Dados negativos da evolução da economia européia e resultados corporativos ruins desencadearam mais um dia de pânico no mercado financeiro ontem, no 79º aniversário do crash da Bolsa de Valores de Nova York. O medo agora não é apenas de recessão, mas de uma possível depressão, afirmaram economistas, sobre os números divulgados abaixo da expectativa.
A reportagem é de Renée Pereira e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 25-10-2008.
O mau humor começou com o anúncio de queda de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido no terceiro trimestre deste ano, comparado ao segundo. Foi a primeira contração da economia do país desde 1992 e a maior queda desde a apresentada no quarto trimestre de 1990. Na comparação com igual período do ano passado, o PIB do Reino Unido cresceu 0,3% no terceiro trimestre, mas foi a taxa mais fraca de expansão em 16 anos.
Junta-se a isso o fato de novas empresas terem feito alerta de lucros menores neste ano. A Peugeot-Citröen anunciou redução de 30% na produção e a Renault, de 20%. Para reforçar o clima de recessão, a Volvo, segunda maior fabricante mundial de caminhões em vendas, divulgou ontem queda de 37% no lucro líquido no terceiro trimestre e afirmou que as encomendas de caminhões diminuíram bruscamente. “A recessão já está no preço; o que o mercado teme agora é o risco de depressão”, destacou o economista do BES, Flávio Serrano.
As bolsas mundiais despencaram, com os investidores se desfazendo de ações para se refugiar em títulos americanos e moedas consideradas mais seguras. O movimento foi tão intenso no começo do dia que provocou a paralisação - pela primeira vez em cinco anos - das negociações no mercado futuro de índices de ações de Nova York, depois de o limite diário de queda ser atingido. O Dow Jones recuou 3,59% e o Nasdaq, 3,23%.
Na Europa, o desespero foi ainda maior. A Bolsa de Milão recuou 5,5%; a de Madri, 5,2%; Londres, 5%; Frankfurt, 4,96%; e Paris, 3,54%. O mercado asiático, que já havia fechado quando os dados do PIB do Reino Unido foram divulgados, fechou em forte queda por causa de alertas de lucros feitos por empresas no dia anterior, como a Sony. A bolsa do Japão caiu 9,6% e terminou no menor nível desde abril de 2003. Na Coréia do Sul, a bolsa despencou 10,6%.
Por aqui, o desempenho não foi diferente. O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) fechou em baixa de 6,91%, em 31.481 pontos - o menor nível desde 28 de novembro de 2005. Na mínima do dia, caiu 8,83%, reflexo também da forte queda no preço das commodities, explicou a economista da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro.
DÓLAR SOBE
No mercado de câmbio, nem os quatro leilões promovidos pelo Banco Central (BC) - dois de swaps e dois de venda de dólar - conseguiram contar o avanço da moeda americana. O dólar terminou o dia cotado em R$ 2,327, com alta de 0,95%.
Além das notícias no front externo, incertezas domésticas deram mais uma pitada de nervosismo aos investidores, afirmou Serrano. O Unibanco antecipou a divulgação de seu balanço referente ao terceiro trimestre. Segundo o banco, foi uma forma de esclarecer dúvidas do mercado. As ações do setor despencaram. Bradesco caiu 6,48%; Itaú, 10,11%; e Unibanco, 10,52%.
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