O Banco Central (BC) brasileiro vai ter mais US$ 30 bilhões à disposição para enfrentar a turbulência internacional. O montante virá de uma linha anunciada ontem pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano), que envolve troca de moedas entre os dois países, conhecida como swap. Isso significa que o Brasil poderá trocar reais por dólares e injetar liquidez no mercado.
A reportagem é de Patrícia Duarte e Juliana Rangel e publicada pelo jornal O Globo, 30-10-2008.
A medida, que já havia sido fechada pelo Fed com outros nove bancos centrais do mundo, terá validade até o dia 30 de abril de 2009. Mas, ao contrário de outros países, que reduziram seus juros, o Comitê de Política Monetária brasileiro decidiu ontem manter a taxa básica em 13,75% ao ano, após quatro altas seguidas.
A troca de reais por dólares foi permitida pela medida provisória (MP) 443, editada pelo governo na semana passada. Segundo o BC, a operação, se acontecer, será da seguinte maneira: os dólares serão depositados nas reservas internacionais e o equivalente em reais vai para uma conta do Fed, numa cotação que será fechada no dia. A operação não terá juros, nem variação cambial. Na data marcada para fazer as devoluções, será levada em consideração a cotação fechada no início da operação.
— Existe um significado importante neste acordo, que é a inclusão do Brasil, formal, entre as economias que são sistematicamente importantes — afirmou o presidente do BC, Henrique Meirelles, em um pequeno pronunciamento à noite, e sem responder a qualquer pergunta dos jornalistas.
— É um reconhecimento importante da qualidade da política econômica implementada pelo Brasil.
No Palácio do Planalto, a avaliação é de que o acordo com o Fed mostra que o Brasil está em outro patamar. Um ministro chegou a dizer que o BC deu ontem uma demonstração de força expressiva na queda-de-braço que passou a travar com o mercado.
Para analistas, linha acalmará mercado
O BC, por enquanto, não definiu se vai usar a linha. Quando foi baixada a MP 443, Meirelles afirmou que a medida tinha apenas um caráter preventivo e que só a usaria em caso extremo. Isso porque o país possui reservas internacionais bastante elevadas, acima dos US$ 200 bilhões, e o BC a tem usado pouco para dar liquidez no mercado, bastante afetado pela crise. Isso ocorre por meio de leilões de venda direta de dólares, em torno de US$ 5 bilhões desde a fase mais aguda da turbulência. No mercado, a avaliação é que o Brasil não vai usar de fato a linha do Fed.
— É um valor bastante considerável, uma gordura importante para a política cambial. Provavelmente não será usada, devido ao nível de reservas que o país possui, mas é simbólico porque mostra que o BC tem condições de combater a espiral do câmbio — afirma a economistachefe do ING, Zeina Latif, referindo-se à escalada do dólar, que chegou a ultrapassar a casa dos R$ 2,50 durante as negociações diárias.
— Os Estados Unidos costumavam fazer empréstimos-ponte para o Brasil na década de 80. Na época, pediam títulos do governo americano como lastro. Essa é a primeira vez em que o real é a própria garantia da operação — diz o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas.
Para Cristiano Souza, economista do Banco Real, o anúncio deverá acalmar o mercado de câmbio no Brasil.
— Essa linha serve para dizer ao mercado que o BC tem US$ 200 bilhões de reservas, uma possibilidade enorme de operações no mercado futuro e mais esses US$ 30 bilhões que poderão ser usados para conter a volatilidade, se for necessário. Imaginamos que o câmbio pode cair lentamente até chegar a R$ 2 no fim do ano.
O Fed fechou ontem a mesma linha com outros três bancos centrais de países emergentes: Cingapura, Coréia do Sul e México. São US$ 30 bilhões para cada um, com prazo igual ao brasileiro. Ou seja, o BC americano acertou que pode injetar US$ 120 bilhões no mundo. Desde que a crise se agravou, em meados de setembro, o Fed já fechou acordos semelhantes com outros bancos centrais, mas de países ricos. Entre eles, os de Austrália, Canadá e Inglaterra, além do Banco Central Europeu, o segundo mais poderoso do mundo. Estas linhas ultrapassam US$ 180 bilhões.
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