"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, outubro 29, 2008

O irracionalismo das Bolsas

Blog do Luis Nassif - 28/10/08

Coluna Econômica - 28/10/2008

Para entender as quedas sucessivas nas Bolsas mundiais.

Há uma regra básica para precificar (definir o preço) de ações: basta analisar o fluxo de resultados esperados; depois definir qual a rentabilidade que o investidor está dispostos a aceitar. Dados esses dois valores, calcula-se o preço da ação.

1. O primeiro grande problema é o estoque de papéis tóxicos espalhados por empresas não-financeiras ao redor do mundo, que nunca foram devidamente contabilizados. Então há o risco de um prejuízo que compromete o resultados futuros ou mesmo a sobrevivência das empresas.

2. A segunda incógnita é a questão do mercado de crédito, até que ponto pode comprometer os resultados das empresas.

3. A terceira incógnita é a estrutura de custos e de preços das empresas. Com a volatilidade dos preços internacionais (não apenas de commodities como do mercado de câmbio) torna-se impossível prever como sairão as empresas, se melhores ou piores.

4. A quarta incógnita é o mercado comprador, com os primeiros indícios de recessão mundial e os analistas divididos entre os que minimizam a recessão (como Jeffrey Sachs) e os que apontam para uma hecatombe (Noriel Roubini).

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No mercado, essa soma de dúvidas é incorporada à taxa de retorno esperada.


Uma empresa com poucos riscos pagaria uma TIR (taxa interna de retorno) de, digamos 10% ao ano. Supondo que essa empresa tenha uma perspectiva de R$ 5,00 de dividendos por ação ao longo de dez anos, o valor da ação será de, digamos, R$ 30,72.

Mas aí há um conjunto de interrogações sobre o futuro da empresa e do setor. O mercado coloca uma taxa adicional de risco de 5%, por exemplo. Ou seja, para comprar a ação quer uma expectativa de rendimento de 15% ao ano. Nesse caso, o valor da ação cai para R$ 25,00. Se a insegurança for maior ainda e a taxa de risco aumentar para 10%, o valor da ação cai para R$ 21,00.

Em um quadro de risco generalizado, obviamente os preços das ações tendem a despencar.

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Some-se a esse fato, um segundo fenômeno que está no epicentro dessa nova onda de quedas de mercado: o desmonte de posições dos chamados “hedge funds” – os fundos altamente especulativos. Muitos investidores estrangeiros estão vendendo sua posição no mercado brasileiro para cobrir perdas lá fora.

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Esse conjunto de fatores jogou as ações para baixo em um típico movimento “overshooting”. Alguns analistas levantaram dúvidas sobre se não se estaria definindo um novo patamar para os preços das ações. Ou seja, o mundo velho acabou, no novo os preços serão totalmente diferentes.

Serão, certamente. Haverá redução no valor dos ativos, em relação ao período de liquidez abundante. Mas não a esse ponto. No novo mundo a avaliação das empresas continuará amarrada a seus resultados. Quando o preço de alguns papéis se torna inferior ao próprio fluxo de caixa da companhia, é evidente que caiu abaixo do mínimo.

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Por isso mesmo, os investidores mais espertos estão refazendo suas contas, seu caixa e aguardando o primeiro sinal para saírem correndo atrás de ações a preço de liquidação.

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