"E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música"
Friedrich Nietzsche

segunda-feira, setembro 15, 2008

A "ASSISTÊNCIA DEMOCRÁTICA" DOS ESTADOS UNIDOS

Site do Azenha - Atualizado e Publicado em 13 de setembro de 2008 às 09:28

OS MITOS DA "ASSISTÊNCIA DEMOCRÁTICA": INTERVENÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS NA EUROPA ORIENTAL PÓS-SOVIÉTICA

por Gerald Sussman

Professor de estudos urbanos e comunicações na Portland State University. Seu livro mais recente é Global Electioneering: Campaign Consulting, Communications, and Corporate Financing (Rowman & Littlefield, 2005).

Uma das mudanças notáveis no mundo da política pós-soviética é o envolvimento quase desimpedido de agentes ocidentais, consultores e instituições públicas e privadas no gerenciamento de processos nacionais eleitorais em todo o mundo -- incluindo nos ex-estados soviéticos. Quando os aparatos partidários comunistas nestes países começaram a entrar em colapso no final dos anos 80 e quase sem derramamento de sangue deram espaço a forças políticas emergentes, o Ocidente, especialmente os Estados Unidos, foram rápidos em interceder em assuntos políticos e econômicos.

Os métodos de manipular eleições estrangeiras foram modificados desde os tempos das operações da CIA, mas os objetivos gerais de intervenção imperial não mudaram. Hoje, os Estados Unidos dependem menos da CIA na maior parte dos casos e mais de iniciativas relativamente transparentes de organizações públicas e privadas como o National Endowment for Democracy (NED), a Agência para Desenvolvimento Internacional (USAID), Freedom House, Open Society (de George Soros) e uma rede de organizações políticas profissionais bem financiadas, primariamente americanas, que operam a serviço dos objetivos paralelos do estado neoliberal em política e economia. Allen Weinstein, que ajudou a estabelecer o NED, notou: "Muito do que fazemos hoje era feito pela CIA 25 anos atrás".

Entre os principais alvos do NED estão os assim chamados estados em transitoriedade que fizeram parte do bloco soviético. Tanto republicanos quanto democratas assumiram uma estratégia pós-contenção em relação à Europa Central e Oriental e mesmo um democrata "liberal" como John Kerry criticou George Bush durante a campanha de 2004 por não colocar mais dinheiro no NED. Agindo como uma organização guarda-chuva dos programas de "assistência democrática", o NED canaliza fundos aprovados pelo Congresso para dois sub-grupos, o Instituto Internacional Republicano (IRI) e o Instituto Nacional Democrático (NDI) - representando os dois partidos - assim como para o Centro Internacional da Iniciativa Privada (CIPE), ligado à Câmara de Comércio dos Estados Unidos, e o Centro Internacional para a Solidariedade do Trabalho (Centro da Solidariedade), da central sindical AFL-CIO, que se encarregam de apoiar iniciativas eleitorais e da sociedade civil em países-alvo.

Um dos líderes do Congresso por trás da criação do NED, Damte Fascell, ex-presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara, disse que o desenho institucional do NED tinha como objetivo dar a cada grupo "um pedaço da torta. Eles foram pagos. Democratas, republicanos, a câmara de comércio e os sindicatos".

Pedaço por pedaço, os experts dos Estados Unidos esperam promover líderes nos países da Europa Central e Oriental que vão abrir os bens estatais ao investimento de corporações transnacionais, ajudar a isolar ou forçar a Rússia, permitir a hegemonia militar dos Estados Unidos na região e proteger o oleoduto euro-asiático controlado pelos Estados Unidos. Rússia, Ucrânia, Geórgia, Sérvia e Bielorrússia estão entre os países da região em que consultores, pessoal diplomático, o NED e as organizações que o integram e outras agências públicas e privadas recentemente interviram em eleições nacionais.

Esses países se juntam a uma longa lista onde o dinheiro dos Estados Unidos foi usado em políticos e partidos promovidos pela Casa Branca, o Departamento de Estado e a CIA. Comparadas às formas clandestinas ou agressivas aplicadas tipicamente pela CIA do fim dos anos 40 até a metade dos anos 70, as formas correntes de manipulação eleitoral são conduzidas largamente como espetáculos de manipulação e drama moral.

Promovidas como "construção democrática", as intervenções eleitorais são criticamente importantes para os objetivos globais dos Estados Unidos, contribuindo para o planejamento corporativo e estatal de longo prazo ao solidificar ligações americanas a governos estrangeiros e para o estabelecimento de alianças econômicas e militares.

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