Pelo menos 14 pessoas ficaram feridas e três foram presas durante o despejo realizado à força pela Polícia Militar na última quinta-feira (23) em Curitiba, no Paraná. As famílias se negavam a cumprir a reintegração de posse e deixar o local sem antes o prefeito Beto Richa (PSDB) solucionar a questão da moradia. O terreno de 170 mil metros localizado no bairro Fazendinha pertence a Varuna Empreendimentos Imobiliários e estava ocupado pelos sem teto desde o dia 6 de Setembro.
A reportagem é de Raquel Casiraghi e publicada pela Agência de Notícias Chasque, 24-10-2008.
O integrante do Coletivo Despejo Zero, Pedro, conta que a maioria das famílias eram provenientes de bairros vizinhos da Zona Sul de Curitiba, onde moravam de aluguel ou habitavam casas superlotadas. Ao contrário do que a prefeitura da Capital divulga, diz Pedro, a cidade considerada modelo hoje sofre com um alto déficit habitacional. Dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) apontam a existência de 269 áreas de ocupação irregular.
"É uma região urbana, bairros da cidade, mas que não fazem parte do planejamento urbano. Preferiu-se deixar para assentamento de trabalhadores, para o povo pobre. Até porque é uma área alagadiça".
Pedro explica que o Plano Preliminar de Urbanismo (PPU) da cidade, criado em 1965 durante a Ditadura Militar, apenas serviu para segregar a cidade, jogando as famílias mais pobres para longe do Centro e para a região metropolitana. O PPU, como é chamado, foi matriz do plano diretor na década de 70 e tinha por objetivo planejar a urbanização de Curitiba dividindo o espaço igualmente. O bairro Fazendinha foi considerado inorgânico e assim ficou de fora do planejamento para o mercado imobiliário, como tantos outros.
Ele lamenta que mais um problema social tenha sido tratado como caso de polícia. Depois de serem despejados, os sem teto passaram a noite em um abrigo, mas não tiveram nenhuma resposta da prefeitura sobre as moradias. Algumas famílias já esperam há 17 anos por um lote da Companhia de Habitação Popular, a COHAB.
"O que houve foi um discurso técnico, de que havia uma reintegração de posse e não havia o que fazer. E não houve nenhuma mediação política, no sentido de ter uma realocação ou uma suspensão momentânea do despejo, o que é possível ser feito. Não houve nenhuma articulação do governo do estado ou da prefeitura. Toda a culpa ficou para o Judiciário", diz.
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