Coluna Econômica - 29/10/2008
Um dos aspectos mais intrigantes da crise atual é adivinhar a maneira como os países se comportarão para enfrentar a crise.
As lições de 1929 estão bem assimiladas. Após a crise, os Estados Unidos, primeiro, a Inglaterra, depois, promoveram desvalorizações competitivas de suas moedas e fecharam seus mercados às importações.
Seguiu-se um efeito em cascata, com outros países adotando posturas protecionistas, ajudando a aprofundar a crise econômicas global.
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Hoje em dia, há uma doutrinação universal para prevenir fechamentos.
Agora, tem-se o seguinte quadro.
1. O melhor, para o mundo seria a coordenação geral entre países e o Brasil endossa essa posição.
2. Mas, e se as crises nacionais promoverem a competição entre nações, qual o plano B brasileiro?
3. Até que ponto o país carregará a bandeira da concertação mundial, se o mundo evoluir para bandeiras protecionistas?
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No Itamarati, considera-se que os ventos globais são favoráveis ao entendimento, mas ainda não há uma bandeira capaz de permitir a coordenação de esforços.
A reunião sul-americana de segunda-feira passada foi considerada produtiva para intercambiar informações e reforçar a convicção geral sobre a necessidade de proteger um patrimônio importante, a integração continental, já que os mercados de países desenvolvidos minguarão nos próximos anos.
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No Itamarati se admite que o aparecimento de crises nacionais poderá levar países a adotar medidas emergenciais. Mesmo assim, considera-se que nenhum país do continente está na iminência de alguma crise. As recentes medidas protecionistas da Argentina são vistas como defesa de setores historicamente defendidos.
A preocupação maior dos argentinos é com a desvalorização do real. Mas entenderam que as últimas desvalorizações decorrerem de problemas de mercado, não de um ato intencional do governo.
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Apesar dos avanços recentes, nas reuniões internacionais, admite-se que o processo diplomático ainda é muito incipiente.
Ontem, houve o primeiro esforço aparentemente bem sucedido em Washington. Depois da reunião do G7, G20 e da junta de governadores do FMI, a iniciativa de chamar os emergentes para a próxima reunião.
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A falta de propostas concretas cria incógnitas: sabe-se como as reuniões começarão, mas não se tem a menor idéia sobre como terminarão.
Muitos governos ainda não compreenderam adequadamente a extensão da crise. E o presidente francês, Nicolas Sarkozy, tem recorrido a uma boa retórica, a refundação de Breton Woods, a refundação do capitalismo, mas ainda há dúvidas sobre se conseguirá partir da retórica para propostas objetivas.
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Há um consenso sobre a necessidade de reformas, mas poucas idéias concretas. Os norte-americanos deverão propor a criação de Grupos de Trabalho para refinar mais as idéias. A reunião do próximo final de semana seria a primeira de uma série de reuniões de cúpulas. A partir daí se espera que as soluções apareçam e se consiga, de fato, refundar o capitalismo.
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