiador. Seguindo suas sábias orientações, fomos cada vez mais estendendo os limites e passamos a conhecer o rio em todo seu esplendor e magia.

- Rota Desafio 1 - Navegador José Pineda

Iniciamos, em conjunto, o planejamento de uma série de desafios procurando conhecer nossos próprios limites e as belezas tão decantadas pelo dileto amigo. A primeira delas teve início às 06:15 horas no dia 10 de dezembro de 2007, no dia mais quente do ano. Foi um desafio de resistência física e psicológica. Chegamos à praia da Faxina às 10:30 h e às 18:20 h, aportávamos na Raia 1 com um tempo de navegação de 09:25 h.

- Rota Desafio 2 - Cel Altino Berthier Brasil

Esta rota foi em homenagem ao nosso ex-mestre do CMPA, Coronel Berthier, profundo conhecedor das belezas e mistérios da Amazônia Brasileira. Nesta prova, saímos às 05:55 horas e navegamos até a maravilhosa Ilha do Junco, que faz parte do complexo do Parque Itapoã, no dia 18 de dezembro de 2007, retornando às 18:25 h com um tempo de navegação de 09:27 h.

- Rota Desafio 3 - Professora Silvana Pineda

A professora Silvana Pineda, irmã do amigo José, incentivou-nos desde o início, juntamente com a professora Patrícia Carra, através do Clube de História do CMPA. Sem dúvida, a mais arrojada das provas. Cruzamos o farol de Itapoã e superamos os umbrais da Lagoa dos Patos em uma navegação de 80 quilômetros em 11 horas. Uma prova, que se iniciou às quatro horas da madrugada, na mágica noite do dia 07 de fevereiro de 2008, em que as estrelas cadentes e o céu claro, embora sem lua, nos brindaram com sua esfuziante beleza. A chegada, exatamente às 18:00 h, após ter conseguido manter o mesmo e compassado ritmo dos 4 nós por hora, nos convenceu de que estávamos prontos para nossa jornada.

- Jose Pineda, um navegador arrojado

Neste ano e meio de intenso treinamento, percorremos 11.500 km. Enfrentamos no Lago Guaíba e na Lagoa dos Patos, ondas de até 1,5 metros, ventos de 30 nós e temperaturas extremas. Amigo José, nos momentos em que sentíamos o cansaço e a dor tomarem conta de nosso corpo nos treinamentos diários, ou nos três extenuantes desafios, o teu exemplo de coragem e determinação, enfrentando uma doença implacável e cruel, nos motivava a continuar sem parar.

Querido amigo, se o Timoneiro Celeste te convocou é porque, certamente, estava precisando de um navegador da tua estirpe para colocar a nau no rumo certo. Tenho certeza de que, a partir de agora, navegarás a sotavento. Não considero tua ausência física como uma baixa na minha tripulação, mas um reforço na Celeste e sei que, donde estás, continuarás na vigia, nos apontando o melhor rumo a seguir.

Saibas, caro amigo, que a Rota Desafio 4, até a Ilha do Barba Negra (95 km), que planejastes com tua irmã, no hospital, quando a fatídica doença já te consumia, será executada antes de minha partida para a Amazônia como um tributo à tua memória.

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