O democrata acredita que o Estado tem um papel na economia e que os mercados devem ser regulados. O republicano se opõe a qualquer tipo de intervenção. E as diferenças entre os dois se dão fundamentalmente ao nível da política fiscal. A reportagem está publicada no jornal argentino Clarín, 30-10-2008. A tradução é do Cepat.
“Barack Obama quer redistribuir a riqueza, eu quero criar riqueza. Ele quer castigar os que têm êxito, eu quero premiá-los. Eu quero ser presidente para que todo o mundo possa ter êxito”, disse ontem John McCain, em plena campanha eleitoral norte-americana, acusando o seu rival democrata de “socialista” e “comandante-em-chefe da redistribuição da riqueza”. E continuou sua investida: “A resposta à desaceleração econômica não é mais impostos, mas é exatamente isso que Obama vai fazer”.
O democrata não ficou atrás. “Com John McCain, a classe média verá como os ricos serão mais favorecidos que os trabalhadores, os empregos serão mandados para o exterior e o custos com saúde e educação aumentarão drasticamente”, replicou acusando o seu adversário de querer continuar com as políticas falidas de George Bush que, segundo ele, provocaram a grave crise financeira enfrentada pelos Estados Unidos. “Durante oito longos anos nosso presidente sacrificou investimentos em saúde, educação, energia e infra-estrutura no altar dos cortes em impostos para as grandes companhias e para os executivos multimilionários... foram bilhões de dólares que não tem nada a ver com o conservadorismo que prometeu com paixão”, disse Obama.
A apenas cinco dias das eleições, Obama e McCain concordam em apenas uma coisa: as divergências econômicas que têm. Com efeito, trata-se de um verdadeiro duelo entre um admirador do New Deal e um simpatizante dos chamados Chicago boys.
Diante da atual e grave crise financeira e econômica, o “Plano para resgatar a classe média” e o programa econômico que Obama promete colocar em prática se situam na tradição do New Deal, isto é, na série de medidas adotadas por Franklin D. Roosevelt durante a Grande Depressão (1933-1936) para aliviar o desemprego, reformar as práticas financeiras e a maneira de fazer negócios para conseguir reativar a economia.
Obama acredita que o Estado tem um papel na economia e que os mercados devem ser regulados. Está convencido de que uma das causas da atual crise se deve à desregulação que vem se dando nos Estados Unidos desde Reagan.
O plano econômico de McCain, pelo contrário, se situa na tradição dos Chicago boys, isto é, os seguidores do famoso professor da Universidade de Chicago, Milton Friedman.
Se bem que no começo fosse um keynesiano que apoiava o New Deal e o aumento dos impostos, em 1950 Friedman desafiou o modelo de John Keynes e se converteu num grande defensor da liberdade dos mercados e das privatizações, opondo-se a qualquer tipo de intervenção do Estado na economia e, por conseguinte, nas regulações. Friedman foi o ideólogo dos governos de Ronald Reagan e de Margareth Thatcher.
Neste contexto, as diferenças entre Obama e McCain se dão fundamentalmente ao nível da política fiscal. O republicano quer estender o corte impositivo estabelecido por Bush em 2001. Caso for eleito presidente, reduzirá, além disso, o imposto sobre os lucros das empresas de 35% para 25%. Também propõe um crédito impositivo de cinco mil dólares para que as famílias possam ter um seguro de saúde. Promete reduzir todos os gastos, exceto o militar.
Obama, por sua vez, propõe estender os cortes impositivos de Bush apenas para aqueles que ganham menos de 250.000 dólares por ano, mas anulará estes cortes no caso dos que ganham mais que essa quantia. Se bem que fará um corte impositivo aos que têm problemas com as hipotecas, aumentará os impostos sobre os lucros e os dividendos. O gasto mais importante de Obama são os 100 bilhões de dólares que pensa investir para que todos possam ter seguro médico.
Distribuição
Néstor Restivo
Um dos pais do liberalismo, David Ricardo, escreveu em carta de 1820 dirigida a Thomas Malthus que a economia política devia ser “um estudo sobre a distribuição do produto da indústria entre as classes que concorrem para a sua formação”. E acrescentava: “Não se pode associar nenhuma lei à quantidade de riqueza produzida, mas assinalar uma muito satisfatória à sua distribuição”, que – terminava dizendo – “constitui o objeto mesmo da ciência”.
Os atuais liberais como McCain gostam, ao contrário, de dizer que para distribuir – sempre uma idéia “populista – primeiro é preciso criar riqueza, algo óbvio. Mas depois, se suas políticas conseguirem que a economia cresça, mesmo de forma desequilibrada, elaboram academicamente a chamada “teoria do derrame”. Uma teoria que, com certa picardia, é chamada de “choro” em alguns países sul-americanos, mesmo que não saibam bulhufas.
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